Festival do "Peinda"
Pacotinhos de Noção
Ontem fizemos um programa em família.
Algo já programado, mas que serviu de surpresa para os miúdos. O mais velho, de 6 anos, já tinha pedido várias vezes, e este ano, sem aviso, comprámos 4 bilhetes para o Festival do Panda.
18 € cada bilhete, crianças desde os 2 anos já pagam, pelo que foram 72 € os 4, mais 4 € de comissão para a FNAC. Não é o mesmo valor dos Coldplay, mas para o que foi, barato não é. Mas atenção, esta é a perspectiva dum tipo adulto, já sem os olhos de infante que outrora teve. Para os meus filhos, QUASE TUDO, foi impecável.
Não estava à espera que fosse perfeito, e em termos do festival em si posso dizer que os problemas foram mínimos. Houve algumas falhas de som, fiquei com a sensação de que as crianças não tem uma interação minimamente interessante com o Panda e os outros bonequinhos, e julgo que só se ganharia se durante o espectáculo houvessem alguns animadores a circular por entre as crianças. E isto é, como disse há pouco, um mal menor que não me toldaria negativamente o espírito, mas esqueci-me de um pequeno pormenor que, deixou de ser tão pequeno quando o senti na pele. Esqueci-me do factor humano, e da sua falta de noção.
Estupidamente não tive em consideração que o Festival do Panda não seria só para mim e para os meus. Não é que fosse mudar grande coisa, pois não iria deixar de ir, mas podia ter-me preparado psicologicamente para o embate, coisa que não aconteceu.
Vou contar as coisas que se passaram para perceberem como, não sendo nada de demasiado grave, todas juntas corroem um pouco a paciência, o que pode levar a que um dia perca a cabeça, e depois faça um disparate que é o de não fazer absolutamente nada, pois alguém pode não gostar que eu diga ou faça algo, e ainda levo um ou dois tabefes, coisa que não me agradaria, de todo.
A primeira foi logo na fila.
Em Oeiras o Festival do Panda realiza-se dentro do Estádio Municipal Mário Wilson, ou Estádio Municipal de Oeiras, e para entrar há que chegar ao fim da fila. Íamos em sentido contrário ao da mesma, e de repente esta acaba. Vemos bem lá ao fundo pessoal das barracas a tirar "selfies", com os seus Iphones com capas com muitos brilhantes em volta, não ligámos e ocupámos o último lugar, quando de repente esse mesmo pessoal das barracas começa a gritar, histericamente, que temos que ir para o fim da fila. Fiquei com cara de parvo... perdão, com mais cara de parvo que o habitual, e deve ter dado para reparar bem, porque a labrega mor disse:
"- O fim da fila não é aqui. Agente só parámos porque agente tavamos a tirar selfies."
Coincidência das coincidências, ela tirava fotos numa esquina, e pensei, para com os meus botões, que o local não lhe deveria ser novidade, por isso não percebi a razão do registo fotográfico. Quando contornei essa mesma esquina vejo uma fila que ia para lá do sol-posto, o que me leva a indagar o que passa na mente daquele estafermo, para travar uma fila daquelas dimensões, ainda por cima para tirar uma chapa fotográfica daquele focinho, que mais parecia um acidente de choque frontal. Já aqui fiquei um bocadinho lixado, mas tentei não levar em consideração.
Uma vez dentro do recinto, o pessoal tem que se sentar no chão. Já sabia, levei mantinha, é relva sintética, nem formigas tem, então está tudo bem. O que depois deixa de já estar assim tão bem, são a quantidade de idiotas que levam os filhos nos carrinhos de bebé. Crianças pequenas é compreensível, agora putos de 5 e 6 anos, que já só lhes falta irem no carrinho a fumar um cigarro, não faz sentido.
Sim, eu percebo que sejam uma trampa de pais, e que o transporte lhes sirva de trela para os putos. Presos no carro os miúdos não têm tendência a fugir, e assim podem dar uma atenção redobrada aquilo que verdadeiramente lhes importa, que são as redes sociais, onde querem postar aquela "selfie", tirada numa qualquer esquina.
Mas se querem andar com os putos presos, como se estivessem a empurrar um tipo de cadeira de rodas, o problema não é meu, façam aquilo que quiserem, pois isso não me incomoda. O que já me incomoda é que depois tiram os miúdos dos carrinhos, mas deixam a trampa das carroças, abertas, a tapar a visibilidade para o palco.
No começo do festival os pais são instruídos a ficar sentados no chão, para que os miúdos consigam ver. É algo lógico que nem deveria ter que ser dito, pois se estamos num espectáculo que tem um palco (que, aliás, não perdia nada em ser um pouco mais alto) e é dirigido a um público que não tem mais que 115/120cm, não convém haver obstáculos que interfiram no espaço de observação da criança. Pois a verdade é que a determinada altura havia uma barreira de vários carrinhos, de famílias amigas, que até já tinham os miúdos no chão, mas que não lhes apeteceu fechar os veículos, não permitindo assim que quem estivesse atrás pudesse sequer imaginar que existia ali um palco.
Então e não é que foi necessário irmos pedir àquelas pessoas que fizessem o favor de fechar os carrinhos, e não é que tinha que haver uma besta de uma avó que tentou ali dar início a um bate-boca!
Tenho que admitir que, mais uma vez, quem esteve bem foi a minha mulher, que se virou para o estafermo e disse-lhe:
"Deixe de ser conflituosa e feche a porcaria do carrinho, que foi só isso que lhe vim pedir. De resto, não quero mais nenhum tipo de conversa consigo."
A verdade é que resultou e a conversa acabou por ali.
Mas os deuses festivaleiros dos eventos musicais não quiseram mesmo que fosse possível desfrutar daquele momento, porque a verdade é que pagámos 72 € para, pura e simplesmente, estarmos a olhar para cus. É isso mesmo. Estivemos o festival inteiro a ver cus, e aquilo nem era o festival erótico de Lisboa. Os pais decidiram que aquilo seria apenas mais um Vilar de Mouros, ou um Rock in Rio, e às 9 da manhã, ainda nem tinha começado o espectáculo, e já andavam a bebericar as suas "jolas" e punham-se em pé a dançar ao som da música do Ruca. Muitos trouxeram arcas frigoríficas de casa, para irem munidos do seu arsenal etílico pessoal, mas aqueles com mais poder de compra, foram os tais que, para se irem abastecer, andaram durante todo o evento a passear as "peindas" em frente à cara dos miúdos e dos outros pais, que nunca foram alvos de lobotomia, e como tal conseguiram perceber que os adultos tinham que ficar sentadinhos no chão.
Como mencionei, houve quem julgasse também que aquilo era o Mega PicNic do Continente, e levaram lancheiras. Escusado será dizer que não foi preciso muito para que o relvado do estádio rapidamente tivesse ficado emporcalhado, com pacotes vazios de sumos, bolachas e batatas fritas...
Para finalizar concluo que isto é como aquelas "bucket list", mas que um gajo tem que fazer antes que os miúdos cresçam. O Festival do Panda está riscado, fica a faltar um parque aquático qualquer, uma ida à Disney e muita paciência para aturar gentalha que não vale uma beata, e que ainda por cima têm filhos.