Nem bom nem mau, antes pelo contrário
Pacotinhos de Noção
Já li várias críticas ao filme Don't Look Up. Umas eram muito favoráveis, afirmando ser um filme espectacular, e outras eram não tão favoráveis, dizendo que de comédia tinha pouco, e que era uma desgraça.
Agora a opinião que conta, a minha.
Primeiro devo dizer que é um filme Netflix, e logo aí a minha expectativa fica em níveis muito baixos. Isto não é preconceito, é apenas constatação de um facto.
A empresa lança filmes em catadupa, e como qualquer indústria que visa a quantidade, na maior parte das vezes a qualidade fica muito aquém.
Podem argumentar que todos os grandes artistas estão na Netflix. Claro que estão. Pagando o preço que eles querem, até filmes de Bollywood faziam.
Se as lojas dos chineses pagassem bem por publicidade, também não seriam lojas dos chineses, seriam o El Corte Inglês.
Este filme não vale pela história, pela comicidade, nem pelo desempenho dos actores, que tem em DiCaprio a estrela da companhia. Don't Look Up tem na sátira e na crítica social e política, a sua arma diferenciadora.
Gostaria que transportassem as jogadas políticas, existentes no filme, para a realidade portuguesa e vão perceber o paralelismo que se vislumbra com o que agora se passa com o nosso destituído Governo.
As eleições estão à porta e agora a luta contra a Covid não é uma luta contra o vírus e sim uma pura demonstração de marketing político populista.
As medidas implementadas são como o enorme braço de um pai ausente, que só passa pelos ombros do filho, quando lhe quer pedir que vá ao frigorífico buscar uma cerveja e lhe pede que se mantenha caladinho, para o pai poder ver a bola. É como aquele pavão vaidoso, que não serve para nada, mas que para se fazer notar abre aquele leque grande e colorido.
As jogadas políticas que vemos no filme não foram inventadas para nos entreter. Aliás, no início do filme deveriam ter escrito um pequeno prólogo a informar que "ESTE FILME É BASEADO EM RASTEIRAS POLÍTICAS REAIS".
Temos também todos aqueles estereótipos dos jornalistas bacocos que nada levam a sério. Há uns anos não teríamos como identificar estes "jornalistas", mas agora basta ligar a televisão na TVI, logo de manhãzinha e ver o que por lá se passa. Risinhos amarelos e piadas sem graça nenhuma, mas que geram gargalhadas estéreis, necessárias para que em casa pensem no quão hilariante está a ser a manhã, num programa que, para os velhotes, sempre foi uma pasmaceira, porque eram blocos noticiosos onde teimavam em dar notícias.
Temos a crítica ao tipo de esquerda, que venera a bíblia, e até temos a crítica ao pessoal contra o glúten, a carne e a lactose.
É um filme que por um lado me agrada, por criticar coisas que estão cada vez mais enraizadas na sociedade e que me incomodam, mas por outro lado, também me desagrada, e exactamente pelo mesmo motivo.
Não vou contar o final, mas posso dizer que o resultado é a consequência do pouco caso feito acerca da descoberta efetuada pelos cientistas, interpretados por Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence, e também aqui
existe uma crítica ao facto de estarmos tão centrados no "eu" e no "meu" e tudo o que esteja à volta é apenas poeira.
Querem uma comédia para rir que nem uns doidos? Então esqueçam, este não é o filme.
Querem um filme com diálogos profundos e espectaculares? Também não é este filme.
Conta com boas atuações, mas nada que chegue para ser sequer apontado a prémios de cinema ou algo que se pareça.
É um filme inteligente, que nos faz pensar e comparar com a realidade do dia-a-dia. Vai mudar mentalidades? Dificilmente, mas pode ser que limpe alguma névoa mental.