Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

14
Set23

Regresso às aulas - P'ra esse peditório já dei


Pacotinhos de Noção

InShot_20230914_215248033.jpg

Para mim é realmente um regresso.

Mais de 20 anos depois a rotina escolar voltará a fazer parte do meu dia a dia. Agora, sendo a personagem central o meu filho, que é quem vai iniciar-se no "incrível mundo da aprendizagem".

Quando era miúdo não gostava dos inícios dos anos lectivos. Não por nervosismo, mas porque havia uma série de professores novos, podia calhar algum que fosse uma besta, e porque no início do ano acho que é quando tudo se decide. Ou entramos muito bem, e o resto do ano flui naturalmente, ou começamos aos soluços e no final acabamos a soluçar. Mas ao que parece isso agora não acontece. Poucos são os alunos que soluçam no final do ano, e as mudanças não se ficam por aqui.

Bem sei que ser professor, e trabalhar para o Ministério da Educação, é quase tão recompensador como martelar pregos com a testa. Os professores ganham mal, são colocados a 134932 quilómetros de distância de casa, as casas para alugar estão pela hora da morte, e ainda assim tem que se morrer duas vezes. São impedidos de ensinar, pois têm um programa, imaginado por uns carolas, sentados nas suas secretárias, e não podem fugir daquilo que lhes é imposto.

Aquilo que eu desconhecia, na totalidade, era que o Ministério da Educação vive pelas ruas da amargura, e os professores, aqueles que ainda existem, têm agora que fazer o papel de pedintes.

Posso estar a incorrer numa grande injustiça, e a prática que vos vou contar ser apenas usada na escola do meu filho, mas estou em crer que não, porque a falta de vergonha na cara, que os sucessivos governos PS demonstram, parece que está sempre em modo "crescendo".

Na listinha de material que dão aos pais, no início do ano, tem o material habitual, como lápis, borrachas, canetas de feltro, alguns cadernos. Têm também alguns itens que me parece descaramento, porque, claramente, é material pedido para abastecer a escola.

DUAS RESMAS DE PAPEL - cada resma tem 500 folhas. Mesmo que todos os dias, o meu filho usasse duas na escola, para limpar o rabo, não iria conseguir dar vazão a tantas folhas. Dir-me-ão vocês que são para fichas, desenhos, e testes do meu filho. Para as fichas mandaram comprar cadernos de actividades e para os desenhos um bloco de folhas lisas. Poderia ser para os testes, se os mesmos não tivessem sido abolidos.

CANETAS PARA QUADRO BRANCO - As canetas de quadro branco são o nosso antigo giz. Não me recordo nunca de as minhas professoras pedirem para levarmos giz de casa. Aliás, não rara era a vez em que nós é que surripiávamos meio pau, para desenhar a macaca, o caracol, ou o labirinto.

Até aqui os meus amigos podem dizer que este é material para uso diário, para envio de recados aos pais, e coisas desse género, mas não deveria este material fazer parte do orçamento de cada escola? O Ministério não disponibiliza uma verba para a compra de material? Que moda é esta de pedirem aos pais dos alunos para abastecerem a escola? O passo seguinte será solicitarem o envio de rolos de papel higiénico, ou mandarem a factura da luz e da água, pela caderneta do aluno?

O último pedido é então mais ridículo pelo simples facto de ser pedido como se fosse um material qualquer, ou uma obrigação dos pais. Pedem 1 ou 2 livro para rechearem a biblioteca da escola, mas não podem ser uns livros quaisquer. Têm que ser livros abrangidos pelo plano nacional de leitura, e eles próprios admitem que é mesmo para aumentar a biblioteca da escola. As perguntas que fiz acerca do material volto a fazê-las. Não cabe ao Ministério prover para que cada escola tenha a sua própria biblioteca, o mais completa possível?

Se esta situação dos livros fosse feita em forma de pedido, e não tivessem ainda o descaramento de SÓ quererem livros do plano nacional de leitura, doaria com todo o gosto alguns livros, mas feito desta forma, como se fosse obrigação, e camuflado como material escolar, que não mais voltará, só me faz torcer o nariz.

Mas já vou ficando habituado. É o país que temos, graças aos políticos que temos, em que para mandar vir o papa rezar umas novenas, gastou-se milhões de euros, mas para resmas de papel, para a escola, não há dinheiro, e por isso que se peça aos pais.

10
Mar23

Não armo problemas com ninguém...


Pacotinhos de Noção

… nem sou conflituoso, mas após ver este vídeo, sinto que alguém devia levar nas trombas.

Depois desta tortura de cerca de 1 minuto e meio, surge em mim uma mistura de sentimentos. Se por um lado gostaria de abraçar e reconfortar aquele menino, por outro gostaria de dar umas valentes lambadas nos outros. Só para eles terem uma pequenina percepção da impotência que o colega sentiu.

Tudo está mal nesta situação, e o problema não se resume a esta escola, mas servirá como exemplo perfeito, por parecer que a bizarria foi feita à medida.

Para começar queria dizer que a javardona, de cabelo sujo, que fala no vídeo não devia nem sequer passar à porta de uma escola, quanto mais trabalhar com crianças.

Parto do princípio que será uma das Auxiliares de Acção Educativa da escola. Daquelas das que não podem andar atrás de todos os alunos.

Na escola primária onde andei, a antiga P3 de S.João do Estoril, tínhamos 3 contínuas, pois era assim que eram chamadas, numa altura em que trabalhar e cuidar dos miúdos era mais importante do que ir fumar para a porta das traseiras do refeitório, ou estar a falar mal das colegas, ou das professoras.

Eram a D.Rosa, a D.Inácia, e uma contínua grandalhona de quem nunca soube o nome.

Os portões da escola estavam sempre abertos, e não existiam os gradeamentos, estilo prisão, que hoje existem.

Sendo só 3 as contínuas, a verdade é que volta e meia estávamos a ouvir uma reprimenda para não fazer isto ou aquilo, e não era rara a vez em que meninos ficavam sem intervalo, de castigo, devido a algo que fizeram, e que as docentes toparam, durante as rondas do recreio.

Mesmo sendo só 3 ainda faziam coisas como limpar as salas e aquecerem as marmitas dos miúdos.

Na escola do meu filho (ainda está na pré-primária), além de uma educadora, há ainda uma auxiliar por cada sala, e pelo menos mais umas 4 espalhadas pela escola. Também dizem que não são suficientes, e que não podem andar atrás de todos os alunos.

A javardona do vídeo não hesita em atribuir a culpa a um presumível pai alcoólico que, segundo diz, nem alimenta em condições o filho. Aquilo que uma escola normal, com pessoas normais a lá trabalhar faria, ao saber que a criança pertence a uma família problemática, era proporcionar o conforto e a segurança que ele não tendo em casa, poderia encontrar na escola, mas não. Em vez disso temos uma retardada a dizer que o miúdo em casa come mal e que toma os medicamentos erradamente, acabando assim, por ter os seus “cheliques”.

Autismo não é “chelique”, e quando alguém se refere à doença dessa forma, só a certifica como sendo burra e ignorante, algo que não abona muito a favor do Ministério da Educação que, pelos vistos, tem uns critérios muito latos para a contratação de uma auxiliar.

Estou revoltado com a situação e muito com a atitude da auxiliar porque, vou aqui admitir, o meu filho faz uma semana que não vai à escola devido a situações, não tão graves como esta, mas que, por parte das auxiliares, a reacção e os argumentos foram exactamente os mesmos.

O meu filho tem 5 anos, e não tem nenhuma patologia, muito pelo contrário.

Como disse, está na pré-primária, mas só entrou este ano. Aprendeu sozinho aos 4 anos a ler e escrever, e já sabe somar e subtrair. É um miúdo lindo (sou suspeito para falar, mas de facto tem uma beleza fora do normal) e é altíssimo para a idade. Com 5 anos tem o tamanho de um miúdo de 8 ou 9. No entanto, tem um grande defeito que é o de ser um parvinho.

É comum roubarem-lhe o lanche, brinquedos e até tentarem bater-lhe. 

Quando falei com a educadora, e com a auxiliar, a queixar-me da situação, os argumentos foram de que “são poucas, não podem andar atrás de todos os alunos e que os meninos em questão nunca foram problemáticos e não são conflituosos”… Isto lembra algo?

É muito natural que os alunos em questão não sejam de dar problemas, ou pelo menos é natural que as funcionárias não saibam desses problemas, porque uma das coisas que elas repetem aos alunos, até à exaustão, é que NÃO QUEREM QUE ELES FAÇAM QUEIXINHAS A NINGUÉM. Ora isto, no meu entender, é muito perigoso, e completamente contrário ao que tenho ensinado ao meu filho. Se há coisa que quero que ele faça é precisamente que seja queixinhas. Que conte, de imediato, a um adulto, se alguém lhe fizer mal, ou se tiver conversas menos próprias. É assim que deve ser, numa altura tão cheia de perigos. Ainda por cima nem na escola podemos confiar, pois quando se juntam um grupo de rufias, que não têm nenhum pudor em bater num coleguinha autista, deixando-o até a sangrar, e ainda filmam o acto, então temos o caldo entornado, porque a ideia que dá é que não querem que este tipo de problemas se saibam, para que assim não tenham que agir.

Por fim, gostaria também de falar em algo que já escrevi em tantos outros textos, e que é a demissão dos pais na questão da educação.

Há pouco vimos uns bandidos, de 14, 15 e 16 anos, a bater com um pau num imigrante, e até a tentarem incendiar-lhe o cabelo. Foi outro acto de violência gratuita, por parte de jovens.

 Enquanto os pais destes meninos, que mais tarde serão homens, preferem dar telemóveis onde os miúdos afundam a cabeça, ficando alheios de tudo o que se passa à sua volta, deixando de ter contacto visual com outras pessoas e com outras crianças, em vez de lhes darem atenção, criarem bons momentos familiares, e até repreenderem quando o devem fazer, contribuem para criar seres vazios de sentimentos, com emoções e prioridades trocadas, onde a definição de empatia é apenas algo que lhes fica bem escrever nas redes sociais.

Ontem foi o dia da mulher, são seres frágeis que muitas vezes perecem às mãos dos homens com quem se relacionam, e a luta das mulheres é muito válida, mas convém dizer uma coisa... São adultas, o que à partida garante que já têm uma estrutura psicológica para perceber aquilo pelo que passam, e até a recorrer ao socorro que as pode libertar, mas uma criança! Uma criança ainda não está formada nesse sentido, e a fragilidade dela é total, o que significa que quando lhe batem, a ponto de a fazer sangrar, quando a gozam, quando lhe tiram os sapatos e os atiram ao ar, apenas para humilhar, à criança resta muito pouco mais a fazer do que aquilo que este menino fez, que é chorar, gritar e pedir que parem... Os outros são genuinamente maus e não pararam, e também não houve um único adulto que lá os fosse parar. 

27
Out22

Gipsy Things


Pacotinhos de Noção

png_20221027_020307_0000.png

É comum vermos André Ventura insurgir-se contra os ciganos. Não romantizo a etnia e admito que a sua marginalização, face à sociedade, muitas das vezes imposta por eles mesmo, serve de desculpa fácil para poderem ser catalogados como bandidos.

Muitas das suas tradições não fazem o menor sentido, e existem algumas até bizarras, como a de prometer crianças em casamento a homens já adultos. Para mim não há tradições que possam ter mais peso do que a lei e a justiça, e às vezes é o que parece que acontece.

Dito isto, gostaria de dar o meu testemunho pessoal, relativo ao contacto mais recente que tenho com pessoas (crianças) ciganas.

Na escolinha do meu filho existe uma comunidade cigana com bastante relevância. Na turma do meu filho existem alguns ciganos, e de há uns dias para cá têm havido problemas.

Pois é, senti deste lado os pensamentos preconceituosos de algumas pessoas, mas têm que me deixar acabar.

Os problemas não são provocados por nenhum destes meninos ciganos, os problemas vêm de um menino rico, netinho de uma das professoras. Não interessa o que ele faz ou deixa de fazer, não vem ao caso, o que interessa é que sei que mesmo que cresça como um bandidozinho, uma vez que é loirinho, e de famílias com posses, nunca ouviremos o retardado do André Ventura a insurgir-se ou recriminar.

Existem problemas nas comunidades ciganas? Existem, com certeza, mas também existem problemas mentais nos militantes do CHEGA, e ninguém os interna.

Era só isto.

22
Out22

"Bullying" encadernado


Pacotinhos de Noção

IMG_20221022_005047_483.jpg

Nas escolas, e jardins de infância, do concelho de Cascais, têm sido distribuídos uns livrinhos com o intuito de fazer perceber às crianças que o consumo de açúcares traz malefícios para o corpo.

Até aqui tudo muito bem… Quer dizer, mais ou menos bem. O açúcar EM EXCESSO traz malefícios para o corpo, assim como tudo. Sei de um tipo que se envenenou a comer cenouras. De tanto as comer ficou com carotenemia, o que prova que tudo em excesso faz mal. Se proibirmos totalmente o açúcar, acaba por acontecer como com o sal, em que ao ser cortado em quase todos os alimentos, no pão inclusivamente, cria com que se desenvolvam carências que tem depois  que ser combatidas. Algo preocupante é a carência de iodo, por parte das grávidas. O sal que consumimos é iodado, mas havendo um corte no consumo do mesmo, o iodo que devia ser ingerido não o é, e a falta de iodo em grávidas pode originar uma má formação do feto, a nível cerebral e motor, e mesmo que o bebé nasça, poderá ter o seu futuro condicionado, pois a falta de iodo no bebé, é dificilmente revertida, criando dificuldades de aprendizagem na criança, por exemplo. Mas nem é sobre este assunto que vos quero falar. Voltemos então aos tais livrinhos que diabolizam o açúcar.

Ao folhearmos o compêndio, temos receitas sem açúcar, a quantidade de açúcar em determinados alimentos, mas temos também algumas personagens criadas por quem idealizou o livro.

IMG_20221022_005047_500.jpg

Temos um rapaz maravilha, que não come açúcar, temos um tipo de bigodes, que é "O Inspector do açúcar, um "bufo" da doçaria, temos uma "Rainha do Lanche", e temos ainda mais uma personagem que difere de todas as outras.

Os três primeiros que referi são perfeitos e maravilhosos, são elementos que queremos na nossa sociedade e que gostaríamos até de ser. Não há nada a apontar-lhes.

IMG_20221022_005047_577.jpg

Todas as histórias têm os seus vilões e nesta poderíamos julgar ser só o açúcar, mas não. A última personagem é alguém pérfido, hediondo, miserável. É alguém que seriamos capaz de utilizar como forma de ameaça aos nossos filhos, caso não comam a sopa ou queiram um chocolate. Se eles insistissem nas suas vontades, não hesitaríamos em dizer: "Se comes esse chocolate vais-te transformar no "Bolachudo Preguiçoso"! Exactamente, é esta a última personagem. Um tipo gordo que, por ter massa adiposa a mais, é apelidado de "bolachudo", de "preguiçoso" e como tal pode ser estigmatizado.

IMG_20221022_005047_701.jpg

Numa altura em que utilizar palavras como preto ou maricas, em contextos que não tenham nada a ver com raciais ou sexuais, é visto com maus olhos pela sociedade, levando até a cancelamentos, não consigo perceber  como é admissível que a simples característica física de determinada pessoa possa defini-la como sendo "preguiçoso"?

E se para as mulheres "o meu corpo, as minhas escolhas", por que motivo é que "o meu corpo, as minhas escolhas", não pode ser para qualquer um que queira comer o que lhe convir.

Todos os dias tenho que levar com vários tipos que fumam erva, charros, seja o que for. O cheiro daquela trampa incomoda-me, mas, pelos vistos, é só a mim, pois não vejo muitas pessoas com ar de incomodados, porque ao que parece cada vez vai sendo mais bem aceite o consumo de drogas leves em qualquer lado. É mais bem aceite ver um puto de 16 anos a fumar um charro, do que um, que seja gordinho, a comer um Big Mac.

Senhor Presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, pergunto-lhe aqui quantas crianças, que terão tido acesso a este livro, acharam piada ao apelido utilizado para catalogar o indivíduo gordo, e não o passaram a usar para ofender o menino gordo da sua classe, ou da sua turma, iniciando, ou continuando assim, um trajecto de "bullying" que marcará o carácter de quem o pratica e de quem o sofre, e isto com a chancela da CMC, que foi quem distribuiu, e talvez quem encomendou a obra. O objectivo final até poderia ser cheio de boas intenções, mas foi feito por alguém que não está habituado a pensar esta área. Porque não pesquisaram um pouco, ou porque não entraram antes em contacto com a APCOI (Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil), que tem já anos de trabalho nesta área e que faz este caminho sem fundamentalismos baratos e sem estigmatizar nenhum tipo de pessoas. Sei do que falo, conheço o trabalho deles há anos, e a maneira exemplar como o fazem. Por acaso também sei do trabalho que sempre tentaram fazer chegar às escolas, mas que lhes foi sempre dificultado, principalmente pelas Câmaras, que não se mostram receptivas à obra da Associação. Provavelmente porque com eles não conseguem nenhum tipo de "lobby", mas isto já sou só eu a especular.

Mas diga-me Sr. Presidente, acha correcto definir seja quem for pela aparência? É 100% crível que alguém com peso a mais seja preguiçoso, ou que seja gordo apenas porque come demais?

Ficaria satisfeito se fosse avaliado apenas pelo seu aspecto físico? Gostaria de ser catalogado como "O merceeiro vigarista" ou "O imigrante bebedolas"? Não digo que tenha alguma destas características, mas assim de repente posso tirar estas conclusões, mas seria abusivo da minha parte, não seria?

Mas debrucemo-nos também no facto de que na realidade o peso que se aparenta em nada tem a ver com se um corpo é saudável ou nutrido. Temos miúdos que, aparentemente, são saudáveis, principalmente porque são macérrimos, mas que vistos à lupa estão quase subnutridos e com carências vitaminicas porque se alimentam, quase exclusivamente, de bolachas, cereais, achocolatados e ovos Kinder, por exemplo.

Há que acabar com este movimento crescente de que todos, adultos e crianças, têm que responder a um padrão físico em que quanto mais magro melhor. Vejo crianças de 6 e 7 anos preocupadas com o peso, e se deveriam fazer dieta para perder umas gordurinhas, mas que não sabem aplicar adequadamente um "Bom dia", um "Boa tarde", um "Se faz favor" e um "Obrigado".

Não sei se me agrada muito a ideia de que caminhamos num sentido em que cada vez mais teremos pessoas a comer menos açúcar, saudáveis fisicamente, mas que moralmente serão calhaus insensíveis que avaliam apenas por aquilo que lhes parece, e não por aquilo que as pessoas lhes transmitem.

22
Set21

O que é bom é para se ver


Pacotinhos de Noção

Polish_20210922_154345191.jpg

Hoje vi uma aluna de uma Escola Secundária perder totalmente a noção, ao se apresentar nas aulas com um decote igual ao da imagem.

Falei em assunto semelhante há 6 dias, no texto "Polícia na Moda".

Cada um é livre de vestir aquilo que lhe apetecer e se quer parecer "Emo", "Dred", "Pin Up", seja aquilo que for, tem todo o direito de o fazer, mas sempre tendo em consideração o ambiente em que se vai apresentar.

Isto não é uma questão sexista ou de qualquer outro "ista" de que queiram apelidar. É apenas uma questão de educação, noção e saber estar.

Uma rapariga que se dirige nestes preparos à escola deveria de imediato ser recambiada para casa porque ir estudar não é o mesmo que ir sair com os amigos, ir a um casamento ou a uma outra festa qualquer. O foco na escola tem que ser o estudo, por mais que os alunos não o queiram perceber.

Uma aluna levar um decote destes para a escola trata-se apenas de uma tentativa de rebeldia ou marcar uma posição que é, permitam-me que diga, desajustada.

Posso equiparar este decote a um outro qualquer aluno que queira (e também ele tem esse direito) de ir para a escola com um valente saco de bosta pendurado ao pescoço. Não é estético mas foi essa a sua vontade, e por ser a sua vontade deverá ser permitido?

À primeira pessoa que diga que o decote se deve a razões de "encaloramento" afirmo com convicção que testículos acondicionados em roupa interior, com uma camada de ganga por cima, numa sala de aula sem arrefecimento e com temperaturas semelhantes às de pico no Verão, nunca me fizeram cogitar a hipótese de andar com eles de fora.

Não será a mesma coisa que um decote!? Pois não... Atingem temperaturas bem superiores, quase que dá para assar castanhas.

Mas voltando ao assunto em questão.

Quando estas situações acontecem julgo que a atitude correcta do estabelecimento de ensino seria a de tentar chamar a aluna à razão. Mas atenção, deveria ser uma professora a ter este gesto, porque é certo e sabido que se for um professor ele só o fez porque é um porco misógino, um tarado, ou um pedófilo.

Um decote é como que ter um elefante na sala, ainda mais se a aula for de um professor.

A pessoa que melhor se sente é a portadora do decote, porque o seu intento foi atingido. Queria marcar e marcou.

Para os colegas é uma alegria. Primeiro porque, no que à estrutura psicológica diz respeito, ainda não são maduros e como tal vão apreciar e comentar o traje pouco académico da moça. Segundo porque querem conseguir apreciar o prato do desconforto do professor ou da chamada de atenção que o mesmo poderá fazer, e o burburinho que dai advém, porque como se sabe a razão está sempre do lado de quem mais grita, quem mais esbraveja e quem mais se vitimiza.

Outro desconforto é o do professor porque sabe que se fizer a tal chamada de atenção vai ser atacado, se fizer uma pergunta à rapariga, mesmo que só diga respeito à matéria dada, vai ser alvo de comentários maliciosos, se ignorar, vai ser alvo de comentários maliciosos, mesmo que seja uma professora, vai ser alvo de comentários maliciosos, como o facto de sofrer de inveja por já não ser jovem ou não poder mostrar tanto o seu decote... Velha chata.

Sinceramente acho que não estou errado. Por vezes penso que ao defender um pouco de sensatez pareço um elemento do clero que diz que tudo é pecado mas na verdade não é isso que eu penso. Aquilo que penso é que o que é bom é para se ver, e para mim bom, mas mesmo bom bom, é um bocadinho de respeito, educação, ponderação e principalmente noção.

O que eventualmente um dia poderá vir a acontecer é a implementação da obrigatoriedade de fardas ou batas, até nas escolas públicas, e então o contra argumento de vitimização será o de que parece que vivemos em ditadura e que não é constitucional limitar a liberdade de cada um... O que é uma chatice.

24
Ago21

Educação Reciclável


Pacotinhos de Noção

Polish_20210824_015923987.png

E eis-nos a chegar quase ao fim de Agosto.

Se para alguns miúdos o ideal fossem férias o ano todo, outros há em que já começam a sentir umas borboletas na barriga a imaginar como tudo vai ser.

O medo de mudar de turma, que número é que vão ser e se terão ou não que levar com aquele professor rabugento.

Com o aproximar do início do ano lectivo começam os anúncios de "Regresso às aulas" e as reportagens para saber quanto vão os pais gastar em material escolar.

Uns falam em 300€, outros em 400€ e alguns até em 500€, porque é preciso comprar tudo novo. Mochilas, lápis de cor, canetas de feltro e os caderninhos todos. Para algumas disciplinas será preciso um dossier, porque há professores que preferem assim.

Depois temos os manuais. Todos novinhos e brilhantes, com aquele cheirinho a livro novo, cuja única coisa que se estranha é ainda não se terem lembrado de o transformar em perfume.

Tudo muito agradável, bonito e (mais uma vez) hipócrita.

Então vou comprar uma caixa de aspirinas e se pedir um pequeno saco de papel vegetal, que numa situação de mesmo muito aperto nem para limpar o rabo serve, tenho que pagar 0,10€ como forma dissuasora para que eu não o compre, com o intuito de mais facilmente se criar uma sociedade sustentável. Então não é que todos os anos, e quando digo todos são mesmo TODOS, os papás vão comprar material novo porque o do ano passado não serve. O que estava na altura na moda agora já não está. Os lápis de cor já tem a lata um poucochinho amachucada e assim o Martim não gosta. Grande parte dos cadernos ainda não chegaram a meio, mas o Afonso tinha tão pouco cuidado e então são precisos cadernos novos.

E os manuais?

O Governo, que nos taxa para diminuir a pegada ecológica, o mesmo Governo que não me deixa beber café em copos de plástico, tendo assim que beber nuns de cartão que mais parece o centro de um rolo do papel higiénico, tendo nas mãos uma oportunidade de ouro para incentivar à reciclagem, preferem dar prioridade aos "lobbies" das editoras e lançar manuais novo todos os anos, mudando só textos de página, e um ou outro desenho.

Mas quem quer ganhar dinheiro é natural que componha os seus estratagemas, o que não é natural é que quem não queira gastar o seu, o faça com tanto à vontade.

Porque é que os encarregados de educação este ano não inovam e tentam incutir aos seus pupilos o hábito de reaproveitar. Agarram nos cadernos antigos e criam novas capas. Os lápis de cor já não têm lata então façam um pequeno estojo... Bem sei, isto acaba por ser educar e há pais que se recusam determinantemente a ter este tipo de atitude para com os seus filhos, mas às vezes podem experimentar. Pode ser que resulte e pode até ser que gostem.

Para terminar ousarei fazer uma sugestão ao Ministério da Educação.

Bem sei que convém dotar os meninos todos com tablets e computadores portáteis. Vem ai a bazuca e enquanto se factura 150, gastam 40 e os restantes 110€ esfumam-se como que por magia. Mas se eventualmente conseguirem arranjar outro esquema mais vantajoso para forrar os vossos bolsos, eu sugeria um conteúdo programático obsoleto, é verdade, mas que acredito ser de máximo valor. Em vez dos computadores, que tal ensinar os garotos a ler e escrever!? Em casos extremos até ensinar umas continhas, ou a tabuada. É excêntrico, mas fica a dica.