É proibido comer, diz o artigo que eu li
Pacotinhos de Noção
Em 1964 Roberto Carlos lançou uma música cujo refrão era "É proibido fumar, diz o aviso que eu li". Quase 60 anos depois a música poderia ser alterada para o título que encabeça este texto.
É curioso que, numa altura em que todos gritam por liberdade, ninguém admite nem permite que lhes digam o que fazer e até apregoam serem donos dos seus narizes, venha o Governo e proíba determinados alimentos nas escolas, demonstrando que tem laivos de totalitarismo, achando até que pode contar as calorias que cada um pode ingerir.
Curioso é também que passa a ser proibido venderem aos miúdos nas escolas rissóis, chamuças e croquetes, mas é permitido que fumem. E não estou só a falar no ensino secundário, pois assisto com frequência miúdos a fumar nas entradas das E.B 2+3, antigas preparatórias. Outra coisa que assisto com frequência é que hoje em dia os miúdos pouco ou nada comem nas escolas, por variadíssimas razões.
A primeira é porque têm demasiado dinheiro na carteira. Com a idade deles, rara era a vez que tinha 1€, quanto mais cartão bancário.A segunda é porque tendo essa capacidade económica, preferem ir até ao supermercado mais próximo e comprarem lá bolos e refrigerantes que depois consomem, ou nas imediações do supermercado ou nas da escola, mas seja qual o ponto escolhido para a comezaina o resultado final é sempre o mesmo. São porcos e deixam as latas e embalagens espalhadas pelo chão, ou então nos parapeitos de janelas de pessoas que vivem na zona. Até parece impossível, uns jovens tão preocupados com o ambiente, e que até fizeram festa quando veio cá a Greta Thunberg, mas na prática são uns javardolas.
Terceira, mas não menos importante razão é porque a comida que há nas escolas é uma autêntica bodega. Já quase não existem escolas com refeitórios que preparem as suas refeições. A comida vem de fora, de empresas de catering que ganharam um qualquer concurso público em que para que a margem de lucro seja maior, obviamente que não vão gastar muito em produtos de qualidade.
Como a comida não presta os miúdos viam alternativa nos bares das escolas, mas com as novas proibições deixa de ser permitido que esses bares vendam aquilo a que os miúdos estavam habituados e a consequência é a procura de outros bares, pelos jovens.
E encontram. Encontram snacks-bar, geralmente de má fama, onde a comida é barata e a clientela rasca e onde os meninos, que não podem comer comida de plástico, aproveitam e até fazem corridas de imperiais.
"Ah, mas os miúdos comem muitas porcarias e depois ficam obesos."
Pois que o Ministério da Educação aposte mais no desporto extracurricular. A escola não serve só para formar o intelecto, também pode ajudar a moldar o carácter e porque não o físico?
Este tipo de proibições, e indicações de como cada um deve viver a sua própria vida, são características próprias de Estados socialistas. Para quem não percebe o conceito vou tentar simplificar.
O socialismo é como aqueles pais que tentam opinar sobre tudo na vida dos filhos, mesmo quando eles já são maiores, casados, têm casa própria e filhos, mas uma vez pediram 30€ aos pais e dessa forma deram margem para que eles tenham uma opinião sobre tudo. Deu para perceber.
Uma vez que este é um Estado que tem uma palavra a dizer sobre tudo eu queria perguntar se para limpar o rabo, o papel higiénico de folha tripla da Colhogar é o adequado ou também poderá ser proibido?
É o branquinho, não é o cor-de-rosa perfumado.
Aguardo rápida resposta.