Quando a desgraça tenta ter graça, aumenta a desgraça
Pacotinhos de Noção
Foi hoje expulso, no programa Big Brother, um cepo com orelhas. Erradamente há quem pense que isto aconteceu porque o ex-concorrente fez a saudação nazi, mas não é verdade. Foi expulso porque fez uma saudação nazi, foi chamado à atenção por colegas e dias depois voltou a fazer o mesmo. A maneira como tentou "sacudir a água do capote", afirmando que o assunto só é tema porque o colega lhe chamou à atenção, e que não vê qualquer problema no gesto porque até há humoristas que brincam com o mesmo, e que no Carnaval também há quem se mascare de Hitler, mostra que este tipo de 40 anos só conta como experiência de vida o ter deixado de chuchar no dedo, e há-de ter sido tardiamente.
Não me choca o indivíduo não ter poder argumentativo para se defender e tentar fazê-lo com desculpas tão esfarrapadas, mas já me choca mais assistir a outras pessoas que, embora condenando o gesto, também o justificam de alguma forma e argumentam também que há "roasts", humoristas, "stand up comedians", e programas que brincam com estas situações.
Por muita piada que este concorrente do Big Brother possa achar a si mesmo, eu não acredito que exista uma pessoa com dois dedos de testa, e no pleno das suas capacidades mentais que desse meio cêntimo para o ver dizer ou fazer, piadas. Dai ele não poder sequer tentar comparar-se a alguém que faz disso vida. Mal comparado é o mesmo que na praia construir um castelo de areia e afirmar que por conseguir fazê-lo então já deverá assinar projectos da mesma envergadura que o Frank Gehry.
Já para não falar de duas das características comuns a quase toda a gente que faz humor e que são a inteligência e a cultura geral, logo ai...
"Allô, Allô", o "Grande Ditador" de Charlie Chaplin, o mais recente "Jojo Rabbit" até mesmo o "A Vida é Bela", que sendo dramático tinha os momentos em que o pai Roberto Begnini ridicularizava os nazis, são prova de que se pode perfeitamente brincar com algo, que tem ainda feridas muito abertas na história da humanidade, mas que não é por isso que não se pode tocar. Isto porquê? Porque quem soube trabalhar comicamente este assunto fê-lo pelo prisma de ridicularizar aqueles que não suportariam nunca ser ridicularizados, aqueles que tanta dor e sofrimento infligiram e que agora não passam de meros palhaços que servirão de entretenimento. As vítimas serão louvadas, os agressores ridicularizados. Já o gesto, do coitadinho do Hélder do Big Brother, não ridicularizou os nazis. Usou a saudação só porque acha o gesto engraçado. As vítimas aqui não foram louvadas nem os agressores ridicularizados. O único ridículo foi ele.