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Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

25
Nov21

Solução Óbvia


Pacotinhos de Noção

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Temos sido todos uns tansos e uns idiotas. Afinal a grande solução para quase todos os problemas é apenas aquela que é uma das palavras da moda e surgiu quase na mesma altura que este nosso visitante indesejado, o COVID.

A todas aquelas mulheres violadas eu gostava de dizer que lamento muito, mas só o foram por culpa vossa. Faltou-vos resiliência.

Gritaram por socorro, esbracejaram e lutaram pela vida, mas resiliência não tiveram, por isso sofreram.

Do mesmo mal sofre quem não ganha o suficiente para pagar uma renda de casa. Dinheiro há por aí, só não tem quem não quer. Para conseguir mais poder monetário no final do mês, ou mesmo no meio, se assim o entenderem, precisam apenas de resiliência.

A resiliência serve para tudo caros amigos, é um pouco como o lubrificante WD40, cujas aplicações são quase tantas quantas as receitas de bacalhau.

Queres comprar carro, mas não tens dinheiro? Resiliência.

Queres ter filhos, mas não tens suficiente contagem de espermatozoides? Resiliência é a solução e aproveita e dota também os teus espermatozoides dessa resiliência e vais ter gémeos e filhos vencedores.

A resiliência é tanta que até vem aí um Plano de Resolução e Resiliência que tornará este nosso rectângulo lusitano numa das maiores potências mundiais.

Sei que uso esta palavra ao máximo e que poderá até ferir a vista, tanta repetição, mas nunca é demais fazê-lo para que todos saibam como evoluir.

Esta fórmula deveria ter sido divulgada há mais tempo.

Marta Temido decidiu dar uma ajuda titânica aos médicos indicando-lhes o que realmente lhes faz falta. Não são condições, não são horas de descanso e aumento de efectivos, mas sim resiliência porque até hoje, dia em que Marta Temido deu a dica ideal, a maior parte dos nossos médicos não faziam mais do que andar a coçar o escroto... e até mesmo isso faziam com pouca convicção, estou em crer.

Recordo-me de toda a celeuma que há uns anos se levantou, quando Pedro Passos Coelho aconselhou a que os portugueses emigrassem para ir ganhar a vida noutros países, que lhes pudessem dar as oportunidades que Portugal não conseguia.

Uma vergonha, um ultraje, um incentivo à deserção de um país que precisava dos portugueses para se reerguer, defendiam alguns. Outros diziam ser a velha e boa falta de respeito da direita pela população e que faziam pouco caso do esforço feito por quem cá mora.

Mas vamos colocar nos pratos da balança e pesar o que será mais grave. Se incentivar a que se vá ganhar melhor no estrangeiro, visto que o próprio país não lhes consegue prover aquilo que seria justo, ou esfregar na cara dos médicos que fazem bancos de 12 horas, ou mais, que ficam imenso tempo sem conseguir conciliar os horários de forma a estar com a família, passando antes esse tempo familiar em hospitais com deficiências que não lhes permitem despenhar as suas funções conforme deveriam/mereciam, que todos estes males mencionados só acontecem porque os médicos têm pouca resiliência.

Que dizer então de um Governo que não conseguiu ver aprovado um orçamento e como consequência houve uma dissolução? O que será que faltou a esse Governo?

Aquilo que vai ficando cada vez mais explícito é o desrespeito que este Governo PS tem pelas pessoas e fica bem mais patente em alturas de crise. Aconteceu na altura dos grandes incêndios, aconteceu quando os números da pandemia estiveram descontrolados e começa a acontecer agora de novo por haver a anunciação de uma 5.ª vaga, que se quer adiar ao máximo, mas só porque em Janeiro há eleições.

Tal como Marta Temido tenho um conselho para quem me lê.

Em Janeiro, mesmo que esteja muito frio e a chover, peço-vos que tenham resiliência e que se desloquem às urnas, e que resilientemente façam uma cruz num quadradinho que não seja o do PS. Força nisso.

23
Nov21

Fernanda e o seu cancioneiro


Pacotinhos de Noção

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Ontem começaram as emissões do mais recente canal informativo em Portugal, a CNN.

Já muito se falou, já muito se brincou e já muito se comparou. Eu ainda só tive oportunidade de ver alguns minutos e, azar dos azares, foi quando Dani (ex-promessa do futebol português que passou a ex antes de concretizar a promessa) discutia futebol com José Manuel Freitas... Mais do mesmo, portanto.

Hoje a CNN continuou a ser motivo de comentários, mas não pela informação que apresentou ou pela sua grelha de programação. O motivo era o penteado da Judite de Sousa.

A minha geração não é a "woke" e irrita-me bastante toda a vitimização, falta de relativismo e ofensa fácil que estes "wokianos" gostam de propalar e, devo admitir, estava até à espera de verificar se iriam pegar em situações como a sororidade, o "body shaming" ou até esta forma de exploração da imagem feminina, usando essa mesma imagem para criticar uma jornalista já com tantos anos de carreira, gostemos nós dela ou não.

Não detectei que se tivessem abordado estes assuntos e ainda bem, confesso, não há paciência para tanta mariquice e biquinhos de pés por causa destes "wokes" e as suas redes sociais.

"Então e achas bem brincarem com o penteado/imagem da Judite de Sousa?"

Acho maravilhosamente bem. É uma figura pública, a imagem com que se brinca é aquela que ela apresentou a público, e como tal acredito que sim, que se pode brincar e até criticar. Aquilo que já não acho tão bem, são aquelas tais pessoas que defendem certos e determinados direitos e valores, mas só para alguns e em situações que lhe interessem. Isto porque uma das vozes que se fez ouvir foi a de Fernanda Câncio... Quem? Muitos conhecê-la-ão como a ex-namorada de José Sócrates que nada viu, nada soube e quando o assunto veio a lume de um modo mais assertivo, tratou de mostrar que o amor vence qualquer barreira e afirmou que "Sócrates mentiu, mentiu, mentiu e deve ser persona non grata. Mentiu até aos mais próximos levando-os a defenderem-no em público e até em privado". Se o Romeu tivesse uma destas Julietas bem que tinha batido as botas em vão... Mas voltando ao assunto em questão.

Câncio, conhecida já de outras histórias, como a de criticar Lenka e a RTP, pela exploração e objectivação do corpo feminino, ou ao se insurgir contra o modo como Dina Aguiar se despedia dos seus telespectadores com um "Até amanhã, se Deus quiser", numa televisão estatal, Estado esse que se quer laico, mas que serve uma população maioritariamente católica, veio agora fazer uma piada cheia de sororidade, no pântano que é o Twitter.

Gostava de chamar-vos à atenção de que os alvos preferidos de Fernanda são quase sempre mulheres. Curioso, não?

A piada foi muito fraquinha. Fernanda Câncio questionou porque estaria Judite de Sousa vestida de Nancy Reagan. Como disse é fraco e não ofende por aí além, até porque Nancy Reagan teve a sorte de ser a Primeira Dama de um Presidente norte-americano que por vir do mundo dos filmes ninguém esperava nada, e que aos americanos deu tudo. Deu-lhes estatuto, força económica, poder, orgulho em ser americano e ainda lhes deu uma folha de serviço imaculada, sem crimes. Muito diferente da pessoa com quem Câncio trocou juras de amor, e que muita esperança deu ao seu povo, nada de proveitoso fez, acabou por nos levar à bancarrota e o verdadeiro filme está ainda por revelar. Entre vestir-se como a Primeira Dama de um grande presidente ou a ex-namorada de um pilantra da pior espécie, quer-me parecer que Judite optou pela indumentária correcta.

Fernanda Câncio comporta-se como uma Robin dos Bosques da moral e bons costumes quando, na verdade o que gosta mesmo é da lambança e encher o papo como o Frei Tuck. Será mesmo possível que alguém com tanta perspicácia e língua viperina, ainda mais tendo formação jornalística, nunca sequer desconfiou que o menino dos seus olhos vivia acima das suas possibilidades? Que gastava dinheiro que não lhe pertenceria? 

Estas são questões bem mais pertinentes, e com resposta bem mais interessante, do que aquela que Judite de Sousa poderia dar por uma má escolha que fez, e que afinal de contas foi só de roupa, não foi de namorado. Aliás, Judite de Sousa foi casada anos com um autarca que, pelo menos até aos dias de hoje, não tem nada que se lhe aponte e que é Fernando Seara. Nem todas podem dizer o mesmo, não é?

Concluindo e falando uma vez mais na CNN.

Depois de um dia de emissão houve já despedimentos, o que para mim é escandaloso. Mandaram para rua quem penteou a Judite de Sousa, e percebe-se muito bem porquê. Mas que cabelo era aquele?

22
Nov21

Hoje sinto-me um imbecil


Pacotinhos de Noção

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Quem me lê há-de ter reparado que super e hipermercados são microcosmos que frequentemente utilizo para mostrar exemplos da quão ranhosa é esta nossa sociedade. Isto acontece por estas superfícies serem frequentadas por toda a categoria de gente. Mesmo o mais eremita precisa de mantimentos e é lá que se abastecerá.

Hoje desloquei-me a uma loja Minipreço e a cena com que lá me deparei abalou as minhas convicções. Agora, algumas horas passadas, tenho o discernimento para perceber que a unidade não é um todo, mas no imediato da situação não é com essa a sensação com que se fica.

Defendo que Portugal não é um país racista. Tem, como todos os países terão, elementos medíocres que por serem tão barulhentos até podem parecer que são muitos, mas a verdade é que não são. Mas quando atacam, ao atacado dói tanto como se fossem mais, e o que realmente interessa é isso. Vamos então ao relato da situação.

Entrando no supermercado que referi, ouço uma senhora a falar alto com a menina da caixa, que por acaso é brasileira. Não sei qual seria o motivo nem quem ali tinha a razão, mas sei quem rapidamente a perdeu.

O primeiro argumento que me acertou como um murro no estômago foi o bom e velho — "mas você não sabe que o cliente tem sempre razão?" — a resposta foi um educado -"talvez na sua perspectiva, mas na minha não". Como as pessoas que gostam de falar alto não lidam bem com quem lhes responde baixo e com educação, aproveitam logo para mostrar o jogo todo pondo as cartas na mesa, e o trunfo jogado foi lançado todinho de uma vez. Parecia uma avalanche de idiotice, estupidez e trampa que a tal senhora vomitou, e esta porcaria toda, para mim que nem tinha nada que ver com o assunto, em vez de voltar-me a acertar no estômago, acertou-me com toda a força nas trombas deixando-me até sem reacção. Esta senhora, a quem agora faço questão de apelidar de vaca, virou-se para a rapariga e metralhou-a com -"mas quem julga você que é? Vem para o país dos outros a dar ares de quem manda? Vá, mas é para a sua terra"...

O "vá, mas é para a sua terra" tem em mim o mesmo efeito que ver um animal atropelado na estrada. Sabemos que acontece, ocasionalmente vemos um, mas sempre que por ele passo, até sinto um arrepio na espinha.

Agora sei que deveria ter intervindo. Deveria ter chamado à atenção aquele saco de estrume e disponibilizar-me para servir de testemunha à funcionária ofendida. Não o fiz e sinto-me um imbecil por isso. 

Nesta situação não deveria ter tido pudores de ter sido até deselegante com tão desprezível pessoa, mas de facto não tive reacção. Reacção teve a ofendida que se retirou e foi-se fechar no W.C. a chorar. Estou certo que o fez não só pela ofensa mas também por não ter tido quem a defendesse e até por se ter sentido traída por colegas que não tomaram as suas dores, apenas porque ficaram com receio da cliente. Percebo que o nervoso tenha-lhes toldado o discernimento. Se me aconteceu e não era nada comigo, imagino como terá sido difícil para eles engolir esta ofensa. Até porque também eles são brasileiros.

Aquilo que posso apenas dizer é que me sinto envergonhado.

Sinto-me envergonhado por assistir a isto e não ter reagido. Não vou aqui afirmar que "sou isto e aquilo" e "que faço e aconteço", mas hoje podia ter sido só um bocadinho "daquilo" para fazer "acontecer" e o acontecer aqui até podia ter trazido o bónus de ter feito uma "tuguinha" ranhosa sentir-se humilhada por ser chamada à atenção por outro "tuguinha", que foi ranhoso por não intervir. E ser "tuguinha" é isto... É muito provavelmente ter familiares a trabalhar no estrangeiro, é afirmar que já se sofreu de preconceito por um ou outro motivo, é sublinhar que quanto mais conhece as pessoas mais gosta de animais, mas que mal tem a sua oportunidadezinha de espezinhar alguém não hesita e fá-lo com os dois pés, e até com botas da tropa, para saber que calcou bem e sentir orgulho numa nação que trata assim quem nela mora. Mas mais uma vez afirmo, e não me deixo ir ao engano, por assistir a este triste espectáculo não mudo a minha opinião. Não somos um povo racista, mas temos por cá muita porcaria, que curiosamente até por cá nasceu.

21
Nov21

Décadas para construir, 3 horas para destruir


Pacotinhos de Noção

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ATENÇÃO: Este post tem spoiler forte. Daquele spoiler tão spoiler que foi o que originou a que inventassem a palavra spoiler

Vi este fim de semana o último filme da série do espião James Bond, o "007: Sem Tempo Para Morrer".

Foram quase 3 horas de filme que conseguiram destruir aquilo que levou anos a construir. Desde 1962 que foi construída uma personagem que se poderia considerar perfeita. Tão perfeita que conseguiu resistir ao facto de nestes anos todos ter tido 6 actores diferentes a interpretarem-no. Para mim o verdadeiro James Bond será sempre Sean Connery mas também gostei bastante de Roger Moore e Pierce Brosnan.

Daniel Craig acabou por não me convencer mas também não teve a tarefa facilitada, pois prejudicou-o o facto dos directores começarem a tentar inventar formas de transformar o espião num tipo mais humano e com sentimentos, envolvendo-o em casos amorosos mais pessoais e que lhe toldariam o discernimento, e apostando também na fórmula das conspirações que viriam de dentro da própria organização, MI6.

Neste "Sem Tempo Para Morrer", o director Cary Fukunaga, utilizando um termo mais técnico, inventou para caraças. Foi buscar personagens de filmes anteriores (é moda agora, talvez fruto da falta de imaginação) e vestiu James Bond com uma roupagem ainda mais sensível e familiar, fazendo com que o espião, depois de quase 80 anos de envolvimentos amorosos, muitas vezes mais do que um por filme, engravidasse o elemento feminino da trama para ser depois pai de uma menina.

Nunca se vira um James Bond com lágrimas nos olhos nem um que tivesse a tentação de dar uma seca de valores morais ao vilão.

Este filme do 007 poderia ser confundido com outro qualquer filme de acção. Não se destaca por nenhuma sequência em especial e está demasiado recheado de tiros para lado nenhum, contra capangas do vilão que nem se chegam a ver. 

Os "clichés" da sociedade actual estão lá todos. O empoderamento da mulher, um Q que nunca mostrou ser homossexual, mas que neste filme prepara um jantar para um suposto namorado, e a destruição do estigma racial quando colocam uma personagem feminina negra, como uma nova 007 que tem o poder de actuação e o carisma de uma couve-de-bruxelas.

De sublinhar a frase foleira — "Que horas são? Horas de morrer." — quando esta personagem mata um cientista que, de forma despropositada no contexto do filme, afirma que lhe seria muito fácil destruir todos os elementos da etnia dessa personagem.

Mas para terminar em grande, o que Cary Fukunaga decidiu fazer para vincar o seu nome na história dos filmes do James Bond? Decidiu matar o espião inglês.

Visto que James Bond foi infectado por um vírus que não lhe permitia ter contacto com a mulher e com a filha, e Daniel Craig decidiu que este seria o seu último filme como funcionário do MI6, o director não se sentiu com coragem para fazer a personagem ser alterada de fininho, como se fez das outras vezes, e acabou por matar o espião numa explosão sem hipóteses de fuga.

A ideia com que fica é que estarão, de facto, a preparar o terreno para romperem com a totalidade da génese de 007, inventando ou um 007 negro, ou um 007 feminino, ou um que una ambos.

Virá mal algum ao Mundo? Vir não vem, mas fico a aguardar uma Branca de Neve sem os 7 anões, uma Gata Borralheira que seja afinal um gato e uma Bela Adormecida que seja feia que nem um carapau.

O mal que vem ao Mundo é que a personagem não foi feita desta forma sendo desvirtuar aquilo que foi inventado.

O facto de ser uma personagem negra nem me incomoda, porque de facto o ser caucasiano não altera a essência da personagem, mas o ser mulher... E quem quiser ver aqui um acto de sexismo da minha parte poderá fazê-lo à vontade, assim fica mais fácil para mim, verificar quem realmente pensa ou quem se deixa apenas guiar pelas modas ridículas da sociedade. Não é assim que se atingem igualdades, apagando tudo aquilo que já existia. Faz lembrar as queimas de livros que os nazis tanto gostavam de fazer.

Em relação ao filme... Sempre quero ver o que para aí vem. Para 007 foi injusto este desfecho e também o foi para Daniel Craig, que acabou desta forma por sair pela porta pequena. Vários actores tiveram dificuldade em se descolar da personagem do James Bond, Daniel Craig não nos sairá da memória como o 007 que morreu e poderá ter iniciado o declínio de uma personagem com tanta história.

20
Nov21

Morte Laboralmente Assistida


Pacotinhos de Noção

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Recentemente voltou a ser aprovada no parlamento a lei da morte medicamente assistida, vulgarmente conhecida como eutanásia. Gostaria de sublinhar que houve votos contra e votos a favor tanto no PS como no PSD, o que significa que não houve instrumentalização dos deputados e cada um votou com a sua consciência. Deveria ser sempre desta forma, isso sim, é viver em democracia e saber representar quem neles votou.

Mas embora esta introdução possa levar ao engano, não é acerca deste assunto que quero falar. Venho, isso sim, falar acerca da morte laboralmente assistida que, caso não tenham ainda percebido, é um processo em qual todos nós estamos inseridos. É certo que há alguns que lhe conseguiram escapar, mas nem sabiam ao que fugiam.

A morte laboralmente assistida não é algo que aconteça do dia para a noite. Leva anos, leva muita paciência e é um estratagema muito bem montado.

A finalidade é a de poupar recursos ao Estado. Aos olhos de alguns isto poderá ser apenas uma teoria da conspiração, mas sugiro que continuem a ler e no fim logo me dirão se concordam ou não.

O estratagema consiste em colocar as pessoas numa azáfama diária, no percurso casa->trabalho, trabalho->casa. Poderão perder parte da vida em transportes públicos, que de ano para ano se vai prometendo que serão melhores, mas que nunca é aquilo que testemunhamos. Quem quiser fugir a este suplício poderá ir para o trabalho em transporte próprio, mas também sofrerá no trânsito, sofrerá nos valores que terá que pagar de combustível e sofrerá para encontrar estacionamento.

No trabalho estará sobre constante stress. Ou por os prazos serem curtos, ou, porque a empresa está em risco de fechar, ou simplesmente por o patrão ser uma besta e gostar de chatear.

No fim de um dia de trabalho há que passar por uma superfície comercial, para fazer as compras do dia. Mais stress, mais preocupações porque os produtos só aumentam e qualquer dia mais vale comer areia da praia. Temos a ideia de que queremos comprar biológico porque supostamente é mais saudável, mas a ideia vai por água abaixo. Os preços são proibitivos por isso comemos um bocadinho menos saudável. Pode ser que nem faça mal. Podíamos comprar legumes à D.Augusta que até tem uma horta, e mais biológico seria difícil, mas ela deixou de vender para fora quando a câmara a multou porque não tinha licença.

Chegando a casa vemos um monte de contas para pagar. A luz, o gás e a água aumentaram. Os miúdos não param de crescer e precisam de roupa nova. Fomos à Primark, mas o barato sai caro e vestir a roupa lá comprada parece mais que é uma promessa ou é um castigo. Por muito que se procure não se encontra nada de jeito e aquelas cuecas que lá se comprou causam uma micose que até apetece cortar os...

Da escola disseram que as refeições também aumentaram. Já perguntámos se as crianças poderiam levar comida de casa num cestinho, como antigamente, mas disseram que não. Logisticamente é difícil e não é inclusivo para as crianças, que se poderão sentir à parte e com traumas... Mas estou a desviar-me do assunto principal. Os dias, as semanas e os anos vão passando e tudo vai permanecendo sempre igual. Uma ou outra melhora, outras pioram, mas quase nada muda. O desgaste vai-se sentido cada vez mais. Temos férias que vamos gozando mas também se pagam caro, e se não for caro é a crédito, o que é ainda mais caro.

Os miúdos são graúdos, já saíram da Universidade que custou os olhos da cara. Custou os da cara porque conseguiram entrar na pública, se fosse na privada custariam outros mais.

Estão com 30 anos e não desamparam a loja. São formados e orgulham-se de ser de uma geração das mais instruídas, mas isso de pouco vale porque a instrução não lhe deu emprego e os pais, pouco instruídos, são quem os continua a sustentar porque embora velhos ainda vão conseguindo manter o trabalho que tinham. Mesmo quando os filhos arranjam trabalho continuam a ser um peso para os pais, porque querem comprar casa e dava jeito uma ajudinha. As poucas poupanças que se foram amealhando acabam aplicadas no futuro daqueles que pode ser que ainda o tenham.

Mas não faz mal, daqui a dois anos chega a reforma, e embora não seja muita finalmente vamos poder ter um bocadinho de tempo para nós e descansar, ler uns livros, brincar com os netos e fazer aquilo que durante décadas não foi possível fazer, porque estávamos naquela correria louca. VIVA A REFORMA!

Só que, entretanto morremos. Sim, morremos porque a reforma aqui é aos 66 anos e 6 meses, e com uma vida de stress, de luta para saber como pagar as contas, num país em que quase tudo é complicado, a corda teria que rebentar, e aos 66 anos o lado mais frágil da corda é aquele que nos prende à vida. Isto, meus amigos, é a morte laboralmente assistida. É fazer-nos trabalhar cada vez até mais tarde porque desta forma morremos antes de conseguir sequer gozar um mês de reforma.

Pensem em exemplos próximos e com consciência. Quantas pessoas conheceram que morreram enquanto ainda trabalhavam ou que morreram logo após se reformarem?

Alguns vão romantizar dizendo que morreu logo após deixar de trabalhar porque era o trabalho que lhe dava alento... Até concordo, se for um artista plástico, um actor ou um músico. Mas eu, que sou menos romântico nesse sentido, digo-vos que até estes artistas mencionados, só trabalham até onde podem, porque nem à reforma têm direito, ou quando têm é também miserável.

A morte laboralmente assistida existe. Não está consagrada em nenhuma constituição nem foi votada no parlamento, mas é uma espada sobre a nossa cabeça e não lhe podemos fugir.

Sempre ouvi que quando chegar a altura não vou ter reforma. Quando era miúdo pensava ser treta e agora tenho a certeza que não o é porque, na verdade quando eu chegar à idade da reforma a reforma é que já não me vai ter a mim, porque provavelmente já estiquei o pernil.

17
Nov21

Em Portugal faz-se mais "cock" se pensa


Pacotinhos de Noção

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Trevor Noah, apresentador do "The Daily Show", ousou fazer uma piada com Portugal. Nem sabe bem com quem se veio meter.

Vou citar o jornal "O Público" que escreveu:

"O apresentador do The Daily Show brincou com uma lei laboral portuguesa e insinuou que uma quebra na produção nacional em nada influenciaria o resto do mundo. Mas os utilizadores do Twitter não se ficaram: pastéis de nata, cortiça, vinho e “caralhos” das Caldas foram apenas alguns exemplos."

Neste excerto vemos que o português produz algumas coisas mas aquela que mais produz está explícita mas não referenciada e que é a grande capacidade de produzirem ondas de indignação.

Gerou-se uma grande onda de indignação para com Trevor Noah por ter afirmado que Portugal não produzia nada que fosse de relevo, mas isto mostra a ignorância e falta de informação do apresentador e é por isso que o título tem lá um "cock", que em inglês não é, nada mais, nada menos, do que pila, pila essa que a alguém há-de chamar a atenção e que poderá gerar também uma onda de indignação... Vá, uma onda não vai gerar porque não tenho tanta expansão, mas pode gerar uns tremeliques neste mar de indignados. E é isto mesmo que o nosso país lusitano se habituou a produzir. Chatos, indignados, pessoas que para mais nada servem do que "chagar" a cabeça a coitados como o Trevor Noah, que ignorava esta nossa faceta, e temendo a indignação dos portugueses, para se redimir já veio a público dizer... Nada. Rigorosamente nada, porque por mais que o povo português viva na ilusão de que apita alguma coisa, e goste de fazer barulho, este é um barulho tão pequenininho que do outro lado do oceano ninguém vai ligar.

A força dos portugueses de cancelarem alguém resume-se a alguém que esteja dentro dos limites do nosso quintal e que não tenha as "balls" no sítio para mandar o pessoal mandar uma volta ao bilhar grande.

Acabo quase sempre por voltar ao mesmo, mas estamos transformados num país que é um pãozinho sem sal, ou uma água de salsicha, como dizem os brasileiros (que nestas definições são bem melhores que nós), e que define bem pois a água de salsicha não tempera, não serve de alimento e não é para aproveitar. Está lá apenas para manter a salsicha e para encher a lata.

Este fenómeno não é só nosso. Esta mariquice do pensar 50 vezes antes de falar, não com medo de dizer algo que não deva, mas antes com medo de dizer algo assertivo que possa raspar, mesmo que minimamente, a falsa dignidade de alguém, está a acontecer um pouco pelo Mundo todo, mas quando ao resto do Mundo pouco me ralo, porque é aqui que eu vivo.

Tenho que ser sincero, acho uma certa piada quando alguém lá de fora nos aponta a nossa pequenez. Não porque goste da nossa mediocridade, mas porque acho piada a tantas notícias, quer na televisão, quer nos jornais, com o melhor bolo de chocolate do Mundo, as melhores empresas Unicórnios e aposto até que todos vós já viram coisas como "Estas são as melhores praias do Mundo e Portugal tem duas na lista", mas depois, na prática somos aqueles pequeninos de sempre que nos queremos montar nas cavalitas do Cristiano Ronaldo para mostrar o quão magnífico são os descendentes do Afonso, que no meio de tantas conquistas só nos orgulhamos que tenha batido na mãe, quando aquela característica diferenciadora do CR7, que todos os treinadores lhe apontam, é uma que falta à grande generalidade dos portugueses. O empenho e o foco do jogador na parte chata que é o treino, sendo o primeiro a chegar e o último a sair porque quer treinar sempre mais e mais, não porque goste, mas porque é o seu trabalho e quer continuar a tentar ser o melhor... Ora se aqui na velha Portugália, uma Maria Mijona que tire fotocópias não despeja um caixote de lixo porque não faz parte das suas funções, como é que podemos dizer que Portugal produz Cristianos Ronaldos?

Produz mas é o caraças.

Produzimos a indignação que mostramos quando nos criticam, produzimos barulho quando nos queixamos e produzimos calo no rabo, como os babuínos, por estarmos sempre alapados à espera que as coisas se produzam sozinhas e com qualidade.

16
Nov21

Pantomineira do PAN


Pacotinhos de Noção

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Para se ser moralista é preciso ter imensa moral, para se ser deputada do PAN há que ter um misto de moral e falta de vergonha na cara.

Inês Sousa Real, deputada do PAN, que se bate bravamente contra a agricultura intensiva, o uso de plásticos nas produções horticulas e fruticulas, e também pela produção local, quase que conseguiu fazer bingo ao acertar ao lado, em grande parte das coisas que defende.

Veio a saber-se que a deputada, e o seu marido, foram donos de duas explorações agrícolas de frutos vermelhos que são pouco amigas do ambiente, utilizam pesticidas, plástico nas embalagens, practicam agricultura intensiva e o principal alvo de negócio é a exportação, quando o PAN defende ferozmente o negócio local. 

Atenção, eu escrevi "foram" porque de facto a deputada já não é a dona deste negócio desde 2013, e foi isso que serviu como justificação.

Uma justificação que demonstra ainda mais a hipocrisia, e até a muita falta de carácter, quando se verifica que Inês deixou de ser dona da empresa apenas porque fez uma cedência de quotas, e estaria tudo muito bem se a dita cuja cedência não tivesse sido feita à própria sogra, o que significa que nos dias de hoje a líder parlamentar do PAN, continua ligada às empresas.

Bonito isto, não é? É o tão bom e interessante "Chico Espertismo".

O verdadeiro problema de se ser tão extremista é esta incongruência.

Qual o fundamento de se ter tão extremo, quando defendemos determinados ideais que devem ser impostos a outros, mas que quando deveriam ser impostos a nós então deixam de fazer sentido? Será este apenas mais um caso de "em casa de ferreiro espeto de pau" ou um simples querer "sol na eira e chuva no nabal"?

Não temos aqui um caso de corrupção, de branqueamento de capitais ou de enriquecimento ilícito. Não temos um crime de lesa - pátria, e se colocarmos a mão na consciência a gravidade deste caso é apenas relativa. 

Era pior se esta pessoa tivesse na sua luta a defesa pelos animais mas depois, nas férias de Agosto, abandonasse o seu cão apenas porque não lhe dava jeito levá-lo consigo. Há muita gente que faz este gesto, infelizmente, mas pelo que se sabe, e até agora não sairam notícias que nos fizessem acreditar no contrário, nenhuma amora, framboesa ou mirtilo foram abandonados à sua sorte, e por essa razão está tudo bem, ficando eu mais descansado.

Por fim gostava só de referir que afinal Portugal não é um jardim à beira mar plantado mas sim um pomar, e um pomar com tantas tentações como o de Adão e Eva e aos quais há muitos a não resitir.

Só assim de repente lembro-me de 3 casos envolvendo frutas.

Este, o da Margarida Martins e os famosos casos da fruta, imputados ao FC do Porto.

Uma coisa é certa, de falta de vitaminas ninguém se pode queixar.

 

 

 

12
Nov21

Quantos são?


Pacotinhos de Noção

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Agora sim, a coisa pia mais fino.

O líder do quase extinto CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, mostra a verdadeira razão porque é um Chicão e não um Chiquinho, ou um Chiclete.

Chiclete não é, porque essa a gente "mastiga e deita fora", e deitá-lo fora é coisa que não parece que vá ser assim tão fácil a Nuno Melo. Só se for deitado fora quando levantarem a mesa, e ao sacudirem aquela toalha velha, gasta e cheia de buracos que é o CDS, o líder vá por lá esquecido no meio, como se fosse a rolha de cortiça daquele vinho fraquinho que já se bebeu, mas que acabou e ninguém mais quer repetir.

Chiquinho também não é porque andou no Colégio Militar desde os 10 anos, o que fez dele o equivalente a um Rambo. Um Rambo do Restelo ou Alvalade, é certo, mas ainda assim um Rambo.

Que o Colégio Militar é um portento a criar homens valentões é um facto. Assim de repente, alguém que me lembro que também é um pupilo do mesmo colégio, e por isso um perigo para se andar à batatada, é o Rui Santos. Sim, esse mesmo, o do futebol. É outro que parece um totó, mas se lhe chega a mostarda ao nariz... Cuidado, é capaz até de vos chamar energúmenos.

Chicão, assim todo eriçado e rabugento sem medo de ninguém, fez-me lembrar o Valentão Loureiro, um boneco do Contra-Informação e que era a caricatura do Major Valentim Loureiro, cujo jargão era "Quantos são, quantos são? Não tenho medo de ninguém." O líder do CDS também não sabe ao certo quantos são, mas sabe que não são muitos, porque foram abalando do partido, mas achei piada a esta caricatura que o próprio criou de si e até penso que o José de Pina, conhecido guionista do Contra, devia reunir os colegas e começar mais uma série do programa. Esta personagem pelo menos já está criada, a única coisa que poderá dar mais trabalho é a questão do nome, até porque Chicão já é nome de boneco articulado e por isso usá-lo na mesma seria falta de originalidade.

Mas não desesperem porque tenho uma sugestão. Sugiro que o boneco se chame Chicuzão. É um nome caricato e adapta-se bem ao visado, porque só mesmo sendo um grande cuzão é que conseguiria fazer a maior parte dos militantes do antigo partido de Paulo Portas, baterem com a porta.

Este trecho da entrevista do Observador, em que vimos Chicão em acção, tem apenas alguns segundos, mas é uma montanha-russa de emoções.

Há a indignação de lhe perguntarem se tem medo, há a raiva crescente ao longo da resposta, e depois há a birra que o entrevistado faz quase questão de fazer. Com atenção até quase que vemos lágrimas nos olhos do Rambo Chicão, e um certo beicinho, que ele conseguiu controlar com o "Por amor de Deus", com que acaba o pouco que se viu.

Quanto ao percurso militar de Francisco Rodrigues dos Santos... Aos 10 anos ingressou no Colégio Militar e depois, talvez aos 17/18 anos, foi para a frente de combate, nessa Guerra malvada que é a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Muitas vidas lá se perderam. Se por noitadas ou festas académicas não interessa, mas perderam.

Quem se riu muito com o "percurso militar" de Chicão foram pessoas, como, por exemplo, o General Ramalho Eanes.

Peço desculpa, aqui estou claramente a mentir, porque todas as pessoas sabem que o General não ri. Não é por mal, apenas não sabe como se faz, mas se soubesse riria com gosto, certamente.

10
Nov21

Sobre Mário Machado


Pacotinhos de Noção

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1997 — Condenado a uma pena de quatro anos e três meses de prisão por envolvimento na morte de Alcindo Monteiro.

2007 — Condenado a 10 meses de prisão por posse ilegal de arma e posse de arma proibida. (Pena suspensa)

2008 — Condenado a quatro anos e dez meses de prisão por crimes iguais aos de 2007.

2009 — Condenado a sete anos e dois meses de prisão por crimes de sequestro, roubo e coação.

Em 2012 o Tribunal Criminal de Loures junta as penas todas e fixa em 10 anos a pena de Mário Machado.

2016 — Condenado a mais 2 anos e 9 meses de prisão pelo crime de tentativa de extorsão agravada, mesmo estando detido.

2017 — Já liberto volta a ser preso na Suécia por participar em manifestações de extrema-direita. Esteve em liberdade condicional até 21 de Novembro de 2020. Ainda assim participou em confrontos violentos com grupos rivais.

 

Matemática nunca foi o meu forte, mas sendo ele condenado a 10 anos, em 2012, por cúmulo jurídico, o que significa que deveria ficar preso ainda mais anos, não deveria sair só em 2022. Bem sei que poderá ter benesses por bom comportamento, mas se foi condenado por crimes cometidos na cadeia, a teoria do bom comportamento não cai por terra?

A cadeia deveria, mas não serve de reabilitação a ninguém. Este indivíduo ainda aproveitou o tempo "na gaiola" para tirar o curso de Direito. Tem 3 filhos, porque infelizmente ainda é permitido procriar, por mais idiota que se seja.

Tem um canal de YouTube onde, como de um cancro se tratasse, espalha aos 4 ventos o excremento que expele pela boca.

Foi preso, mas sabemos que hoje, amanhã o mais tardar, já estará cá fora.

Crítico os que criticaram o Manuel Luís Goucha por ele entrevistar este biltre no seu programa. Penso que fez bem e que todos os programas deveriam convidar esta besta para que toda a população tirasse bem as medidas a este tipo, para terem a oportunidade de atravessar para o outro lado da rua evitando assim terem o desprazer de se cruzar com ele, pondo até em risco o seu bem-estar, caso se incluam no espectro lato de vítimas que Mário Machado gosta de colecionar.

Somos um jardim à beira-mar plantado, mas todos os jardins têm as suas ervas daninhas. São pessoas destas que fazem do Mundo um lugar bem pior para se viver, sejamos nós potenciais vítimas ou apenas pessoas com massa cinzenta o suficiente para não conseguir perceber como são os ciganos perseguidos nas feiras por venderem contrafacção, indo alguns até passar temporadas à cadeia, e depois termos um elemento destes que já mostrou que viva quantos anos viver a sua índole será sempre a pior possível.

 Já que ele gosta tanto do Salazar e do Estado Novo, era muito bem apostado que para este tipo, o Estado tivesse laivos de ditadura, metia-o numa cela e deitava a chave fora.

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