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Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

10
Jul23

Já não há prazer na esquina


Pacotinhos de Noção

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Das várias coisas que ficam numa esquina, e da qual podemos obter alguns serviços prazerosos, aquela que escolhi para mim foi, já há algum tempo, a Padaria da Esquina.

Já visitei várias das lojas do Chef Vítor Sobral, mas a minha de eleição era a de Campo de Ourique.

Tinha os melhores pastéis de nata que já comi, rissóis de camarão divinais e tinham também uns rissóis de bacalhau de comer e chorar por mais. Os croissants Porto, recheados com doce de ovo, deixavam-me com água na boca só de olhar.

Falei nestas delícias, mas a oferta era muito variada, e parecia que não tinham fim. Havia sempre fila e às vezes desistia, pois a espera era prolongada, mas quando conseguia lugar a experiência era sempre agradável, quer pela comida, quer pelo espaço e também pela simpatia e profissionalismo dos funcionários.

Entretanto, não sei o que se passou. Não vou usar a pandemia como desculpa, porque já lá fui depois disso e a qualidade continuava a mesma, mas desde há uns tempos para cá, quase tudo mudou.

A oferta está reduzida e muita da que há, passou a ser intragável. Na 6.ª feira, ao almoço, já não havia quase nada, então comprei um pastel de massa tenra que, de tão oleoso, me deixou mal disposto para o resto do dia. 

No Domingo, ao pequeno-almoço continuava a haver pastéis de massa tenra, mas havia alguns tão queimados que só de olhar fazia impressão. Infelizmente poucas coisas mais havia e não faz sentido que num Domingo, às 10 da manhã, não exista quase nada para um pequeno-almoço.

Sentámo-nos a uma mesa suja, que tivemos que pedir para limpar, mas não sem antes termos ficado um longo período à espera, pois a loja estava vazia, mas não era só na montra da pastelaria. Estava vazia de clientes, e estava também vazia de funcionários, que estavam todos metidos lá para a copa, talvez também eles a tomar os seus pequenos almoços, pelo menos é a conclusão a que chego, tendo em consideração que quando alguém apareceu, vinha a mastigar.

Bem sei que não nos devemos guiar pelas aparências. É um erro comum e podemos estar a ser injustos, e aqui provavelmente até estarei, porque o facto de alguns funcionários terem o aspecto de terem fugido da prisão, não significa que tenham fugido da prisão, podem pura e simplesmente estar apenas em liberdade condicional.

Mesmo a maneira como se dirigem ao cliente passou a ser demasiado informal. Não quero que me tratem por doutor ou engenheiro, mas também não quero que me tratem por tu... Quer dizer, não é o "TU" que me incomoda, se for a ver bem a coisa. É a utilização de um "TU" que soa muito a reles, a ordinário. Acho que não me consigo explicar muito bem nesta matéria, mas dirigirem-se a mim com um "posso ajudar-te nalguma coisa" é muito diferente de um "então o que é que vais comer"... Não sei, aqui posso estar a ter um preciosismo que só acontece porque todo o conjunto é mau, mas realmente não me agrada.

Pedi "dois garotos frios, branquinhos, quase sem café", que eram para os miúdos, e "um abatanado menos de meia chávena" Apareceram-me dois garotos castanhos escuros, a escaldar e um balde de café a transbordar. Dei conta do engano e a primeira pergunta feita foi se eu queria que alterassem!! O cliente não tem sempre razão, não me rejo por essa bitola, mas que raio, se faço um pedido, e não vem conforme pedi, acho que não é preciso ser um mestre da dedução para presumir que quero como a princípio solicitei.

O abatanado voltou dentro dos conformes, os garotos voltaram quase tão escuros como os primeiros.

Com calma falei com a menina e expliquei que são garotos para as crianças, não podem vir a escaldar e é para ter o mínimo de café possível, quase nada.

A rapariga entrou em parafuso e disse que não sabia como fazer porque aquilo que tinha feito já era ter tirado uma italiana e depois juntou leite, por isso não dava para fazer de outra maneira. Tive que sacar do meu diploma de Harvard e dizer-lhe para despejar aqueles garotos quase até ao fim e depois encher o resto da chávena com leite. Ela fez aquele característico estalido de língua, de quem está muito chateado, e foi fazer o que lhe pedi.

Não sei se ficou com dores de cabeça, se vai ter que ficar de repouso uns dias em casa por conseguir esta proeza, mas no fim lá vieram os garotos quase como pedi.

A culpa não é destas pessoas, cujo único objectivo é conseguirem trabalhar 22 dias para receberem um ordenado ao fim do mês, e irem acumulando tempo até ser possível voltarem a receber subsídio de desemprego. A culpa é do Chef Vítor Sobral, que tinha equipas que funcionavam bem, que sabiam atender, que tinha um serviço e um produto de primeira qualidade, mas que de repente passou a permitir que quem para ele trabalhe, não tenha o mínimo de qualificações, nem sequer sociais.

Bem sei que, entretanto, abriu restaurantes que lhe poderão dar um retorno financeiro mais atractivo. Não acredito muito nisso, mas tudo bem. Agora o que isso não pode significar é que os negócios que antes tinha, e que eram de impecável qualidade, agora fiquem abaixo até ao de algumas pastelarias que existem ali à volta.

Não sei se este será um caso de "cria fama e deita-te à sombra", mas a verdade é que vou experimentar a Padaria da Esquina de Belém, e se o serviço for sofrível como na de Campo de Ourique, perdem uma família de, pelo menos, quatro clientes.

20
Fev22

A D.Leonor foi despedida


Pacotinhos de Noção

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Imaginem então:

D.Leonor, 65 anos, trabalhou mais de 40 numa fábrica que agora fechou. A idade da reforma é 66 anos e 7 meses. 

Recebe subsídio de desemprego, direito que se lhe assiste tendo em consideração os anos trabalhados.

É obrigada a estar inscrita no IEFP, fazer prova de procura activa de trabalho e frequentar cursos de formação profissional, sob pena de que caso não o faça perde o seu subsídio.

Isto não é ficção, são casos reais que acontecem diariamente e que muitos de nós conhecemos.

Os Institutos de Emprego e Formação Profissional, deveriam ser órgãos de apoio à procura de primeiro emprego, formação adequada e procura de novo emprego, mas não o são.

Os IEFP deste país, funcionam apenas como meios fiscalizadores e até dissuasores, com o intuito de fazer com que se falhe uma qualquer reunião, que a pessoa se recuse a fazer uma formação proposta disparatada, ou que não aceite um trabalho que nada tem que ver com a sua área profissional, e que ainda por cima será extremamente mal pago.

No caso específico da D.Leonor, e de tantos como ela, é desumano que depois de uma longa vida de trabalho, seja-lhe dito que para receber um subsídio, seu por direito, tenha que continuar a procurar trabalho, mesmo que seja em algo completamente diferente daquilo em que sempre trabalhou, ou que tenha que frequentar um curso de Animador Sócio-Cultural, ao invés de fazerem como de fossemos um país de primeiro mundo, tendo em consideração que faltando tão pouco tempo para a D.Leonor atingir a idade da reforma, que, se quiser pode procurar algo, ou então aguardar até ser reformada. Posso dar o exemplo dos Países Baixos, em que sei que isto acontece, até porque a minha sogra viu-se nesta mesma situação.

Já nos tempos idos, do nosso mui amável e saudoso Eng.José Sócrates, se engendrara um plano deste tipo. Era o chamado programa Novas Oportunidades, em que o intuito era exactamente igual ao de agora.

E perguntam-me vocês muito amofinados:

"Então, mas o que o Governo ganha com isto?"

Ganha duplamente. Se a D.Leonor os mandar dar uma grande volta, deixa de estar inscrita no Centro de Emprego, baixando assim os números de desempregados do país, dando s entender que foi criado emprego, e não foi, e ganham também menos um subsídio de desemprego que têm que pagar, porque se a D.Leonor se recusar a fazer a formação proposta, essa é logo a mais rápida consequência.

Formação obrigatória a pessoa acima de 60 anos é violência. Não que as pessoas não tenham capacidade de aprendizagem, mas, porque são pessoas que JÁ PASSARAM UMA VIDA A TRABALHAR.

Imaginem que até há uma proposta de trabalho semelhante à função que a D.Leonor desempenhava, e que precisam dela. Pois muito bem, julgo que sim, que a D.Leonor deve ocupar aquele cargo e trabalhar até à reforma, cuja idade é estupidamente alta, aliás, mas só se a proposta for completamente adequada ao perfil da senhora.

Mas como já disse isto é apenas mais uma forma encapotada de total desprezo e desrespeito pelo cidadão comum, e trabalhador que, na verdade, é aquele que sustenta esta máquina ferrugenta e balofa que é o Estado. 

Pergunto, mas de que estou eu a queixar-me? Neste microcosmos que é a minha página, estatisticamente mais de metade das pessoas votaram PS, por isso não há que reclamar. Eles são uma trampa e cheiram mal, mas fomos "nós" (entre aspas porque nós é muita gente, e eu incluo-me fora disso) que decidimos continuar a comer com eles, servidos numa travessa de porcelana caríssima, porcelana essa paga por nós.