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Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

04
Jul22

Tanto talento, e nenhum na TV


Pacotinhos de Noção

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Acabaram hoje os Ídolos... Finalmente.

O "Uma Canção para ti ainda não acabou... Infelizmente.

Para começar, e justificar a imagem que emoldura o texto, gostaria de referir que a maneira como os apresentadores, e até dos júris, são vestidos, define bem estes programas. Uma parolada. Joana Marques, o Elvis manda dizer que quer a roupa de volta.

Não aprecio especialmente estes "talent show" mas também não penso que devem deixar de existir. Defini-los como "talent show", quando o talento é algo que por ali não passa, é que já me parece demasiado.

Portugal é um país pequenino, é natural que não consiga produzir um Paul Potts ou uma Susan Boyle, mas a verdade é que mesmo que aparecesse alguém do mesmo género destes dois, dificilmente iriam ganhar, porque não teriam "star quality", e porque não se encaixam no estilo "pop" que a parolice portuguesa tanto procura.

Os Ídolos já tiveram várias temporadas, Nuno Norte, Sérgio Lucas, Filipe Pinto, Sandra Pereira, Diogo Piçarra e João Couto foram os anteriores vencedores. Fora Diogo Piçarra, nenhum dos outros alcançou uma carreira de sucesso.

Existem alguns participantes que ficaram conhecidos, como a Luciana Abreu, Salvador Sobral ou a Carolina Torres. Tudo pessoas que, me parece, ficam a dever tanto para o mundo da música, como para a sanidade mental, ou educação, como recentemente Carolina Torres mostrou, ao abandonar, de forma prematura, o palco dos Ídolos, para o qual foi convidada. Quem vier com o argumento de que o Salvador Sobral ganhou a Eurovisão, chamo só a atenção de que este ano ganhou a Ucrânia, porque está em guerra, não tem nada que ver com música, já ganhou uma mulher barbuda, ou um barbudo vestido de mulher, e uma tipa vestida de galinha, só por ser israelita.

Voltando, e terminando o assunto "Ídolos", gostaria só de sublinhar que os jurados perdem toda e qualquer credibilidade, quando no lote de finalistas existem vozes paupérrimas, mas ainda assim todos os júris se desfazem em elogios. Posso apenas ser eu que sou duro de ouvido, mas há casos bastante evidentes de participantes que nem em karaokes se safariam.

O caso do "Uma Canção para ti" já é diferente.

A qualidade continua a ser nula, os jurados são 50% de elementos que não percebem nada de música, por muito que o Manuel Luís Goucha defenda a Rita Pereira, arranjando justificação para o facto de ela ali estar, e acho também uma certa piada que elementos do PAN façam burburinho pela exploração de animais para entretenimento popular, mas que não façam chegar nenhuma queixa junto das autoridades, pelo facto de às 00:30 haver miúdos nas cantorias da TVI. Apenas falo nisto devido à falta de coerência, e porque de facto a TVI ganha bom dinheiro com o uso destas crianças. Isto só acontece porque há imensas pessoas a assistir ao programa, pessoas que elevam a voz para reclamar o direito de tudo e mais um pouco, mas ver os meninos a cantar, até tão tarde, dá-lhes alegria.

Sinceramente falando, faz-me confusão a mim? Sim, faz alguma. Nem tanto pelos miúdos ou pelo programa, porque os miúdos até se deverão estar a divertir, e o programa cumpre a sua função que é a de tentar entreter as pessoas em casa, mas não tiro da cabeça que por detrás de cada uma daquelas crianças poderão estar uns pais, para quem faz sentido que os filhos fiquem a cantar até de madrugada, apenas porque assim podem vir a ter uma carreira... Não sei porquê, mas só me consigo lembrar dos pais do Saúl Ricardo.

Só mais uma pequena curiosidade, que reparei agora, enquanto acabo este texto.

A SIC está a transmitir o concerto da Anitta, no Rock in Rio, o que confirma que saber cantar não é o critério por eles escolhido, para hoje aparecer na televisão.

24
Jun22

Jéssica


Pacotinhos de Noção

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Esta não é uma página criminal nem pretende ser uma filial da CMTV, mas de cada vez que há a notícia da morte de uma criança, às mãos de um adulto, a raiva que em mim cresce tem que ter um escape, e a escrita acaba por ser um pouco desse escape. O que escrevo nada ajuda, e a criança já morreu, mas há opiniões que me apetece dar e perguntas que me apetece fazer.

Todo o caso me mete nojo, e ninguém sai dele sem culpas, a não ser a criança, que não sendo culpada, foi a que pagou com a vida.

Estão detidas três pessoas. A suposta ama, que é afinal bruxa, o marido, e a filha da bruxa. Falta neste lote de miseráveis pelo menos mais uma pessoa. A mãe da Jéssica.

O motivo que levou a bruxa, e toda a sua corja, a sequestrar a criança durante 5 dias na sua casa, foi uma alegada dívida de 400 €, da mãe da Jéssica. A que se deve esta dívida? Pagamentos que não foram feitos à bruxa, enquanto ama? Pagamentos que não foram feitos à bruxa, enquanto bruxa?

Aquilo que se sabe é que a mãe de Jéssica, que quando deu à luz uma criança, que não pediu para nascer, assinou automaticamente um contrato redigido pela natureza, pela sociedade, pela vida e pelo amor maternal, que estipulava que ela, como gestante e progenitora haveria de proteger aquela menina contra tudo e contra todos, contudo em vez de o fazer preferiu "meter a menina no prego", como garantia de que haveria de pagar a dívida que tinha.

Se quisermos ser mais compreensivos podemos alegar que os três criminosos sequestraram a menina. Não deixaram que a mãe a levasse sem trazer o dinheiro que devia, e a mãe até foi buscar a Jéssica, passado 5 dias... e foi porque lhe disseram para a ir buscar, após a colocarem às portas da morte.

5 dias?! 5 MALDITOS DIAS?! Não foram 5 minutos nem sequer 5 horas, foram 5 dias.

Uma mãe normal, e consciente, impedida de levar a sua filha, não entrava em desespero e não se dirigia logo à polícia? Estou a dizer algo de muito esquisito ou extraordinário? Não é coisa que qualquer pessoa que ame um filho faria? Ou num acto mais tresloucado, vendo a sua cria usada como moeda de troca, não cometeria uma loucura e não entraria em confronto com estes bandidos?

Sabe-se também que, estando a filha sequestrada na casa da bruxa/ama, a mãe, no Domingo à noite, antes da morte da filha, foi toda alegre e contente, a uma festarola. Enquanto a mãe se divertia, a Jéssica, de apenas 3 anos, muito provavelmente era alvo de tortura e pancada, porque a senhora que a pariu a deixoy como garantia de uma dívida. 

O que é um facto é que Jéssica estava já sinalizada pela Segurança Social como sendo uma criança em risco, e o risco definido pela S.S. não teria nada a ver com a ama, certamente.

Que dizer da forma como está estruturada uma família quando, em entrevista à CMTV, o padrasto da menina, confessa que nem sequer sabia que ela estava na casa da ama há 5 dias... Como não sabia? Não vivia na mesma casa da criança? Não reparou que faltava alguém? É padrasto, mas quando se junta com alguém, por amor, e tendo esse alguém uma filha bebé, acabam por se criar laços e vínculos.

Surgem notícias que, entretanto a mãe já mandou fora roupas e brinquedos, da filha recentemente morta... Atenção, não falo de um vizinho ou de um conhecido, falo da própria filha, e a princípio não nos queremos separar tão rápido das coisas de alguém que seria o nosso bem mais precioso.

Hoje, no velório, a mãe (admito que até me custa classificar a mulher de mãe) montou um teatrinho, levando uma boneca da filha no colo, e caminhando encostada a alguém, de tão debilitada que estava, mas logo à frente, ia o padrasto, a caminhar todo estiloso e com um à vontade de quem vai comprar tabaco, aproveitando as câmeras para enviar recados ao Hernâni Carvalho.

Poderei também estar a ser um pouco picuinhas, mas nos vídeos que já vi da miúda, e algumas das fotografias que encontrei pela internet, mostram-na frequentemente em ambientes de tabernas, cafés, e festas regadas a cervejas. É o ambiente próprio para crianças? Não me parece.

Mais uma vez este caso mostra que os mais desprotegidos são as crianças, e menos protecção têm ainda quando os pais se estão a borrifar para eles.

Neste assunto tudo é revoltante, desde a família assassina até à mãe e ao padrasto que acabam por ser coniventes e também cúmplices por não terem logo avisado as autoridades. É culpado o Estado, por sinalizar crianças em risco, mas não fazer nada, para as proteger, passando assim as crianças de sinalizadas como em risco para sinalizadas como mortas.

25
Mai22

Promessa é dívida


Pacotinhos de Noção

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Por coincidência, hoje, por volta das 22:00, altura em que o meu filho de 4 anos foi dormir, naquele lusco-fusco sonolento e delirante das crianças, ele virou-se para mim e perguntou o que eu fazia se aparecesse um homem com uma pistola para lhe fazer mal.

Esta pergunta veio a propósito de, segundos antes, ele ter tido medo e eu, confortando-o, garanti-lhe que não precisa temer nada, pois protege-lo-ei sempre.

Respondi que se tal acontecer meto-me à frente e nada se passará. A mim também não, que tenho ossos de ferro.

Apertou-me para confirmar que tenho estrutura óssea forte o suficiente, e agora dorme, relaxado e sentindo que está protegido. Dorme ele e a irmã de ano e meio, um sono inocente e despreocupado, sem saberem que, agora, em todos os cantos do Mundo, há crianças que choram, que sofrem, que morrem. Não sabem e nem pretendo que saibam. Este Mundo nojento em que vivemos há de parecer-lhes um paraíso, enquanto for possível que a ingenuidade não lhes seja conspurcado pela dura realidade.

A garantia de protecção que fiz ao meu filho, pretendo cumpri-la, mas certamente que os pais das 18 crianças, com idades entre os 5 e os 11 anos, que foram hoje assassinadas no Texas, também quereriam ter protegido os filhos deles. Não conseguiram, e esta é daquelas vezes em que a genuinidade do "não queria estar no lugar deles", é da mais pura que pode haver, e também da mais cruel.

Salvador Ramos, 18 anos, ele próprio um tipo que ainda devia cheirar a leite, tinha acesso a armas que lhe permitiram cometer esta loucura. Foi abatido pela polícia e eu só espero que tenha sofrido, porque quem mata crianças não faz, para mim, sentido que continue a viver.

Haverá sempre quem defenda que ele poderia ter problemas psicológicos, mas o problema psicológico de que ele sofria tinha um nome… maldade.

Sigam o meu raciocínio. Se este tipo era maluco porque é que não foi antes invadir um bairro problemático, onde até guerras de gangues há? Ou uma esquadra, ou um quartel, por exemplo? Não foi porque sabia que a hipótese de resposta era grande. Crianças são um alvo fácil e que não responde.

Hoje, também por um acaso, assisti à cena de um rapaz, dos seus 16 anos, a acabar o namoro com uma miúda da mesma idade.

Ela chorava copiosamente. Não implorou, mas tentou muitas vezes o contacto visual com aquele que, até há segundos atrás era o seu namorado. Conseguiu-o várias vezes e há de ter constatado o mesmo que eu, e que era a falta de empatia, de sentimento, de compreensão e até de companheirismo daquele que com ela já havia partilhado sentimentos.

Nem uma festa, nem uma mão no ombro para servir de apoio. Nada.

Vomitou as palavras que tinha a vomitar e no fim do seu discurso de rescisão sentimental, afasta-se com um desdém e uma frieza que nos levam a pensar que ele não deveria nem namorar uma pedra, quanto mais uma rapariguinha.

Dei mais este exemplo porque em ambos os casos se vê um traço característico e comum a ambos.

Nenhum mostrou nenhum tipo de ligação afectiva, remorso, consciência, e, infelizmente, a ideia que me dá é a de que cada vez mais isso acontece. Tenho visto muitos jovens que demonstram dar mais importância a um penteado ou a um smartphone do que a outra pessoa.

E quem devemos nós culpar por causa destas situações? Não vos sei dizer, nem tão pouco sei dar um palpite que se pareça com uma solução. Tenho a opinião de houve muita falta de amor, muita falta de ouvir dos pais um amo-te cheio de intenção de continuar a amar.

Eu tento fazer a minha parte, e diariamente digo aos meus filhos que os amo e eles também me o dizem a mim. Não é uma troca de galhardetes e sim uma partilha de sentimentos que espero que construa alicerces de valor nos meus filhos.

Sim, eu sei que este é mais um post a falar de criancinhas e no quão importantes elas são, mas de facto são e se não andarmos por cá para os proteger, então nada nesta vida vale a pena.

19
Mai22

Opiniões que nos definem


Pacotinhos de Noção

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Nalgumas situações as redes sociais acabam por ser como a realidade. Diariamente nos cruzamos com gente que não interessa e temos duas opções, ou engolimos, ou mandamos dar uma volta.

Não vou divulgar o "nome" da pessoa em questão porque receio que exista sempre alguém que a possa importunar, mas sei perfeitamente que ela vai ver este post, e ainda bem.

Esta é uma senhora com quem estou quase sempre em desacordo. Adora o Costa e os Governos PS. Gostos são gostos, e tal como ela, mais de 50% dos votantes tiveram a triste ideia de votar em quem enterra consecutivamente o país. A falta de gosto é ainda mais flagrante quando mostra que é das tais senhoras de meia-idade que continuam seduzidas pelos cabelos grisalhos de Sócrates. A certa altura defendia que o SNS é maravilhoso, mas pouco tempo após o proferir foi operar as cataratas à CUF, em vez de usufruir daquilo que tanto diz apreciar. Para finalizar, e para mim, foi a gota que transbordou o copo, desde que começou a guerra na Ucrânia já demonstrou não ser a favor de algumas sanções, que o Zelensky é o demónio na terra e agora insinua, como as imagens demonstram, que os ucranianos são nazis, conforme o próprio Putin defende.

Se em todos os outros assuntos posso compreender que existam opiniões diferentes da minha, neste caso da guerra não é sequer admissível que se veja o outro lado da mesma moeda. É um assunto em que não se pode ficar em cima do muro.

Quem tiver o mínimo de dúvida em condenar Vladimir Putin, mesmo não o afirmando, como no caso do PCP, aliás, das duas uma, ou é estúpido, ou é idiota, e são pessoas assim que me repugnam e deixam-me aziado, e com os quais não pretendo ter o mínimo de ligação, quer seja no dia a dia, quer seja aqui, neste mundo virtual onde o anonimato até me dá a cobarde coragem de dizer a esta senhora o quanto ela não tem noção de quão pouco humana consegue ser. E é até a amostra de que quem gosta de animais não tem que obrigatoriamente ser boa pessoa. Bem sei que aos 50/60 anos, viver com gatos nem sempre é opção, é apenas a consequência de uma vida de amargura, arrogância e estupidez, mas ainda assim fica sempre bem mostrar que se tem muito amor pelo Nóquidó e pelo Riscas.

Alguns estarão agora a perguntar-se o porquê deste destaque a alguém que é anónimo, que assim se manterá e que provavelmente não merece o tempo que gastam ao ler estas linhas. Os motivos são dois.

O primeiro é porque o Pacotinhos de Noção nasceu por causa destas pessoas. Serve de escape para falar sobre situações e elementos da sociedade, que vivem entre nós, julgam e comportam-se como se fossem a última bolacha do pacote, mas só porque não tem a noção que aquilo que defendem e aquilo que acreditam faça delas, sim senhor, a última bolacha do pacote, mas é um pacote de bolachas de Água e Sal velho e bolorento, com aquela bolacha que todos rejeitaram e está até toda esmigalhada.

O segundo é porque ao observar as fotos desta pessoa, a ideia que dá (e aqui até posso estar enganado) é a de que trabalha num estabelecimento de ensino. Não sei se como auxiliar ou professora, não é importante, mas aquilo que importa é que alguém que não consegue discernir do que é facto e do que é propaganda, do que é uma desculpa esfarrapada para invadir um país e do que é real, e que não consegue compreender que morrem pessoas, incluindo crianças, crianças com quem trabalhará e como tal até deveria haver um laço mais afectivo, no lugar do coração deve ter uma pedra e no lugar do cérebro apenas vácuo e deveria ter sido submetida a importantes testes psicotécnicos para que em vez de trabalhar com miúdos, trabalhasse com... sei la, calhaus.

16
Mar22

Ser cobarde salvaria mais vidas


Pacotinhos de Noção

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O conceito de herói é muito subjectivo e tem cada vez mais sido banalizado. 

A partir de determinada altura todos são heróis. Desde o tipo que salva uma família de um incêndio, até ao outro que conseguiu solucionar o caso de uma torneira que não parava de pingar.

Para mim a palavra herói não tem um sentido tão lato, e muito provavelmente nem vai ao encontro daquilo que a maior parte das pessoas usa como definição. Mas isto é porque sou um pouco cobarde, até caguinchas, e para pessoas como eu, o herói é aquele que consegue evitar o conflito.

Tomemos como exemplo o caso de Zelenskiy.

O presidente ucraniano está, neste momento, catalogado como herói. Concordo e nem tenho nada a apontar.

O homem surpreendeu tudo e todos, surpreendeu principalmente Putin, que pensava poder manietar o adversário com relativa facilidade, mas tal não aconteceu. Zelenskiy fez frente a alguém mais poderoso e até tem a sua vida colocada em risco para defender uma nação... Mas e o que é uma nação? É apenas um pedaço de terra, em determinado lugar, ou uma nação só o é graças às pessoas que a formam?

E a nação, que acaba por ser algo de abstracto, merece que se morra e se mate por ela?

Aquilo que aqui vou expor não é o certo ou o errado, é apenas aquilo que eu faria, tendo em consideração o meu pouco caso para qualquer categoria de conceito de nação, de orgulho nacional ou amor à pátria.

Gosto de Portugal? Gosto do território, do clima, e até de algumas comidas, mas cada vez gosto menos da praga que infesta o país, e que são as pessoas. Dado curioso é que pessoas há em todo o lado e não diferem muito de sítio para sítio. De qualquer maneira mesmo eu apreciando cada vez menos pessoas, não julgo que deveriam desaparecer. Talvez o certo seria eu transformar-me numa espécie de eremita, porque no final das contas quem está mal sou eu. Não posso ser o tipo que vai na autoestrada em sentido contrário, defendendo que sou o único que está correcto.

Como não penso que devam desaparecer, e caso estivesse no lugar de Zelenskiy, mal houvesse a pequena ameaça de uma invasão, que pudesse causar qualquer tipo de baixa, render-me-ia logo. Mas é que nem pensava duas vezes. Sei ser chocante isto que escrevo, mas recordo-vos que quem vos escreve é um tipo assumidamente sem valores patriotas, com pouca coragem pessoal, e que julga que uma vida, seja ela russa, ucraniana, portuguesa ou chinesa, não tem preço. Se for de uma criança então, a dívida que fica, de cada vez que uma é vítima desta guerra (ou de outra qualquer) é impossível de pagar.

As últimas notícias dão conta de pelo menos 100 crianças mortas. Não tenho palavras que consigam transmitir a tristeza que me percorre todos os poros, todas as veias, todos os milímetros do meu corpo, ao imaginar o medo que uma criança tem, neste cenário dantesco. O sofrimento dos pais que perderam quem mais amavam, e a constatação de que estas 100 crianças estão a horas e dias de se transformarem em 110, 120, 200.

É por isso que para mim o acto mais heroico que Zelenskiy, e o próprio povo ucraniano poderia fazer, era entrar em conversações, com o animal do Putin, e dizer-lhe que sim a tudo. Que não querem a NATO, que não querem a Europa, que não vão ter armas nucleares, que saltam ao pé-coxinho... Eu sei, eu sei que em teoria Putin ganharia esta guerra, mas não vejo as coisas por esse prisma. Quem verdadeiramente ganharia a guerra seria quem nela não morreu, nem iria morrer. Seria quem pudesse voltar para sua casa e para junto dos seus, seriam todas as crianças que poderiam voltar a sonhar em ir para a escola, crescerem e serem adultos.

O que realmente iria mudar no dia a dia do comum ucraniano? Julgam que muito? Não me parece. Esta, e todas as guerras de sempre, acabam por acontecer por motivos políticos, e é verdade que um político forte como o Zelenskiy dá outra moral, outro tipo de força, que nos faz ficar mais corajosos. Mas continua a valer mais um corajoso morto do que um cobarde vivo?

Posso garantir-vos que se fosse ucraniano a minha coragem estaria apenas apontada nos esforços para dali conseguir sair, com a minha mulher e os meus filhos. Seria um desertor? Seria, mas neste jogo que é a vida, já em pleno século XXI, devo dizer que não estava à espera de ter que decidir se deveria matar, ou não, inimigos, mas tendo que decidir, decido sempre que prefiro fugir.

Dos fracos não reza a história, aos fortes rezamos nós, no dia dos seus funerais.

10
Mar22

Crianças


Pacotinhos de Noção

Ontem foi bombardeado um hospital pediátrico. Uma guerra nunca é justa, mas não tem que ser porca nem maquiavélica, magoando crianças como se de adultos se tratassem.

Este vídeo não vai ajudar em nada as crianças na Ucrânia, mas pode ser que o ajude a si. Na eminência de uma guerra nuclear, e se tiver filhos, ame-os muito, exagere no amor. Ame-os como se não houvesse amanhã porque de facto não sabemos se haverá. E proteja-os.

04
Fev22

Quão hipócrita és tu?


Pacotinhos de Noção

 

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Sim, tu.

Este texto é para ti, Rodrigo, Joana, Pedro, Filipa, Alexandre e João, ou para qualquer outro nome de quem leia estas linhas.

O país é hipócrita, o Mundo também o é.

Dou exemplos.

Todos, repito, TODOS e não só o CHEGA, criticam os ciganos quando os veem, por volta de dia 20, nas suas romarias aos CTT para levantar o dinheiro do rendimento social de inserção.

Dizem serem miseráveis e que andam às migalhas, mas a verdade é que nestas eleições António Costa ganhou a maioria porque acenou aos mais velhos com um aumento de 10 € nas pensões, e aos funcionários públicos com uma promessa de pensar numa semana de trabalho de 4 dias, e num ordenado mínimo de 900 €. Não é também miserável dar um voto de confiança a um Governo sem propostas, apenas porque este acena com uma nota de 10 e promessas de menos trabalho e mais dinheiro?

O próprio Governo sofre desta hipocrisia, porque neste momento aguardam, e até salivam, por um dinheiro europeu lançado como se estivessem a atirar milho velho a pombos.

A comunidade internacional é também hipócrita.

Tanto alarido fizeram com a saída dos E.U.A do Afeganistão, mas apenas o fizeram porque era mediático. Entretanto, no Inverno rigoroso que por lá se faz sentir, diariamente têm morrido crianças com fome, frio e doenças que são por nós consideradas normais, ou até já quase extintas. Vi uma reportagem da SIC que mostrava uns pais desfeitos que embrulhavam o seu pequeno filho de dois anos, já morto, num cobertor, e que pela última vez pegaram-lhe ao colo para dali o levarem para o funeral. Mostraram também uma pequenina de 7 meses que dificilmente escapará à pneumonia, ao sarampo e à febre que lhe roubam os anos que poderia vir a ter, mas que não acontecerão. E onde estão os gritos da comunidade internacional? Saíram de lá os E.U.A, mas não existem mais países no mundo que devam ser chamados a intervir? E a ONU não serve para isto mesmo, ou só pode intervir quando o retardado do Putin ameaça a Europa com cortes de fornecimento de gás, e invasões à Ucrânia?

A maior hipocrisia é gritarmos aos quatro ventos que algo deve ser feito quando temos a consciência plena de que nada será feito, e sabendo que se tem essa consciência então pergunto, gritar para quê? Porquê?

Quem realmente decide não quer saber se a população grita, se chora, se morre. É feio, mas é verdade.

Agora, por exemplo, dado que as eleições já aconteceram, e foram ganhas, aposto que já se vão começar a regredir nas medidas relativas ao bicho peçonhento que teima em não nos largar, e não é porque tenha ficado mais fraco, mas sim porque o Governo está mais forte.

E para terminar falo em mais uma hipocrisia global que é a das medidas que visam acabar com o uso do carvão para fabricar electricidade. Esta é uma forma poluente, mas que acaba por ser a mais barata.

 Como se pode exigir a países como a Índia, o próprio Afeganistão, ou outros com o mesmo tipo de problemas sociais e económicos, que desistam da forma mais barata de produzir energia, apostando noutras mais caras, quando nem para comer, ou se aquecerem convenientemente eles têm capacidade? Vai-se condenar toda uma população para que outra se regozije ao afirmar nas suas reuniões COP, para onde foram nos seus aviões a jacto, que os objectivos foram cumpridos e estaremos então a viver num Mundo com menos carbono?

Sim, viveremos num Mundo com menos carbono mas também com menos valores éticos e morais e cada vez mais hipócrita.

02
Fev22

"Mas a mãe quer quer levar um estalo?"


Pacotinhos de Noção

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Há uns anos existia um anúncio do chimpanzé Gervásio.

O Gervásio conseguia separar o cartão do vidro e do metal e colocar nos respectivos caixotes de reciclagem. "Se o Gervásio consegue, tu também consegues" era o mote da campanha. A minha questão é a seguinte:

Visto que o Gervásio fazia a separação do lixo, o Gervásio passou a ser um chimpanzé educado, ou apenas um chimpanzé treinado?

Penso que não haverá grande contestação ao afirmar que tanto o Gervásio, como qualquer outro animal submetido a um treino, não passou assim a ser educado, e eu gostava de estabelecer um paralelismo entre o treino a que se submetem animais e a suposta educação que damos às nossas crianças.

Esta última frase tem tudo para correr mal e ser alvo de críticas, mas justificar-me-ei.

A primeira crítica é o treino aos animais. Não se amofinem já porque quando me refiro a um treino não falo de circos e coisas do género. Falo, por exemplo, do Piruças que têm em casa, que quando vê a trela já sabe que vai à rua, ou que vos dá a pata quando lhe pedem.

A segunda crítica é afirmar que existe relação entre o treino dos animais e a educação que damos às crianças.

Afirmo isto porque constato que cada vez mais as pessoas não percebem bem o que é a educação.

Educar não é instruir ao máximo uma criança para ela dizer "Olá, "Boa tarde" ou "Boa noite" quando os pais a recordam que o deve fazer. Isto porque se a educação funcionasse desta forma, as crianças manteriam o mesmo comportamento estando com os pais ou não.

De que adianta que o Joãozinho diga perdão, após mandar um valente arroto à mesa, se passado dois ou três minutos o vai fazer de novo porque pensa que ser educado não é evitar dar o arroto, ou controlar-se minimamente, mas sim pedir aquele perdão?

O Salvador e o Martim até tratam a mãe por você, mas podemos considerar serem educados quando dizem -"Mãe, você será estúpida?" ou "Mas a mãe quer quer levar um estalo?"

Este tipo de situações vão-se repetindo cada vez mais e observamos no quotidiano que a geração mais nova tem uma relação bastante afastada com o verdadeiro conceito de educação.

Miúdos barulhentos e mais "mexidos" sempre houve, mas os comportamentos pouco justificáveis, que vejo com regularidade, ultrapassam em larga escala os pequenos excessos normais da juventude e da adolescência.

Desde gritos descontrolados no meio da rua, assustando quem com eles se cruzam, a linguagem chula e ordinária, usada em alto e bom som, curiosamente cada vez mais usada por raparigas, à forma menos própria como se dirigem a alguém mais velho, ou como se comportam dentro de um qualquer estabelecimento comercial, demonstra que educação é algo à qual não tiveram acesso. Tiveram ao longo de algum tempo um treino dado pelos pais, pela escola e até pela sociedade, para poderem fingir que se comportam de forma minimamente aceitável, nalgumas situações específicas, mas é sempre sol de pouca dura e na realidade nem lhes podemos atribuir grande culpa, pois apenas reproduzem aquilo que lhes foi ensinado e etiquetado como educação, mas não é. 

Educação é algo mais e não se treina, ela vem como consequência de todo um ensinamento transmitido, que dará origem à formação de carácter de um indivíduo, e em que fará surgir naturalmente uma maneira de ser e estar a que poderemos então chamar de educação.

Gostaria de dizer que a verdadeira educação mais não é do que o ensinamento e a ajuda ao desenvolvimento da consciência na criança.

Ao desenvolver a consciência, a criança, e posterior adolescente, vão ter as ferramentas adequadas para conseguir perceber que o arrotar à mesa é rude, nojento e que não deve acontecer, que o tratar mal alguém, ainda para mais a mãe, é algo que nos pesará na consciência e que aquela pessoa que nos cria e viu nascer, não deve ser agredida de forma alguma.

A consciência é o que nos faz ter o discernimento entre o bem e o mal, que nos ajuda a agir correctamente.

Ajudar à formação da consciência não é difícil, basta-nos apenas conseguir passar valores positivos aos nossos filhos e não lhes dizermos tudo aquilo que realmente pensamos, porque quando damos a perceber aos nossos garotos o quão pouca esperança temos na população em geral, estamos assim já a demonstrar-lhe que não vale a pena que ele se torne alguém de jeito. E a verdade é que vale, porque vivemos agora uma crise social de valores, mas cabe a que cada um de nós, principalmente aos que têm filhos, moldar um futuro melhor, com mais camaradagem e harmonia social.

A ideia não me parece nada mal, agora implementar isto de forma a que sejam os computadores, os telemóveis, as redes sociais e os tablets a dá-lo a conhecer aos miúdos, para não ter assim que incomodar os pais, que têm também sempre algo mais importante para fazer, nos computadores, nos telemóveis, nas redes sociais e nos tablets, do que estar com os filhos, é que me parece mais difícil.

26
Out21

Agressão de bebé em creche de Oeiras


Pacotinhos de Noção

Podemos defender a luta contra a violência doméstica, contra as mulheres, contra os animais, contra seja aquilo que for, mas para mim, e sublinho o PARA MIM, não existe ser que precise de mais defesa e protecção do que uma criança inocente e desprotegida.

Todas as outras lutas são imensamente válidas, mas todas as vítimas descritas conseguirão, de uma forma ou de outra, ou pedir ajuda ou tentar, mesmo que num acto de desespero, tentar defender-se. Numa bebé de 14 meses a sua forma de defesa, e de pedido de ajuda, é precisamente aquele que se ouve no vídeo, o choro, e quando ouço o choro de uma criança que sofre com um mau trato, seja ele qual for, é nessa altura que percebo que o meu processo evolutivo está longe de estar concluído, e fico contente por não ser eu mesmo, uma ferramenta da justiça.

Tenho um filho de 4 anos e uma menina que tem 2 meses menos que a menina do vídeo. Se me passar pela ideia de que alguém, alguma vez, teria este tipo de comportamento com eles... Fico com os olhos raiados de sangue, só de imaginar.

Neste caso tenho filhos e tenho também uma familiar que trabalha com crianças. A luta dela prende-se muito com o facto de que muitas das creches existentes não têm todas as condições adequadas para receber crianças, principalmente condições humanas, que são as mais importantes. E atenção que muitas destas faltas de condições são em creches tuteladas pela segurança social.

Este texto não tem uma conclusão nem sequer uma moral. É apenas um desabafo e uma chamada de atenção para que todos percebam bem os sítios onde colocam os vossos filhos.

 

 

 

 

24
Ago21

Educação Reciclável


Pacotinhos de Noção

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E eis-nos a chegar quase ao fim de Agosto.

Se para alguns miúdos o ideal fossem férias o ano todo, outros há em que já começam a sentir umas borboletas na barriga a imaginar como tudo vai ser.

O medo de mudar de turma, que número é que vão ser e se terão ou não que levar com aquele professor rabugento.

Com o aproximar do início do ano lectivo começam os anúncios de "Regresso às aulas" e as reportagens para saber quanto vão os pais gastar em material escolar.

Uns falam em 300€, outros em 400€ e alguns até em 500€, porque é preciso comprar tudo novo. Mochilas, lápis de cor, canetas de feltro e os caderninhos todos. Para algumas disciplinas será preciso um dossier, porque há professores que preferem assim.

Depois temos os manuais. Todos novinhos e brilhantes, com aquele cheirinho a livro novo, cuja única coisa que se estranha é ainda não se terem lembrado de o transformar em perfume.

Tudo muito agradável, bonito e (mais uma vez) hipócrita.

Então vou comprar uma caixa de aspirinas e se pedir um pequeno saco de papel vegetal, que numa situação de mesmo muito aperto nem para limpar o rabo serve, tenho que pagar 0,10€ como forma dissuasora para que eu não o compre, com o intuito de mais facilmente se criar uma sociedade sustentável. Então não é que todos os anos, e quando digo todos são mesmo TODOS, os papás vão comprar material novo porque o do ano passado não serve. O que estava na altura na moda agora já não está. Os lápis de cor já tem a lata um poucochinho amachucada e assim o Martim não gosta. Grande parte dos cadernos ainda não chegaram a meio, mas o Afonso tinha tão pouco cuidado e então são precisos cadernos novos.

E os manuais?

O Governo, que nos taxa para diminuir a pegada ecológica, o mesmo Governo que não me deixa beber café em copos de plástico, tendo assim que beber nuns de cartão que mais parece o centro de um rolo do papel higiénico, tendo nas mãos uma oportunidade de ouro para incentivar à reciclagem, preferem dar prioridade aos "lobbies" das editoras e lançar manuais novo todos os anos, mudando só textos de página, e um ou outro desenho.

Mas quem quer ganhar dinheiro é natural que componha os seus estratagemas, o que não é natural é que quem não queira gastar o seu, o faça com tanto à vontade.

Porque é que os encarregados de educação este ano não inovam e tentam incutir aos seus pupilos o hábito de reaproveitar. Agarram nos cadernos antigos e criam novas capas. Os lápis de cor já não têm lata então façam um pequeno estojo... Bem sei, isto acaba por ser educar e há pais que se recusam determinantemente a ter este tipo de atitude para com os seus filhos, mas às vezes podem experimentar. Pode ser que resulte e pode até ser que gostem.

Para terminar ousarei fazer uma sugestão ao Ministério da Educação.

Bem sei que convém dotar os meninos todos com tablets e computadores portáteis. Vem ai a bazuca e enquanto se factura 150, gastam 40 e os restantes 110€ esfumam-se como que por magia. Mas se eventualmente conseguirem arranjar outro esquema mais vantajoso para forrar os vossos bolsos, eu sugeria um conteúdo programático obsoleto, é verdade, mas que acredito ser de máximo valor. Em vez dos computadores, que tal ensinar os garotos a ler e escrever!? Em casos extremos até ensinar umas continhas, ou a tabuada. É excêntrico, mas fica a dica.