Regresso às aulas - P'ra esse peditório já dei
Pacotinhos de Noção
Para mim é realmente um regresso.
Mais de 20 anos depois a rotina escolar voltará a fazer parte do meu dia a dia. Agora, sendo a personagem central o meu filho, que é quem vai iniciar-se no "incrível mundo da aprendizagem".
Quando era miúdo não gostava dos inícios dos anos lectivos. Não por nervosismo, mas porque havia uma série de professores novos, podia calhar algum que fosse uma besta, e porque no início do ano acho que é quando tudo se decide. Ou entramos muito bem, e o resto do ano flui naturalmente, ou começamos aos soluços e no final acabamos a soluçar. Mas ao que parece isso agora não acontece. Poucos são os alunos que soluçam no final do ano, e as mudanças não se ficam por aqui.
Bem sei que ser professor, e trabalhar para o Ministério da Educação, é quase tão recompensador como martelar pregos com a testa. Os professores ganham mal, são colocados a 134932 quilómetros de distância de casa, as casas para alugar estão pela hora da morte, e ainda assim tem que se morrer duas vezes. São impedidos de ensinar, pois têm um programa, imaginado por uns carolas, sentados nas suas secretárias, e não podem fugir daquilo que lhes é imposto.
Aquilo que eu desconhecia, na totalidade, era que o Ministério da Educação vive pelas ruas da amargura, e os professores, aqueles que ainda existem, têm agora que fazer o papel de pedintes.
Posso estar a incorrer numa grande injustiça, e a prática que vos vou contar ser apenas usada na escola do meu filho, mas estou em crer que não, porque a falta de vergonha na cara, que os sucessivos governos PS demonstram, parece que está sempre em modo "crescendo".
Na listinha de material que dão aos pais, no início do ano, tem o material habitual, como lápis, borrachas, canetas de feltro, alguns cadernos. Têm também alguns itens que me parece descaramento, porque, claramente, é material pedido para abastecer a escola.
DUAS RESMAS DE PAPEL - cada resma tem 500 folhas. Mesmo que todos os dias, o meu filho usasse duas na escola, para limpar o rabo, não iria conseguir dar vazão a tantas folhas. Dir-me-ão vocês que são para fichas, desenhos, e testes do meu filho. Para as fichas mandaram comprar cadernos de actividades e para os desenhos um bloco de folhas lisas. Poderia ser para os testes, se os mesmos não tivessem sido abolidos.
CANETAS PARA QUADRO BRANCO - As canetas de quadro branco são o nosso antigo giz. Não me recordo nunca de as minhas professoras pedirem para levarmos giz de casa. Aliás, não rara era a vez em que nós é que surripiávamos meio pau, para desenhar a macaca, o caracol, ou o labirinto.
Até aqui os meus amigos podem dizer que este é material para uso diário, para envio de recados aos pais, e coisas desse género, mas não deveria este material fazer parte do orçamento de cada escola? O Ministério não disponibiliza uma verba para a compra de material? Que moda é esta de pedirem aos pais dos alunos para abastecerem a escola? O passo seguinte será solicitarem o envio de rolos de papel higiénico, ou mandarem a factura da luz e da água, pela caderneta do aluno?
O último pedido é então mais ridículo pelo simples facto de ser pedido como se fosse um material qualquer, ou uma obrigação dos pais. Pedem 1 ou 2 livro para rechearem a biblioteca da escola, mas não podem ser uns livros quaisquer. Têm que ser livros abrangidos pelo plano nacional de leitura, e eles próprios admitem que é mesmo para aumentar a biblioteca da escola. As perguntas que fiz acerca do material volto a fazê-las. Não cabe ao Ministério prover para que cada escola tenha a sua própria biblioteca, o mais completa possível?
Se esta situação dos livros fosse feita em forma de pedido, e não tivessem ainda o descaramento de SÓ quererem livros do plano nacional de leitura, doaria com todo o gosto alguns livros, mas feito desta forma, como se fosse obrigação, e camuflado como material escolar, que não mais voltará, só me faz torcer o nariz.
Mas já vou ficando habituado. É o país que temos, graças aos políticos que temos, em que para mandar vir o papa rezar umas novenas, gastou-se milhões de euros, mas para resmas de papel, para a escola, não há dinheiro, e por isso que se peça aos pais.