Postigo, sinónimo de segurança?
Pacotinhos de Noção
Os mais novos não sabiam o que era um postigo, os mais velhos já nem se lembravam e a mim não me fez confusão nenhuma a reutilização desta palavra, porque nunca tinha deixado de a usar.
A porta da casa da minha mãe tem um postigo. Sempre teve e por isso o postigo ser sinónimo de segurança não é para mim novidade. Hoje o postigo utiliza-se de forma a criar uma barreira contra o Covid. Quando eu era miúdo servia para ver, por detrás da cortina, se quem batia à porta era o tipo para cortar a luz, ou o das mensalidades dos cobertores e optar por abrir ou não a porta. Eles tinham o mau hábito de vir cobrar em alturas que a minha mãe não tinha dinheiro, que durante o mês eram cerca de 27/28 dias. Mas estas situações fizeram do postigo algo muito presente no meu dia a dia.
Agora, que já sou adulto, o postigo da minha mãe ainda lá está. Os tempos são diferentes e já não se compram cobertores a prestações... na verdade já nem se compram cobertores, vivemos na era dos edredões. Mas o postigo volta a estar presente e embora lhe guarde muito boas recordações este novo postigo não me agrada assim tanto. É não só um postigo de segurança mas é também um postigo que serve de desculpa para desconfinar alguns negócios mas sem fazer, na realidade, nada por eles. Como é que uma sapataria ou uma "boutique" consegue fazer venda ao postigo? Vou comprar uma camisola e tento dar as melhores indicações possíveis ao funcionário, para que ele me traga o que quero ao postigo? E para experimentar, como vai ser? Experimento ali, junto ao postigo ou levo para casa e se estiver mal trago de volta? É que se for assim sou obrigado a andar o dobro das vezes na rua, fugindo assim ao confinamento que se continua a querer rígido.
O postigo faz sentido em coisas como cafés, padarias, pastelarias, até em sapateiros, mas em lojas de roupa, e todas as outras em que há uma necessidade de experimentar algo, o postigo não ajuda muito. Percebo que se queira manter o nível de transmissão baixo, mas não faz sentido não poder usar os provadores de uma loja de rua (que não tem o mesmo nível de afluência que uma de centro comercial) mas possa ir ao barbeiro ou até fazer uma tatuagem, cuja possibilidade de transmissão é bastante maior.
Voltando a coisas da minha infância, como era o postigo da casa da minha mãe. Este vírus parece aquela pessoa chata e inconveniente que veio fazer uma visita sem ser convidada, e quando essa pessoa aparecia o meu pai punha uma vassoura, de pernas para o ar, atrás da porta. Dizia que mandava essas visitas embora. Acho que está na hora de medidas drásticas, por isso é melhor pormos todos a vassoura atrás da porta. Daqui a uns dias, quando o vírus desaparecer, não necessitam de me vir agradecer.