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Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

10
Mar23

Não armo problemas com ninguém...


Pacotinhos de Noção

… nem sou conflituoso, mas após ver este vídeo, sinto que alguém devia levar nas trombas.

Depois desta tortura de cerca de 1 minuto e meio, surge em mim uma mistura de sentimentos. Se por um lado gostaria de abraçar e reconfortar aquele menino, por outro gostaria de dar umas valentes lambadas nos outros. Só para eles terem uma pequenina percepção da impotência que o colega sentiu.

Tudo está mal nesta situação, e o problema não se resume a esta escola, mas servirá como exemplo perfeito, por parecer que a bizarria foi feita à medida.

Para começar queria dizer que a javardona, de cabelo sujo, que fala no vídeo não devia nem sequer passar à porta de uma escola, quanto mais trabalhar com crianças.

Parto do princípio que será uma das Auxiliares de Acção Educativa da escola. Daquelas das que não podem andar atrás de todos os alunos.

Na escola primária onde andei, a antiga P3 de S.João do Estoril, tínhamos 3 contínuas, pois era assim que eram chamadas, numa altura em que trabalhar e cuidar dos miúdos era mais importante do que ir fumar para a porta das traseiras do refeitório, ou estar a falar mal das colegas, ou das professoras.

Eram a D.Rosa, a D.Inácia, e uma contínua grandalhona de quem nunca soube o nome.

Os portões da escola estavam sempre abertos, e não existiam os gradeamentos, estilo prisão, que hoje existem.

Sendo só 3 as contínuas, a verdade é que volta e meia estávamos a ouvir uma reprimenda para não fazer isto ou aquilo, e não era rara a vez em que meninos ficavam sem intervalo, de castigo, devido a algo que fizeram, e que as docentes toparam, durante as rondas do recreio.

Mesmo sendo só 3 ainda faziam coisas como limpar as salas e aquecerem as marmitas dos miúdos.

Na escola do meu filho (ainda está na pré-primária), além de uma educadora, há ainda uma auxiliar por cada sala, e pelo menos mais umas 4 espalhadas pela escola. Também dizem que não são suficientes, e que não podem andar atrás de todos os alunos.

A javardona do vídeo não hesita em atribuir a culpa a um presumível pai alcoólico que, segundo diz, nem alimenta em condições o filho. Aquilo que uma escola normal, com pessoas normais a lá trabalhar faria, ao saber que a criança pertence a uma família problemática, era proporcionar o conforto e a segurança que ele não tendo em casa, poderia encontrar na escola, mas não. Em vez disso temos uma retardada a dizer que o miúdo em casa come mal e que toma os medicamentos erradamente, acabando assim, por ter os seus “cheliques”.

Autismo não é “chelique”, e quando alguém se refere à doença dessa forma, só a certifica como sendo burra e ignorante, algo que não abona muito a favor do Ministério da Educação que, pelos vistos, tem uns critérios muito latos para a contratação de uma auxiliar.

Estou revoltado com a situação e muito com a atitude da auxiliar porque, vou aqui admitir, o meu filho faz uma semana que não vai à escola devido a situações, não tão graves como esta, mas que, por parte das auxiliares, a reacção e os argumentos foram exactamente os mesmos.

O meu filho tem 5 anos, e não tem nenhuma patologia, muito pelo contrário.

Como disse, está na pré-primária, mas só entrou este ano. Aprendeu sozinho aos 4 anos a ler e escrever, e já sabe somar e subtrair. É um miúdo lindo (sou suspeito para falar, mas de facto tem uma beleza fora do normal) e é altíssimo para a idade. Com 5 anos tem o tamanho de um miúdo de 8 ou 9. No entanto, tem um grande defeito que é o de ser um parvinho.

É comum roubarem-lhe o lanche, brinquedos e até tentarem bater-lhe. 

Quando falei com a educadora, e com a auxiliar, a queixar-me da situação, os argumentos foram de que “são poucas, não podem andar atrás de todos os alunos e que os meninos em questão nunca foram problemáticos e não são conflituosos”… Isto lembra algo?

É muito natural que os alunos em questão não sejam de dar problemas, ou pelo menos é natural que as funcionárias não saibam desses problemas, porque uma das coisas que elas repetem aos alunos, até à exaustão, é que NÃO QUEREM QUE ELES FAÇAM QUEIXINHAS A NINGUÉM. Ora isto, no meu entender, é muito perigoso, e completamente contrário ao que tenho ensinado ao meu filho. Se há coisa que quero que ele faça é precisamente que seja queixinhas. Que conte, de imediato, a um adulto, se alguém lhe fizer mal, ou se tiver conversas menos próprias. É assim que deve ser, numa altura tão cheia de perigos. Ainda por cima nem na escola podemos confiar, pois quando se juntam um grupo de rufias, que não têm nenhum pudor em bater num coleguinha autista, deixando-o até a sangrar, e ainda filmam o acto, então temos o caldo entornado, porque a ideia que dá é que não querem que este tipo de problemas se saibam, para que assim não tenham que agir.

Por fim, gostaria também de falar em algo que já escrevi em tantos outros textos, e que é a demissão dos pais na questão da educação.

Há pouco vimos uns bandidos, de 14, 15 e 16 anos, a bater com um pau num imigrante, e até a tentarem incendiar-lhe o cabelo. Foi outro acto de violência gratuita, por parte de jovens.

 Enquanto os pais destes meninos, que mais tarde serão homens, preferem dar telemóveis onde os miúdos afundam a cabeça, ficando alheios de tudo o que se passa à sua volta, deixando de ter contacto visual com outras pessoas e com outras crianças, em vez de lhes darem atenção, criarem bons momentos familiares, e até repreenderem quando o devem fazer, contribuem para criar seres vazios de sentimentos, com emoções e prioridades trocadas, onde a definição de empatia é apenas algo que lhes fica bem escrever nas redes sociais.

Ontem foi o dia da mulher, são seres frágeis que muitas vezes perecem às mãos dos homens com quem se relacionam, e a luta das mulheres é muito válida, mas convém dizer uma coisa... São adultas, o que à partida garante que já têm uma estrutura psicológica para perceber aquilo pelo que passam, e até a recorrer ao socorro que as pode libertar, mas uma criança! Uma criança ainda não está formada nesse sentido, e a fragilidade dela é total, o que significa que quando lhe batem, a ponto de a fazer sangrar, quando a gozam, quando lhe tiram os sapatos e os atiram ao ar, apenas para humilhar, à criança resta muito pouco mais a fazer do que aquilo que este menino fez, que é chorar, gritar e pedir que parem... Os outros são genuinamente maus e não pararam, e também não houve um único adulto que lá os fosse parar.