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Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

21
Abr22

Prefiro viver de aparências


Pacotinhos de Noção

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Na música de 1986, "Efectivamente", dos GNR, Rui Reininho canta que "Efectivamente gosto de aparências".

Já eu, numa efectividade não tão sublinhada, devo admitir que tenho reparado que nos começa a fazer falta viver um pouco mais de aparências. Passo a explicar...

Estou farto de andar na rua e ver gente suja, porca e feia. A fealdade a que me refiro não é a física, acalmem-se já os puritanos, pois ao lerem as próximas linhas, e se fizerem um pequeno exercício, que nem terá grande uso da memória porque é algo actual, e acabarão por concordar comigo.

Este sentimento vem sendo diário, mas hoje uma situação despoletou alguma raiva e nojo em mim. Enquanto tomava o pequeno-almoço, num café próximo de uma estação ferroviária, apareceram, um senhor da CP, que vende bilhetes e que por acaso também é comercial da REMAX, e duas funcionárias da limpeza dos caminhos de ferro. Logo ao entrar transformaram o estabelecimento numa estrebaria, rindo e falando muito alto, com as suas caras ramelosas e os seus cabelos oleosos, característicos de quem toma banho nos primeiros Domingos de cada mês. Lavar os dentes é coisa que não sabem, e água naquelas trombas só acontece quando apanham um dia de chuva. Colocaram-se ao balcão para depois exigirem a sua bica sem princípio, outra em chávena fria e a terceira tirada em máquina italiana, montada por pigmeus indonésios, numa noite de lua cheia laranja. Sim, porque higienização é coisa de burguês, mas se pagam 0,75 € por um café, ai meus amigos, tenham paciência, mas esse café há de ter todas as características que eles exigirem!

Ora sucede então que, sendo já a aparência destes monumentos à badalhoquice algo de asqueroso, o "senhor" da CP e REMAX, decide todos presentear com um valente arroto, ali ao balcão e, as madames que o acompanhavam, de tão contentes que ficaram com o feito, começaram a gargalhar que nem duas mulas zurrantes. É importante referir que não falamos de garotada. Tudo gente entre 40 e 50 anos, talvez até mais.

Constatei logo ali que o aspecto daquelas pessoas, sendo já tão sujo e desleixado, mesmo assim deixa a desejar quanto à porcaria e à sujidade que lhes passa na cabeça.

Quem no seu perfeito juízo tem este comportamento? Quem, com dois dedos de testa, faz estas badalhoquices quando enverga o uniforme da empresa onde trabalha, mostrando assim que o pessoal contratado não é qualificado, nem socialmente?

E isto leva-me a querer viver de aparências porquê? Porque gente porca e sem noção sempre houve e vai continuar a haver, mas perdeu-se completamente a vergonha, e se dantes, estes mesmos porcos só o eram em casa e entre amigos, agora passaram a sê-lo em qualquer lugar e "quem não gostar que não coma, que ponha na borda do prato". Mas que prato, senhores? Existirá algum sítio que sirva estrume num prato? É que malta desta é igual a estrume. Pelo menos no aspecto, no cheiro e na atitude são-no, muito embora o estrume sirva ainda para fertilização de terras, e esta gente para pouco servirá.

Sou saudosista, por isso gostava do tempo em que as pessoas tinham o mínimo cuidado no vestir, quando a farda comum não era leggings do chinês, e polares cheios de borboto da Decathlon. Quando ainda se esforçavam um bocadinho e que quando não tomavam banho tentavam disfarçar o fedor, nem que fosse com perfume do chinês. Mas agora não, ou cheiram a cavalo, ou a sopa velha.

Gostava que voltássemos àquele passado recente em que alguém que trabalhava num café, fingia limpar o balcão para mostrar estar ocupado. Agora o balcão fica todo sujo, as mesas por levantar e ainda temos que aguardar que a pessoa acabe de responder àquele WhatsApp tão importante.

Saudades do tempo em que quem se atrasava pedia desculpa, com uma desculpa tão má que dava para perceber ser mentira, mas ao menos tentava desculpar-se, era uma questão de respeito. Agora quando alguém se atrasa nem comenta, ou então afirma que "é assim mesmo e que não consegue mudar. Que não é defeito é feitio"!

Quando se vivia com aparências os "Bons dias", "Boas tardes" e "Boas noites" eram respondidos, agora, mesmo que eu repita o cumprimento, há o descaramento de fazerem cara de pau e nem sequer responderem.

Quando vou a uma loja de roupa sei de antemão que não sou bem-vindo pelos funcionários. Afinal de contas, se não receberem à comissão, ganham o mesmo estando ali eu ou não, mas por acaso naquele momento até estou, e não me importava mesmo nada de um bocadinho de cinismo, de fazerem uma aparência de que até lhes importa que ali esteja. Não porque queira ser apaparicado, mas apenas por uma questão de educação e por uma questão de lógica. É que se sou tratado com indiferença, aquele lugar para mim não passa a ser indiferente, passa a ser antes um lugar a evitar, e depois o patrão não ganha dinheirinho para pagar os ordenadozinhos e depois vai tudo para o olhinho da ruazinha, sem perceberem muito bem porquê, porque na óptica deles, "o patrão até tinha dinheiro".

Viver em sociedade é viver de aparências e para o constatar não é preciso ir muito longe. Quem tiver sogras sabe bem do que falo, assim como sabe quem trabalha, quem recorre a serviços, quem vive no dia-a-dia com uma coisa muito importante, mas que vai escasseando... Educação.