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Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

02
Jul23

Festival do "Peinda"


Pacotinhos de Noção

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Ontem fizemos um programa em família.

Algo já programado, mas que serviu de surpresa para os miúdos. O mais velho, de 6 anos, já tinha pedido várias vezes, e este ano, sem aviso, comprámos 4 bilhetes para o Festival do Panda.

18 € cada bilhete, crianças desde os 2 anos já pagam, pelo que foram 72 € os 4, mais 4 € de comissão para a FNAC. Não é o mesmo valor dos Coldplay, mas para o que foi, barato não é. Mas atenção, esta é a perspectiva dum tipo adulto, já sem os olhos de infante que outrora teve. Para os meus filhos, QUASE TUDO, foi impecável.

Não estava à espera que fosse perfeito, e em termos do festival em si posso dizer que os problemas foram mínimos. Houve algumas falhas de som, fiquei com a sensação de que as crianças não tem uma interação minimamente interessante com o Panda e os outros bonequinhos, e julgo que só se ganharia se durante o espectáculo houvessem alguns animadores a circular por entre as crianças. E isto é, como disse há pouco, um mal menor que não me toldaria negativamente o espírito, mas esqueci-me de um pequeno pormenor que, deixou de ser tão pequeno quando o senti na pele. Esqueci-me do factor humano, e da sua falta de noção. 

Estupidamente não tive em consideração que o Festival do Panda não seria só para mim e para os meus. Não é que fosse mudar grande coisa, pois não iria deixar de ir, mas podia ter-me preparado psicologicamente para o embate, coisa que não aconteceu.

Vou contar as coisas que se passaram para perceberem como, não sendo nada de demasiado grave, todas juntas corroem um pouco a paciência, o que pode levar a que um dia perca a cabeça, e depois faça um disparate que é o de não fazer absolutamente nada, pois alguém pode não gostar que eu diga ou faça algo, e ainda levo um ou dois tabefes, coisa que não me agradaria, de todo.

A primeira foi logo na fila.

Em Oeiras o Festival do Panda realiza-se dentro do Estádio Municipal Mário Wilson, ou Estádio Municipal de Oeiras, e para entrar há que chegar ao fim da fila. Íamos em sentido contrário ao da mesma, e de repente esta acaba. Vemos bem lá ao fundo pessoal das barracas a tirar "selfies", com os seus Iphones com capas com muitos brilhantes em volta, não ligámos e ocupámos o último lugar, quando de repente esse mesmo pessoal das barracas começa a gritar, histericamente, que temos que ir para o fim da fila. Fiquei com cara de parvo... perdão, com mais cara de parvo que o habitual, e deve ter dado para reparar bem, porque a labrega mor disse:

"- O fim da fila não é aqui. Agente só parámos porque agente tavamos a tirar selfies."

Coincidência das coincidências, ela tirava fotos numa esquina, e pensei, para com os meus botões, que o local não lhe deveria ser novidade, por isso não percebi a razão do registo fotográfico. Quando contornei essa mesma esquina vejo uma fila que ia para lá do sol-posto, o que me leva a indagar o que passa na mente daquele estafermo, para travar uma fila daquelas dimensões, ainda por cima para tirar uma chapa fotográfica daquele focinho, que mais parecia um acidente de choque frontal. Já aqui fiquei um bocadinho lixado, mas tentei não levar em consideração.

Uma vez dentro do recinto, o pessoal tem que se sentar no chão. Já sabia, levei mantinha, é relva sintética, nem formigas tem, então está tudo bem. O que depois deixa de já estar assim tão bem, são a quantidade de idiotas que levam os filhos nos carrinhos de bebé. Crianças pequenas é compreensível, agora putos de 5 e 6 anos, que já só lhes falta irem no carrinho a fumar um cigarro, não faz sentido.

Sim, eu percebo que sejam uma trampa de pais, e que o transporte lhes sirva de trela para os putos. Presos no carro os miúdos não têm tendência a fugir, e assim podem dar uma atenção redobrada aquilo que verdadeiramente lhes importa, que são as redes sociais, onde querem postar aquela "selfie", tirada numa qualquer esquina.

Mas se querem andar com os putos presos, como se estivessem a empurrar um tipo de cadeira de rodas, o problema não é meu, façam aquilo que quiserem, pois isso não me incomoda. O que já me incomoda é que depois tiram os miúdos dos carrinhos, mas deixam a trampa das carroças, abertas, a tapar a visibilidade para o palco.

No começo do festival os pais são instruídos a ficar sentados no chão, para que os miúdos consigam ver. É algo lógico que nem deveria ter que ser dito, pois se estamos num espectáculo que tem um palco (que, aliás, não perdia nada em ser um pouco mais alto) e é dirigido a um público que não tem mais que 115/120cm, não convém haver obstáculos que interfiram no espaço de observação da criança. Pois a verdade é que a determinada altura havia uma barreira de vários carrinhos, de famílias amigas, que até já tinham os miúdos no chão, mas que não lhes apeteceu fechar os veículos, não permitindo assim que quem estivesse atrás pudesse sequer imaginar que existia ali um palco.

Então e não é que foi necessário irmos pedir àquelas pessoas que fizessem o favor de fechar os carrinhos, e não é que tinha que haver uma besta de uma avó que tentou ali dar início a um bate-boca!

Tenho que admitir que, mais uma vez, quem esteve bem foi a minha mulher, que se virou para o estafermo e disse-lhe:

"Deixe de ser conflituosa e feche a porcaria do carrinho, que foi só isso que lhe vim pedir. De resto, não quero mais nenhum tipo de conversa consigo."

A verdade é que resultou e a conversa acabou por ali.

Mas os deuses festivaleiros dos eventos musicais não quiseram mesmo que fosse possível desfrutar daquele momento, porque a verdade é que pagámos 72 € para, pura e simplesmente, estarmos a olhar para cus. É isso mesmo. Estivemos o festival inteiro a ver cus, e aquilo nem era o festival erótico de Lisboa. Os pais decidiram que aquilo seria apenas mais um Vilar de Mouros, ou um Rock in Rio, e às 9 da manhã, ainda nem tinha começado o espectáculo, e já andavam a bebericar as suas "jolas" e punham-se em pé a dançar ao som da música do Ruca. Muitos trouxeram arcas frigoríficas de casa, para irem munidos do seu arsenal etílico pessoal, mas aqueles com mais poder de compra, foram os tais que, para se irem abastecer, andaram durante todo o evento a passear as "peindas" em frente à cara dos miúdos e dos outros pais, que nunca foram alvos de lobotomia, e como tal conseguiram perceber que os adultos tinham que ficar sentadinhos no chão.

Como mencionei, houve quem julgasse também que aquilo era o Mega PicNic do Continente, e levaram lancheiras. Escusado será dizer que não foi preciso muito para que o relvado do estádio rapidamente tivesse ficado emporcalhado, com pacotes vazios de sumos, bolachas e batatas fritas...

Para finalizar concluo que isto é como aquelas "bucket list", mas que um gajo tem que fazer antes que os miúdos cresçam. O Festival do Panda está riscado, fica a faltar um parque aquático qualquer, uma ida à Disney e muita paciência para aturar gentalha que não vale uma beata, e que ainda por cima têm filhos. 

31
Ago22

Duas formas de ver estrelas


Pacotinhos de Noção

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Quase a terminar as férias, hoje decidimos fazer uma visita ao Planetário. 

Só lá tinha ido em miúdo, ainda na escola primária, a minha mulher nunca foi, e o nosso filho iria gostar de certeza.

Em relação ao preço dos bilhetes não achei escandaloso. 15 € chegaram para dois adultos e uma criança de 5 anos.

Escolhemos a sessão que melhor se adequava à idade e ficámos agradavelmente surpreendidos por perceber que o Planetário não é uma atracção esquecida pelas pessoas. Estava uma sala bastante agradável e até o conferencista mencionou o facto.

A sessão foi óptima, o meu filho gostou imenso e foram 40 minutos que passaram num instantinho.

Esta foi a parte positiva, e agora falemos da outra, mas que em nada tem que ver com o Planetário, ou quem nele trabalhe.

Tenho duas crianças, uma de 5 anos e outra de 1 ano e 10 meses. Obviamente, e como qualquer ser minimamente pensante, não me passou pela cabeça imaginar levar a mais pequena a uma sessão numa sala escura, onde se requer silêncio e  alguma atenção, pois a primeira coisa que me enervou um bocadinho foi, na fila da bilheteira, um idiota que reclamava por não permitirem a entrada da sua pequena de ano e meio. Não conseguia perceber o porquê desta situação, e estava até a sentir que estaria a ser prejudicado na sua condição de pai...

Acho não haver muito o que dizer aqui. Se aquela besta não percebe o porquê, parece-me sensata a atitude do senhor da bilheteira que lhe respondeu um seco "Pois é, mas não pode." E pronto, é ignorar e seguir.

Não sei se estão familiarizados com o edifício do Planetário de Lisboa. As bilheteiras são no R/C, e a sala de projecção é no primeiro andar. Antes da sessão as pessoas aguardam num pequeno átrio onde estão expostos o antigo projector do planetário, e um antigo e enorme telescópio. Estive a explicar ao meu filho o que aquilo era, fingindo-me de sábio e entendido, pois é só por esta altura que conseguimos iludir os nossos filhos, e ele, talvez interessado, ou apenas de simpatia extrema, parecia ouvir aquilo que lhe dizia. Bem, para dizer a verdade não sei bem se ouvia porque, a determinado momento, deixamos de estar em Belém e fomos teletransportados para Sete Rios, mais propriamente para a Aldeia dos Macacos, no Jardim Zoológico. É que os pequenos seres retardados que ali se encontravam em espera, decidiram usar, tanto o telescópio, como o projector, como ferramentas de equilibrismo, e começaram a trepar por eles acima. Isto entre guinchos e gritinhos que nos furavam os tímpanos como se a Sharon Stone nos estivesse a cravejar o picador de gelo no cérebro.

Esta tortura parou porque, entretanto, começamos a entrar na sala.

Como disse sou pai de duas crianças. Não são anjinhos, longe disso. Tem dias que me moem tanto a cabeça que até dá pena não fumar, só para ter a velha desculpa de que "vou comprar tabaco e talvez volte", mas o tipo de comportamento que têm em público, principalmente o mais velho, em nada tem a ver com a maneira como se comporta em casa. Na rua até parece uma criança educada, evoluída e respeitadora. Quem o vê, quer ficar com ele, e de facto entrámos na sala, ele cumprimentou o conferencista, sentou-se e ficou a falar connosco, os pais, tirando dúvidas, perguntando o que iríamos ver. Já os macaquinhos que estavam lá fora, entraram também, e as cadeiras do Planetário, as quais são quase como marquesas para nos deitarmos, passaram a ser trampolins para os meninos saltarem. Eram muitas Carlotas, Matildes, Salvadores e Vicentes. Curiosamente os Fábios e os Rubéns, estavam sentadinhos com os seus pais, todos com os "caps" de pala para trás, e com as suas t-shirts de cava, mas caladinhos e com um comportamento bem civilizado. Parece que aqui para os lados de Cascais, as regras da boa educação são apenas algo que fica bem em livros de etiqueta, na revista Hola! e quando a Madalena Abecasis manda que assim seja.

Perguntarão vocês, "onde raio estão os pais destas crianças?"

a progenitora, que incomodavam quem ali foi para passar um bom bocado, e que eles não o estavam a permitir. Fiz esse meu "schiuu" e ainda bem que o fiz, porque resultou exactamente da mesma forma como se não o tivesse feito...

É isso mesmo. Nem ligaram. Ninguém quer saber se incomoda ou não, e a  grande vontade com que fiquei foi a de levantar-me e começar a distribuir chapadões, e desta forma as estrelas que iríamos ver não seriam só as projectadas no tecto do Planetário. Só não o fiz porque tive em consideração as regras da civilidade, da boa educação e porque poderia haver um pai, ou até uma mãe, maior ou mais forte do que eu, e também eu poderia ficar a ver estrelas.