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Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

27
Out22

Gipsy Things


Pacotinhos de Noção

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É comum vermos André Ventura insurgir-se contra os ciganos. Não romantizo a etnia e admito que a sua marginalização, face à sociedade, muitas das vezes imposta por eles mesmo, serve de desculpa fácil para poderem ser catalogados como bandidos.

Muitas das suas tradições não fazem o menor sentido, e existem algumas até bizarras, como a de prometer crianças em casamento a homens já adultos. Para mim não há tradições que possam ter mais peso do que a lei e a justiça, e às vezes é o que parece que acontece.

Dito isto, gostaria de dar o meu testemunho pessoal, relativo ao contacto mais recente que tenho com pessoas (crianças) ciganas.

Na escolinha do meu filho existe uma comunidade cigana com bastante relevância. Na turma do meu filho existem alguns ciganos, e de há uns dias para cá têm havido problemas.

Pois é, senti deste lado os pensamentos preconceituosos de algumas pessoas, mas têm que me deixar acabar.

Os problemas não são provocados por nenhum destes meninos ciganos, os problemas vêm de um menino rico, netinho de uma das professoras. Não interessa o que ele faz ou deixa de fazer, não vem ao caso, o que interessa é que sei que mesmo que cresça como um bandidozinho, uma vez que é loirinho, e de famílias com posses, nunca ouviremos o retardado do André Ventura a insurgir-se ou recriminar.

Existem problemas nas comunidades ciganas? Existem, com certeza, mas também existem problemas mentais nos militantes do CHEGA, e ninguém os interna.

Era só isto.

22
Out22

"Bullying" encadernado


Pacotinhos de Noção

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Nas escolas, e jardins de infância, do concelho de Cascais, têm sido distribuídos uns livrinhos com o intuito de fazer perceber às crianças que o consumo de açúcares traz malefícios para o corpo.

Até aqui tudo muito bem… Quer dizer, mais ou menos bem. O açúcar EM EXCESSO traz malefícios para o corpo, assim como tudo. Sei de um tipo que se envenenou a comer cenouras. De tanto as comer ficou com carotenemia, o que prova que tudo em excesso faz mal. Se proibirmos totalmente o açúcar, acaba por acontecer como com o sal, em que ao ser cortado em quase todos os alimentos, no pão inclusivamente, cria com que se desenvolvam carências que tem depois  que ser combatidas. Algo preocupante é a carência de iodo, por parte das grávidas. O sal que consumimos é iodado, mas havendo um corte no consumo do mesmo, o iodo que devia ser ingerido não o é, e a falta de iodo em grávidas pode originar uma má formação do feto, a nível cerebral e motor, e mesmo que o bebé nasça, poderá ter o seu futuro condicionado, pois a falta de iodo no bebé, é dificilmente revertida, criando dificuldades de aprendizagem na criança, por exemplo. Mas nem é sobre este assunto que vos quero falar. Voltemos então aos tais livrinhos que diabolizam o açúcar.

Ao folhearmos o compêndio, temos receitas sem açúcar, a quantidade de açúcar em determinados alimentos, mas temos também algumas personagens criadas por quem idealizou o livro.

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Temos um rapaz maravilha, que não come açúcar, temos um tipo de bigodes, que é "O Inspector do açúcar, um "bufo" da doçaria, temos uma "Rainha do Lanche", e temos ainda mais uma personagem que difere de todas as outras.

Os três primeiros que referi são perfeitos e maravilhosos, são elementos que queremos na nossa sociedade e que gostaríamos até de ser. Não há nada a apontar-lhes.

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Todas as histórias têm os seus vilões e nesta poderíamos julgar ser só o açúcar, mas não. A última personagem é alguém pérfido, hediondo, miserável. É alguém que seriamos capaz de utilizar como forma de ameaça aos nossos filhos, caso não comam a sopa ou queiram um chocolate. Se eles insistissem nas suas vontades, não hesitaríamos em dizer: "Se comes esse chocolate vais-te transformar no "Bolachudo Preguiçoso"! Exactamente, é esta a última personagem. Um tipo gordo que, por ter massa adiposa a mais, é apelidado de "bolachudo", de "preguiçoso" e como tal pode ser estigmatizado.

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Numa altura em que utilizar palavras como preto ou maricas, em contextos que não tenham nada a ver com raciais ou sexuais, é visto com maus olhos pela sociedade, levando até a cancelamentos, não consigo perceber  como é admissível que a simples característica física de determinada pessoa possa defini-la como sendo "preguiçoso"?

E se para as mulheres "o meu corpo, as minhas escolhas", por que motivo é que "o meu corpo, as minhas escolhas", não pode ser para qualquer um que queira comer o que lhe convir.

Todos os dias tenho que levar com vários tipos que fumam erva, charros, seja o que for. O cheiro daquela trampa incomoda-me, mas, pelos vistos, é só a mim, pois não vejo muitas pessoas com ar de incomodados, porque ao que parece cada vez vai sendo mais bem aceite o consumo de drogas leves em qualquer lado. É mais bem aceite ver um puto de 16 anos a fumar um charro, do que um, que seja gordinho, a comer um Big Mac.

Senhor Presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, pergunto-lhe aqui quantas crianças, que terão tido acesso a este livro, acharam piada ao apelido utilizado para catalogar o indivíduo gordo, e não o passaram a usar para ofender o menino gordo da sua classe, ou da sua turma, iniciando, ou continuando assim, um trajecto de "bullying" que marcará o carácter de quem o pratica e de quem o sofre, e isto com a chancela da CMC, que foi quem distribuiu, e talvez quem encomendou a obra. O objectivo final até poderia ser cheio de boas intenções, mas foi feito por alguém que não está habituado a pensar esta área. Porque não pesquisaram um pouco, ou porque não entraram antes em contacto com a APCOI (Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil), que tem já anos de trabalho nesta área e que faz este caminho sem fundamentalismos baratos e sem estigmatizar nenhum tipo de pessoas. Sei do que falo, conheço o trabalho deles há anos, e a maneira exemplar como o fazem. Por acaso também sei do trabalho que sempre tentaram fazer chegar às escolas, mas que lhes foi sempre dificultado, principalmente pelas Câmaras, que não se mostram receptivas à obra da Associação. Provavelmente porque com eles não conseguem nenhum tipo de "lobby", mas isto já sou só eu a especular.

Mas diga-me Sr. Presidente, acha correcto definir seja quem for pela aparência? É 100% crível que alguém com peso a mais seja preguiçoso, ou que seja gordo apenas porque come demais?

Ficaria satisfeito se fosse avaliado apenas pelo seu aspecto físico? Gostaria de ser catalogado como "O merceeiro vigarista" ou "O imigrante bebedolas"? Não digo que tenha alguma destas características, mas assim de repente posso tirar estas conclusões, mas seria abusivo da minha parte, não seria?

Mas debrucemo-nos também no facto de que na realidade o peso que se aparenta em nada tem a ver com se um corpo é saudável ou nutrido. Temos miúdos que, aparentemente, são saudáveis, principalmente porque são macérrimos, mas que vistos à lupa estão quase subnutridos e com carências vitaminicas porque se alimentam, quase exclusivamente, de bolachas, cereais, achocolatados e ovos Kinder, por exemplo.

Há que acabar com este movimento crescente de que todos, adultos e crianças, têm que responder a um padrão físico em que quanto mais magro melhor. Vejo crianças de 6 e 7 anos preocupadas com o peso, e se deveriam fazer dieta para perder umas gordurinhas, mas que não sabem aplicar adequadamente um "Bom dia", um "Boa tarde", um "Se faz favor" e um "Obrigado".

Não sei se me agrada muito a ideia de que caminhamos num sentido em que cada vez mais teremos pessoas a comer menos açúcar, saudáveis fisicamente, mas que moralmente serão calhaus insensíveis que avaliam apenas por aquilo que lhes parece, e não por aquilo que as pessoas lhes transmitem.

12
Out22

Lobo em pele de cordeiro


Pacotinhos de Noção

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Que Marcelo Rebelo de Sousa, como político, era pouco confiável, já muitos sabiam. Um homem populista, vaidoso, que não suporta que a comunicação social fique mais do que 48 horas sem se referir ao Presidente, causando até constantes fugas de informação em Belém para ficar assim sempre no olho do furacão.

Que era um homem com esqueletos no armário, só alguns é que sabiam, calculavam ou lembravam.

Diz-se que um homem é o reflexo da educação que teve, por isso acho que é importante referir que o Professor Marcelo deve o seu nome ao nosso último ditador, Marcelo Caetano. Caetano não foi seu padrinho de baptismo, mas foi padrinho de casamento dos seus pais. Era amicíssimo da família Rebelo de Sousa e o, então Marcelinho, sempre viveu numa família feliz, abastada e impregnada de amizades do Estado Novo. Marcelo Caetano não era o  padrinho de baptismo do Marcelinho, mas era Camilo de Mendonça, um Ministro da Economia de Salazar. 

Em 1972 casa com Ana Cristina Motta Veiga, filha de António Jorge Motta Veiga, outro - adivinhem - ex-Ministro de Salazar, neste caso Ministro da Presidência.

"Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és" é uma máxima mais antiga que Cristo, mas aqui é de fácil aplicação e faz-nos até compreender um pouco melhor a facilidade com que o Presidente da República, em conluio com o Primeiro-Ministro, não teve pudor em ir repetindo estados de emergência, mesmo quando os mesmos já não se justificavam. Era a sua veia de "Estado Novista" a latejar.

Conhecer as raízes de alguém mostra-nos a flor que mais tarde germinará, ou se em lugar de uma flor crescerá uma erva daninha. Dou-vos agora a conhecer, em forma de coscuvilhice, mais um caso que demonstra bem a fibra de que é feita a mais alta figura do Estado.

Estávamos ali pelo ano de 1993/1994, e no programa Parabéns, do Herman José, o convidado era Paulo Portas. Água vai, água vem, e na conversa do ex-director do jornal Independente com o apresentador, vem à baila um assunto em que Paulo Portas conta que, apenas para ter o que dizer, Marcelo se "desbronca" acerca de uma reunião, em forma de jantar, que houve entre Cavaco Silva, Mário Soares e alguns constitucionalistas, entre eles Marcelo, uma vez que é esta a sua formação. Contou tudo tão ao pormenor que até referiu que foi saboreada uma sopa fria, uma "Vichyssoice".

Paulo Portas, para confirmar a informação, contactou outro dos presentes nesse jantar e ficou a saber que a maioria do que Marcelo lhe havia dito era mentira, apenas lhe fez um relato inventado para, mais uma vez, estar no olho do furacão. 

Marcelo não gostou de ser exposto desta maneira em horário nobre, no programa do Herman, e cortou relações com Paulo Portas... E Herman? O que aconteceria a Herman?

Dois anos depois, Herman José estaria no centro de uma nova tentativa de censura a um seu programa. Era o Herman Zap, mais especificamente um sketch sobre a "Última Ceia".

Éramos guiados por um Governo PS, de um muito católico António Guterres. A Igreja não achou piada que brincassem com a história da comezaina final de Jesus, e começou a mexer os cordelinhos. Marcelo, que poderia estar calado, viu aqui uma oportunidade de se vingar de Herman José, e fez todos os esforços possíveis para conseguir censurar o episódio. É importante referir que ele era na altura o líder do PSD, e ainda assim não hesitou em dar o braço ao PS, para poder tentar derrubar Herman. Bato palmas à administração da RTP daquela época, que não cedeu a pressões e não permitiu que o sketch fosse cancelado.

Temos então um Marcelozinho azedo e vingativo.

Estas histórias todas servem para chegar à conclusão de que não me surpreende esta afirmação de que 400 casos de pedofilia não serem, afinal, assim um número tão elevado... E se calhar até não são, depende do ponto de vista.

Será que Marcelo diz que 400 casos denunciados não são muitos, tendo em consideração todos os que ele conhece, ainda para mais estando Marcelo há tanto tempo na política, e envolvido com altas patentes da Igreja?

Este texto vai beber muito ao passado, mas como muitos dos que me lêem são de uma geração mais recente, gosto, ocasionalmente, de referir assuntos que foram autênticos escândalos, mas que vão caindo no esquecimento.

Ballet Rose foi um escândalo de prostituição infantil e pedofilia, na década de 60 do séc.XX, que envolveu personalidades da altura, entre elas Ministros do Estado Novo, e figuras de alta importância na Igreja portuguesa. Dois tipos de grupos com quem Marcelo Rebelo de Sousa sempre teve o gosto de privar. Lembram-se dos padrinhos e do sogro?

É, portanto, perfeitamente normal que para o Sr.Presidente, 400 casos sejam poucos, no meio de tantos que há-de ter tido conhecimento.

Para terminar devo dizer que também me faz um bocadinho de confusão, como o caso de alguns miúdos, já adolescentes, que se prostituíam no Parque Eduardo VII, para ter dinheiro para comprar droga e roupas, teve a repercussão que teve, e este caso, apenas porque envolve a igreja, é abafado o mais possível. A imprensa fala nele, mas com pinças muito compridas.

Não quero criar teorias da conspiração, mas em relação à Casa Pia gostaria que recordassem que os políticos, alegadamente envolvidos, foram os primeiros a ser afastados do caso, porque afinal não havia provas contra eles. A ideia com que se fica é que, realmente, tiveram que adicionar uns nomes sonantes ao processo, para que outros nomes não fossem mencionados. O Herman teve a sorte de terem sido incompetentes quando o tentaram envolver. Outros não tiveram essa sorte. De facto, ser-se alguém famoso em Portugal, às vezes é uma corda no pescoço. 

Sim, sei que este texto está imenso, mas parece-me importante que se consiga traçar um perfil daquela que é a mais alta figura do Estado, mas que dá mais importância a tirar umas selfies, do que ao facto de existirem padres a tirar cuequinhas a crianças.

09
Out22

Curvem-se perante o rei


Pacotinhos de Noção

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Estivemos aqui há umas semanas, todos contentes, a cortar na casaca do príncipe (agora rei) Carlos, porque ela era isto, ele era aquilo. A vida, tarde ou cedo, acaba por nos dar uma bofetada, e esta nem é de luva branca, é com uma mão toda calejada e cheia de graxa.

Enquanto gozávamos com o facto do Rei Carlos tomar posse velho, nunca ter trabalhado, e ter pouco jeito para a escrita, esborratando tudo, esquecemos que, para não ficarmos órfãos de realeza - uma das consequências de não termos monarquia, e a de não termos um Rei oficial proclamado - não é rara a vez em que denominamos alguém como rei.

Todos conhecem o Rei dos Frangos, o Rei das Farturas e o Rei das Bifanas, mas ao que parece, toda e qualquer realeza que nos apareça na área alimentar, não será nunca o suficiente, e é então, nessas ocasiões que puxamos dos galões e proclamamos Rei alguém tão valoroso como o drogado que nos rouba os catalisadores dos automóveis. Temos então um rei sem coroa, sem trono, sem vergonha e sem um centímetro do corpo que não esteja furado pela seringa.

Não é o facto de se drogar que me incomoda. Cada um põe fim à própria vida da maneira que melhor lhe parecer. Uns atiram-se para debaixo do comboio, outros cortam os pulsos, o Rei dos Catalisadores opta por pequenas doses de veneno, servidas numa seringa. Parece-me muito bem.

O que já não me parece tão bem é que este farrapo da sociedade tenha, a determinada altura da sua vida, recebido no Monopólio a carta "Está livre da prisão", e pelos vistos pode usá-la tantas vezes quanto quiser.

Sei que lhe foi agora decretada a prisão preventiva, mas como todos sabemos aqui o "preventiva" é sinónimo de "provisória" e temo que mesmo após a sua apresentação em tribunal, o nosso alto monárquico de peças automobilísticas, apanhe apenas uma pena suspensa. Tenho quase a certeza de que vai acontecer.

Isto mostra que anda tudo a brincar, mas uns fazem uma brincadeira mais perigosa do que outros.

O Rei Drogado anda a brincar com o bem-estar e com a vida das pessoas, roubando-os, causando-lhes prejuízo, e até os atropelando, nas suas tentativas de fuga à polícia. A polícia, essa, anda a brincar aos polícias e ladrões. Correm atrás de um bandido, prendem-no, levam-no para o coito e ele volta cá para fora... E porquê? Porque o derradeiro brincalhão, o juiz, chega ao coito e diz: "1,2,3, salva todos", vindo de imediato o bandido para a rua. Aqui o juiz também brinca. Brinca com o trabalho dos polícias, brinca com o dinheiro dos contribuintes, em sucessivas sessões de julgamento, e por deixar que aquele estrumoso vá roubar mais uns carros e uns catalisadores. Este juiz ainda faz pior, brinca com a vida dos cidadãos, porque um tipo num estado de dependência já tão avançado, numa das suas crises, não hesitará em matar para roubar, ou apenas para conseguir fugir, numa das tais perseguições policiais, conforme ficou comprovado na sua última detenção, em que o indivíduo atropelou um ciclista... Sim, eu bem sei que o ciclista é um bicho que nem todos gostam, mas ser passado a ferro por um bandido bexigoso! Percebo que seja da realeza, mas como não vivemos em monarquia, e se vivêssemos tínhamos um rei palhaço, não vejo motivos para prestarmos vassalagem, nem tão pouco termos de nos curvar a este Rei de tão pouca nobreza.

06
Out22

Salvem o planeta... A parte rica, vá


Pacotinhos de Noção

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Nada é eterno, julgo que todos concordam que isto é um facto. Infelizmente também o nosso planeta não o é, e, uma vez que existe uma finitude, cabe ao ser humano responsabilizar-se pelas porcarias que faz, e tentar emendar, pelo menos parte dela.

A poluição é uma desgraça, o uso dos combustíveis fósseis não ajuda em nada, temos que diluir a nossa pegada ecológica, e deixar o consumo de animais, e tudo o que deles deriva, de lado.

Urge tornar o nosso planeta mais verde, mais saudável, mais puro, mais sustentável. Temos que o fazer a todo o custo, sem olhar a meios.

Será?! Será que as coisas são assim tão lineares, e preto no branco?

Vamos ver, ou pelo menos vamos ver por uma perspectiva práctica, sem populismos, sem "rodriguinhos", e com a consciência do que é a realidade. Digo isto porque quem defende estas mudanças repentinas vive num mundo que não é o real. É um mundo de conto de fadas, onde são príncipes e princesas, e em que quem com eles não concordar, é um ogre nojento e bossal.

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Em relação ao não consumo de animais, nem vou argumentar que somos omnívoros, e que o nosso organismo precisa de um pouco de tudo, até porque acho que cada um come aquilo que quiser. Se têm o livre arbítrio de se envenenarem com álcool, tabaco e drogas, acho que também o devem ter em relação aquilo com que se alimentam, sejam vegetais, carne, pedras da calçada ou até sal e açúcar em excesso, sem que surja um Governo paternalista, que proíbe o sal no pão e o açúcar no café, ou até que, em último caso, crie um imposto excepcional, hipoteticamente inibitório, sobre as bebidas açucaradas, tributando até as bebidas com zero percentagens de açúcar, facturando assim milhões que criam excedentes orçamentais, que desaparecem depois, não se sabe bem onde.

Mas voltando ao assunto principal.

Todas as medidas para melhorar o nosso planeta são medidas possíveis só para todos os que tenham dinheiro no bolso.

Em pequena escala, e por mais que todos os vegetarianos digam que não, ser-se⁹ "vegan" não é nada que saia barato, assim como não o é instalar painéis solares em casa, ter um carro eléctrico ou comprar um Iphone fabricado com trabalho infantil, e quase escravo, para depois se fotografar todas essas opções "fixes" e ambientais que se tomou. Em maior escala não podemos impor condições do fim do uso de energias fósseis, como o carvão e o petróleo, a todos os países, quando as alternativas são substancialmente mais dispendiosas?

Como vamos fazer com que países como a Somália, a Etiópia, a Índia, adiram a energias verdes se eles nem a mortalidade infantil conseguem combater convenientemente?

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Estes problemas que arranjamos para a nossa sociedade são, de facto, reais, mas são problemas de primeiro mundo, mesmo sendo nós um país terceiro mundista, não são os de problemas de toda uma população.

Entreguem um bife de seitan e um bife de vaca a uma família no Congo, ou no Burundi, e vão ver onde é que vos vão enfiar o seitan. As refeições destas populações, em épocas de abundância, que são quando recebem ajudas, são malgas de arroz. São vegetarianos por imposição, não por gosto.

"A água é um bem precioso e tem que ser racionado" - pois que muito bem, pois que se racione. Na Quinta da Marinha o pessoal já começou. Só enchem as piscinas a 3/4 e só mandam o Edison lavar os topos de gama semana sim, semana não.

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Os menos orientados financeiramente, aproveitam e tomam duche no ginásio. Vão-se encher de moscas, pá... De moscas enchem-se também aqueles miúdos que, como nem saneamentos básicos existem nos bairros de lata onde vivem, aproveitam e banham-se nas poluídas águas do Rio Ganges, que mesmo sendo um dos rios mais poluídos do mundo, é o que lhes fornece o precioso H₂O. É por estas e por outras que penso que sim senhor, há que caminhar no sentido de mudar a maneira como fazemos as coisas, mas não nos podemos armar em "mais papistas que o Papa", numa ansiedade louca de mudar tudo de uma vez, como até fez o vosso Primeiro-Ministro, encerrando minas de carvão e desactivando a refinaria de Sines, e muitos outros líderes mundiais fizeram coisas semelhantes, colocando-se assim nas mãos de um tresloucado como o Putin, que viu no deslumbramento desta gente, uma forma fácil de fazer o resto do Mundo ficar à sua mercê.

Concluindo, aquilo que se constata é que temos uma elite populacional, que até se mostra muito querida e solidária para com os pobrezinhos, dão sempre umas latinhas de atum para o Banco Alimentar e tudo, mas na sua génese, e desde que possam andar nas suas trotinetas eléctricas e nos seus Teslas, estão bem se "marimbando" para se o resto do Mundo tem capacidades para sobreviver, quanto mais ser verde ou amigo do ambiente.

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Ah, ia a esquecer o conselho que gosto sempre de dar, a quem se preocupa com a pegada ambiental... Quando se forem autodescobrir na Índia, ou fazer turismo para Londres, ou Amesterdão, montem-se numa bicicleta ou numa vassoura, tipo Harry Potter. É que os aviões são quem pisa mais forte, nessa famigerada pegada.

03
Out22

Religião a quanto obrigas


Pacotinhos de Noção

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Até hoje ainda não falado no caso de Masha Amini porque não me sinto minimamente capacitado para falar acerca deste assunto. Não é que não tenha opinião, o problema é ter uma opinião que poderá ser demasiado extremista, e como não gosto de extremismos, tenho dificuldade em lidar com os meus.

Masha Amini não foi morreu por ser mulher, uma rebelde, nem, porque quereria ser uma mártir. Na verdade, nem sabemos bem os pormenores da sua morte.

Não sabemos da Masha Amini, mas sabemos de outras 90 pessoas, que depois de Amini, decidiram lutar por algo em que acreditam, e que entra em confronto com a estupidez, ignorância, hipocrisia e uma ideologia bacoca de algo que deveria ser erradicado, e é aqui que me torno extremista.

No meio de tal selvajaria, estas mulheres tiveram a coragem de dar o peito às balas, defendendo algo que não devia sequer ser um direito, devia ser um dado adquirido, e que é uma mulher andar com a cabeça destapada, uma mulher poder ser uma pessoa. Isto é o mais básico dos básicos.

As mulheres muçulmanas não são oprimidas porque os seus homens são machistas, são oprimidas porque os seus homens são idiotas que vêem na religião o seu bem mais precioso, o guia de uma vida, e peço desculpa a quem se sinta ofendido, mas as religiões são o cancro da humanidade. Já viram quantos conflitos existem por esse mundo fora, que têm na religião o seu motor de combustão?

E isto não é de agora. Os cristãos também fizeram das suas, e a história não deixa dúvidas a ninguém. Haverá quem vá todos os Domingos à missa, quem veja nas parábolas religiosas ensinamentos para a vida, mas acabam sempre por aplicar o "faz o que eu digo, não faças o que eu faço".

Como pode uma pessoa guiar-se por algo que já serviu, e serve para dizimar, ou tentar dizimar, outro alguém que tem uma crença diferente da nossa? Algo que faz com que obriguem seres humanos a andar de cara tapada, fazer jejuns intermitentes forçados, a que chamam Ramadão, ou a não comer carne a determinado dia. Temos, por exemplo, na religião católica uma base formada no sacrifício de um tipo que foi humilhado, violentado, torturado e preso numa cruz, aos olhos de um mar de gente, sem ter uma alma que erguesse um braço para o ajudar.

Temos a Bíblia, que serve como escudo protector, para quem julga que só os outros é que pecam, e temos um Alcorão que se serve também do mesmo princípio.

Bem sei que muita gente precisa de acreditar em algo, mas como se pode acreditar em algo cujos todos os meios são aceites para atingir os fins.

Masha Amini foi morta sem sequer renunciar à religião que serviu de desculpa a uns hipócritas para que a pudessem, ou não, matar. Há que respeitar a ordem de colocar um trapo na cabeça de uma mulher, mas pelos vistos o "não matarás" é algo que é para manter à margem.

Choca-me bastante que este assunto não tenha tanta repercussão mediática como teve, por exemplo, a doença da Constança Braddel. Não estou com isto a dizer que a rapariga não tivesse merecido a atenção que lhe foi dada, e essa atenção até lhe abriu uma janela de esperança, mas a luta da Constança era contra uma doença, em que os que sofrem são alguns, os que se salvam são uns poucos desses alguns, mas, infelizmente, está-se a lutar contra uma inevitabilidade. Aqui as que sofrem são imensas, não é uma doença e aquilo contra o que se luta é apenas a interpretação que determinados homens fazem da sua religião.

Como afirmei no princípio, este e um assunto sobre o qual nem sei bem se deveria ter falado. Provavelmente meti os pés pelas mãos e, caso haja comentários contrários aquilo que digo, poderão até estar certos, mas contra factos não há argumentos... As religiões são propaladas como sendo fonte inesgotável do bem, mas pelo que tenho visto são muito mais eficazes a fazer o seu contrário…