Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

24
Out23

O país que me faz órfão


Pacotinhos de Noção

InShot_20231024_002211706.jpg

Parece-me que começa a chegar a altura em que tenho que tomar uma atitude.

Portugal não vai no bom caminho. Quer em termos económicos, mas também sociais.

Não sou um tipo velho, mas lembro-me das crises mais recentes. A vinda da troika, de outra altura em que diziam que o país estava de tanga, e de uns anos 80, antes da entrada na CEE, em que não havia grandes luxos e em que a inflação estava altíssima. As duas grandes diferenças dessas crises, para esta que agora vivemos, é que a esta ainda ninguém se lembrou de chamar de "crise", e nesta, enquanto há urgências a fechar, não há médicos para trabalhar, professores a reivindicar e pessoal a morar em tendas, temos um Governo, que com o maior descaramento, faz propaganda política, enganando os otários que se querem deixar enganar, afirmando que vão baixar o IRS, e atribuir apoios que irão melhorar a vida do comum português. No entanto, também vão aumentar uma série de impostos indirectos, que engolirão qualquer baixa de IRS, ou outra esmola que seja atribuída. No meio disto ainda se orgulham de afirmar que irá haver excedente orçamental.

Factos concretos:

Tenho um negócio próprio desde 2012.

Sempre foi próspero, e mesmo hoje trabalho não me falta. Aquilo que falta é dinheiro. Não posso aumentar preços ao valor da inflação, os clientes não suportariam, mas a mim, e a toda a gente, aliás, tudo é cobrado ao valor da inflação, e até acima, porque há sempre quem se queira aproveitar.

Luz, água, higiene e segurança no trabalho, material, seguros, tudo sofreu um aumento terrível, menos os meus ganhos, que pelo contrário, têm diminuído.

Depois um tipo houve que o IUC vai aumentar, os sacos de plástico da fruta vão passar a ser a 0,04 €, que determinados produtos vão sofrer alterações nos valores para nosso bem, pela nossa saúde, ou pelo ambiente, e um tipo sente que está a ser roubado por um carteirista que faz questão de nos mostrar que nos está a enfiar a mão no bolso, e que na sua procura pela carteira, ainda faz também questão de nos apertar, fortemente, um testículo.

Poderia pensar que estou num belo país, com gente afável e simpática, e bela comida, mas a comida também está a encarecer. Se a gasolina está cara, o azeite está pela hora da morte, e entre uma e outra coisa, convenhamos que um bacalhau temperado com Sem Chumbo 95, não é o prato mais apetecível. 

Relativamente à gente "afável e simpática", esqueçam. Cada vez vejo mais gente estúpida, idiota, mal-encarada, agressiva e digna de pouquíssima confiança.

Resumindo, quem gere o meu país está a fazê-lo de forma miserável, quem vive no meu país parece estar acostumado a apenas sobreviver, e sente-se bem com isso. Pois eu não sinto, e digo desde já que não sou minimamente nacionalista. Não é um hino, uma bandeira, uma língua que me prende a Portugal. É o sangue, é apenas o sangue que o faz, mas há uma altura, que mesmo o sangue sendo forte, há que pensar no sangue que descende do nosso.

O sangue que me prende a esta malfadada terra é o sangue da minha mãe e dos meus irmãos, mas o sangue que me faz querer mudar, para melhor, é o dos meus filhos e da minha mulher, e eles ainda têm uma vida pela frente, que quero que seja a melhor possível, e para tal têm que estar num sítio que os respeite, que lhe dê a oportunidade certa para poderem evoluir.

Não é num país como este, em que um licenciado, um mestrado, um doutorado, ganha pouco mais que o ordenado mínimo, ou mesmo que ganhem quase o dobro, ainda assim não conseguem alugar a porra de uma casa para morar.

Penso seriamente em ir embora. Tenho o destino, tenho a oportunidade, tenho a facilidade de ter quem lá me guie para dar os passos certos, e acima de tudo tenho um sítio que respeita os cidadãos que lá moram, sejam nacionais ou não.

Se for, irei com sofrimento e tristeza. Tenho aqui a minha história, as minhas recordações, as minhas alegrias e tristezas.

Sou órfão de pai, desde 2013. Foi algo que me fez sofrer, e embora me tenha habituado a viver com isso, a verdade é que quase todos os dias lembro-me dele. Mas e como suportarei ser órfão de mãe viva?

Sou filho da mamã... Fiquei ainda mais depois da morte do meu pai. Todos os dias falo, ou estou com a minha mãe, e com os meus irmãos, assim como os meus filhos, que diariamente estão com a avó e com os tios, e é isso que sei que me vai custar mais. 

A língua, a cultura, o clima, são coisas que serão difíceis, mas não me assustam particularmente. O que me assusta é a consciência de que indo para fora, e não sendo a minha mãe uma velhota com os pés para a cova, mas não sendo já uma pessoa jovem, as vezes que poderei voltar a estar com ela, e os meus filhos com a avó, poderão não chegar aos dedos das duas mãos, e isso deixa-me transtornado, triste, amargurado.

Todo o filho tem que abandonar o ninho, e eu abandonei o meu já há algum tempo, mas não deveria ser preciso ter que mudar de floresta, e é isso que vai acabar por acontecer.

Esta consciência, infelizmente, não é só minha. O meu filho de 6 anos, sabendo da mais que provável hipótese de nos irmos embora, chorou. Chorou e disse que tem medo de ir embora e não chegar a ver mais a avó. Obviamente que afirmámos que todos os anos cá voltaremos, mas será que é verdade? A vontade é essa, mas conseguirei corresponder à minha vontade?

Não sei. Sei, isso, sim, que os políticos nojentos deste país me estão a obrigar a ser órfão de mãe, e os meus filhos órfãos de avó, muito antes daquilo que deveriam ser.

 Agradeço que não me venham com a história de que é possível fazer vídeochamadas, porque um beijo, uma gargalhada, ou um simples queixume de uma determinada dor, que a minha mãe possa sentir, não tem a mesma força quando é feita por videochamada.

Sou fatalista? Talvez sim, talvez não, mas uma coisa garanto-vos. Por muito fatalista que seja, podem ter a certeza do seguinte, ainda ninguém conseguiu prever, nem mesmo um fatalista como eu, o nível de m€rda a que este jardim, à beira-mar plantado vai chegar. Vai ficar um jardim ainda mais bonito, de tão estrumado que vai ser, mas não haverá ninguém a cá viver, porque aquilo que nos permitem, não é vida.

24
Mai23

Tenham alguma empatia com este texto


Pacotinhos de Noção

InShot_20230524_021311078.jpg

Parem de dizer que caminhamos para o abismo. Na verdade, já estamos em queda livre, e, ou temos um paraquedas que no salve, ou acabaremos esborrachados lá em baixo.

Faço esta analogia querendo referir-me ao pouco caso que fazemos do próximo.

Não interessa se o próximo é um vizinho, um amigo, um familiar, ou apenas alguém que passa por nós na rua.

Há o costume de dizerem que nos transformamos em pessoas mais fechadas, mais metidas connosco mesmos, mas não concordo. Acho apenas que estão todos muito mais egoístas e que não querem saber de nada nem de ninguém, a não ser deles próprios, e sim, “se eu não gostar de mim, quem gostará”, mas se só tu, gostares de ti, a partir de determinada altura a resposta será ninguém, e um dia mais tarde, nem tu mesmo gostarás de ti.

O "Pacotinhos de Noção" é uma página que critica, aponta erros e defeitos. Ocasionalmente também tem um ou outro artigo elogioso, mas a verdade é que não foi criado nesse sentido. 

Com o passar dos tempos fui observando e tomando consciência de como o ser humano consegue ser odioso. 

Trata mal as pessoas, é badalhoco, julga que é o melhor e ainda tem pretensões de ser o dono da razão. Infelizmente, e talvez porque ainda não me insira tanto na classe destes odiosos, não tenho nem coragem, nem vontade, de entrar no bate boca com alguém que, no meu local de trabalho, por exemplo, tem comportamentos que só lhe ficam mal, mas, como vou acumulando todas as situações que acontecem, escrevo-as e tenho conteúdo para a página. É uma forma de escape como outra qualquer. Uns fazem um desporto de combate, outros jogam ténis, os importantes jogam golfe, e eu escrevo o Pacotinhos.

A fonte de inspiração é inesgotável, e tem jorrado cada vez com mais força.

Durante uns tempos andámos todos "paz e amor", porque havia uma pandemia. Batíamos palmas às janelas, fazíamos serenatas na varanda, agradecíamos aos que no meio da pandemia iam trabalhar todos os dias para nos servir, e andávamos com uns arco-íris a dizer que "Vai ficar tudo bem". Individualidades que percebem muito de sociologia, afirmavam que depois do período de dois anos de confinamentos e de consecutivas vagas, iríamos ter um período em que as pessoas iriam ficar sedentas de contacto, de toque, de proximidade... E tinham razão, mas talvez não do modo como imaginavam. Tem sido comum vermos vídeos de pessoal à batatada, mulheres aos puxões de cabelo numa bomba de gasolina, há notícias de facadas a torto e a direito.

E não é um fenómeno apenas de uma faixa etária, consideremos como "adulta". Quem tiver contacto com malta mais nova, julgo que não me irá desmentir, quando afirmo que afinal não são a geração mais bem preparada de sempre, e sim a geração mais desligada de sempre. Conheço uma família em que perderam o avô/pai. Membro inserido no seio familiar, que podemos até considerar pilar estrutural, mas que, na altura da sua morte, os netos, e um dos filhos, reagiram como se fosse só mais um Domingo de manhã, mas em que neste havia a maçada de ter que ir à missa. Tipos que cheguei a ver chorar a morte de gatos que tinham, mas que não verteram uma lágrima por aquele ente, que se julgava querido.

Aquilo que nos faz falta é a velha e boa empatia. Embora ensinar na escola?!

Se calhar não dá, ou se calhar não chega.

Tenho a opinião de que a empatia é uma construção sociológica utópica, assim como o é a sororidade, por exemplo. Ainda ontem comentava que actualmente, se uma velhota cair na rua, vai haver gente a rir, gente a filmar, gente a criticar o buraco, ou o degrau mal colocado, mas enquanto tudo isto acontece, a velhota continua no chão. Pareço, eu mesmo, um velhote a falar, mas dantes não era assim. Alguém ia logo ajudar a velhota

Culpados?

Pais, escolas, redes sociais.

 

 Pais - porque se demitem da educação e do afecto que deveriam dar aos filhos, tornando-os em seres sem formação e sem capacidade, ou interesse, em lidar com sentimentos.

Podem vir dizer-me que é falta de tempo, devido ao trabalho, que a sociedade opressora os obriga hoje a trabalhar mais do que se trabalhava antes. Tretas. O desinteresse, que muita gente tem pelos filhos, vê-se claramente num qualquer restaurante, ou esplanada, em que, num momento que está a ser passado em família, não ligam nenhuma aos filhos. Não dão um carinho, não dão um afecto, nada. Como vai uma criança aprender a amar, se o mestre que lhe deveria ensinar, é o primeiro a quem se deveriam meter as orelhas de burro?

 

Escola - as escolas hoje são depósitos de crianças. Funcionários e professores não estão lá para ensinar, nem para dar o exemplo. Os professores, mesmo que queiram, têm um programa que, basicamente, diz-lhes: "Não se metam em problemas. Chegando ao fim, é passar a canalha toda de ano, para na Europa termos números que nos consigam pôr depois um António Costa, ou um Galamba, num lugar de destaque".

É assim criado um facilitismo que dá a sensação ao aluno que não se tem que esforçar para nada, nem sequer para respeitar quem lhe tenta ensinar algo.

Por fim, 

 

Redes Sociais - as redes sociais são covis de futilidade, de mentira, de exposição de um EU transformista, que em nada tem que ver com aquilo que a pessoa realmente é.

Importa ter gostos, importa ter parcerias, importa causar impacto, e o melhor amigo passa a ser o smartphone que serve de portal para todas umas vidas que não existem, mas que parecem sempre ser uma perfeição.

Estas plataformas sugam de tal forma a atenção de alguém, que quando há uma falha, numa delas, os suores frios começam a surgir, porque não se tem acesso ao mundo fictício que se criou, e porque se começa a gerar o medo de que de pode ter que interagir com um ser real, que poderá até, se ainda o souber fazer, conversar com ele.

Este é daqueles textos que acaba sem uma conclusão, porque a mesma não existe. Vamos continuar a apodrecer e, acredito que, dificilmente este seja um processo que seja possível interromper.

Até lá, olha, é tentarmos não nos corromper com essa falta de empatia, de simpatia e de capacidade de nos colocarmos, verdadeiramente, no lugar do outro.

23
Jan23

Subscrevo a 100%


Pacotinhos de Noção

20230123_014635_0000.png

Hoje não vou escrever, vou apenas colocar um dos melhores textos do Bruno Nogueira, que li até hoje.

É duro, é cru, é agressivo, mas acima de tudo é verdadeiro.

Vai haver gente que provavelmente lhe vai achar menos piada. A isso é costume chamar-se de hipocrisia.

Quem tiver filhos mas não perceba o que aqui é dito, lamento, mas não percebe bem o conceito de se ser pai.

Concordo COM TUDO, sem ter que acrescentar nada.

Apreciem.

 

Bruno Nogueira, na Revista Sábado 

19.01.2023

 

Os pais, sempre os pais, a ficarem deslumbrados com a pornografia que é usar os filhos, ela é tão bonita que tenho de partilhar com o mundo, não aguento ter esta cara laroca só para mim, a venderem a criança a fazer tudo, a tentar ser criança, a não perceber porque é que a mãe tem cara de iPhone.

 

Sabem que mais? Bard@merd@ mais os vídeos dos vossos filhos menores no Instagram, mais as crianças com hashtags de marcas no focinho, tão pequenas que ainda nem conseguem perceber o festival de lama em que estão metidas. Nasceram já com a cara a ser esfregada no mundo para toda a gente ver, olha que lindo ele a comer a primeira papa desta marca, olha que amor ele a sair da escola com aquela roupa, olha ele a fazer uma birra, que menino feio, não come a massa toda, e o número de seguidores a subir; que já se sabe que o que interessa é seguidores, a privacidade e o anonimato das crianças que se lixe, desde que uma marca de roupa ou de cremes, ou do c@ralh0 que os f0d@ a todos venha esguichar dinheiro. Ai, é para pagar a escola do menino, ai é para ele viajar comigo, ai ele ainda me vai agradecer, então não vai, durmam com a desculpa que quiserem, a criança não pediu parcerias, só tem aquilo que vocês lhe derem, se derem uma escola pública é na escola pública que está bem, ao menos não anda na rua com dedos a apontarem para ele, e conversas em surdina, olha é o filho daquela, que ainda no outro dia fez uma birra porque não comeu massa, ai que birra tão feia que fizeste no outro dia, não podes fazer birras tão feias, tens de ser um menino bem-comportado.

A pobre da criança já a ter que ser pública quando ainda nem sequer sabe ser privada, nem vai saber, porque a auto-estima dos pais precisa de seguidores, e de mensagens calorosas a dizer “a sua filha é tão bonita, que sorte que você tem, adoro vê-la, mostre mais vezes”, e os pais, sempre os pais, a ficarem deslumbrados com a pornografia que é usar os filhos, ela é tão bonita que tenho de partilhar com o mundo, não aguento ter esta cara laroca só para mim, a venderem a criança a fazer tudo, a tentar ser criança, a não perceber porque é que a mãe tem cara de iPhone, não tem dois olhos como as outras, tem uma lente e um flash sempre a olhar para ela, porque é que a minha mãe não me abraça com dois braços? Sempre que olham para os pais lá estão eles a segui-los com lentes assustadoras, sem empatia no olhar, porque o olhar está a ver o desgraçado do filho através do ecrã, vê-lo ao vivo dá menos dinheiro, e deixa o ego frio. A estupidez humana iluminada por um ecrã de telemóvel. O filho é meu, faço o que quero. Tem juízo, f0d@-se, o que é teu és tu, o resto não é de ninguém. Ai mas ele gosta muito dos vídeos. Ele gosta é da real put@ que vos pariu, ele também gosta de quatro tabletes de chocolate por dia se lhe enfiarem no focinho, ou de sete Coca-Colas, eles sabem lá, estão a aprender a ser gente com donos de circo. Se lhes derem cocaína também é possível que gostem, ou andar em tronco nu no inverno. Ah, mas as Kardashians também fazem, e agora? Agora? Agora nada, seus burros de m€rd@. As Kardashians se quiserem compram uma escola só para os filhos não terem de aturar outras crianças com ranho na tromba que gozam com elas. As Kardashians com um bocadinho de sorte compram a cidade onde vivem e depois é que ninguém olha nem comenta, percebem a diferença? São tão estúpid@s como vocês, mas têm tanto dinheiro que quase parece que ser burro as magoa menos. Isto está tudo f0did0, é o que vos digo. Tudo f0did0. Não me venham com a conversa de “são outros tempos”. São sempre outros tempos, olha que novidade do c@ralh0, senão o mundo tinha parado. O anonimato é a coisa mais preciosa com que se nasce, agora ou antigamente, e dão-lhes cabo disso logo à saída do corpo da mãezinha, com uma fotografia ainda no hospital, o pobre bebé sem fazer ideia de que mundo é este, com olhos de espanto pelo mundo, o cordão umbilical ainda a alimentar o corpo, a mãe de olhinhos fechados a chorar, com uma touca na cabeça e cara de parva, o médico a dar três pontos na mãe, e o pai a fotografar a menina a ser pesada, três quilos e duzentos gramas de amor, é a legenda da fotografia no Instagram, para as marcas de coisas para bebés ver se acordam. A criança nasce anónima e só deve deixar de o ser quando tiver idade para decidir. Ela nasceu dos vossos corpos, mas não é vossa. O máximo que podem fazer é dar amor e não estragar, porque daqui a uns anos é para devolver ao mundo. Mas até lá, quem é que as protege do Instagram dos pais? Onde é que estão os adultos para tomarem conta destes adultos? Não há parceria que pague vender uma infância em stories. Já perdi amigos com esta m€rd@, para que saibam. Amigos e amigas que eu vejo espetarem o focinho da criança a tomar banho, crianças que pedem para a mãe parar de filmar e mesmo assim a mãe põe nas redes sociais, porque os seguidores estão com fome, e a menina que se aguente, que a vida é mesmo assim. Como é que se atrevem a atirá-los aos leões? Ide-vos f0d€r todos, mais a vossa bolha de egoísmo e de deslumbramento. Oxalá as crianças, que vão ser adultos – nunca se esqueçam disso – vos filmem a c@g@rem-se todos nas fraldas com 80 anos, ou com comida a cair-vos pelo queixo, todos f0did0s dessa cabeça, a não saberem qual o nome do vosso neto, e eles a filmarem “olhem para esta minha mãe, nem sabe o nome da neta, tão apagadinha que está aquela memória”. E vocês com o mesmo olhar que tinham os vossos filhos quando eram filmados por eles, perdidos sem saber o que está a acontecer, a sorrir para não se sentirem tão sozinhos do lado de lá da lente. E eles a explodirem de likes, e de seguidores, e de parcerias, e do raio que vos parta. São outros tempos, dizem eles. E as crianças que se amanhem com essa frase. Pois são, são tempos f0did0s para quem é filho deles. Filmem e guardem, entretenham-se, vão ao cinema, ao teatro, olhem uns pelos outros, façam o que quiserem, mas deixem as crianças em paz. Filmem e guardem, que elas quando crescerem logo decidem. Ai calma, há problemas maiores. Pois há, há problemas muito maiores, mas muitos deles nascem de problemas pequeninos como este. A criança não tem culpa, f0d@-se, é só uma criança. Deixem-na ser anónima, por amor a ela. Sejam adultos, façam-se homens e mulheres. E no meio disso tudo sejam pais, que já custa muito.

26
Dez22

O verdadeiro espírito natalício


Pacotinhos de Noção

20221226_011935_0000.png

Ah, o Natal!

Época de paz, amor, família, compreensão. Que paraíso na terra.

Poderia até estar a ser irónico, e agora discorreria aqui um enorme texto onde dizia "que não senhora, enquanto para uns, o Natal é tudo de bom, para outros o Natal não é assim tão positivo", e não estaria a dizer nenhuma mentira, seria uma daquelas "verdades de La Palisse", mas das quais ninguém quer realmente saber, precisamente porque disso já todos sabemos. Já para não falar no facto de que agora existe a moda de se tentar ser sempre diferente, e do contra, dizendo que não se gosta do Natal, que é apenas uma época que apela ao capitalismo, mas, entretanto, já adormeci com essa conversa secante da treta.

Aquilo de que vos quero falar é do verdadeiro espírito natalício, aquele espírito que só os autênticos filhos da mãe conseguem ter, e que é o de pensarem que o Natal (e qualquer outra data específica, ou mesmo a vida) só lhes pode acontecer a eles.

Têm nas imagens dois exemplos de pessoas que se queixam de um mesmo mal, que é o de que para os outros, alguém que presta um serviço, só presta para prestar esse serviço. Não terá direito a folgas, a vida social, a ir a casa descansar, a poder aproveitar um feriado ou o Natal. Se estão atrás de um balcão, então é aí que tem que ficar SEMPRE, sem excepção, porque como sabemos, trabalhar atrás do balcão é quase como assinar um contracto com o Rumpelstiltskin, que é para a vida toda.

Aquilo que mais me tira do sério, é que provavelmente muitas destas pessoas, que exigem ser servidas sempre que querem e quando querem, são defensores das semanas de 4 dias de trabalho, por exemplo, ou são os primeiros a aderir a greves, ou a afirmar que a greve é um direito previsto na constituição, mas isto, se estas folgas trabalhistas se referirem ao trabalho deles, e não aos dos outros... Mas isto, muito basicamente, é uma vez mais, uma prova do muito egoísmo que o ser humano demonstra sem qualquer pudor.

Deixo-vos mais um exemplo que aconteceu comigo na noite de Natal.

Tenho os miúdos com uma tosse desgraçada, nem conseguem dormir em condições. Cerca das 20:00 desloquei-me à farmácia de serviço da minha área de residência, e como não podia deixar de ser estava cheia. Afinal de contas é a de serviço, é Natal, há imensa gente com gripe, e todas as outras farmácias estão fechadas, obviamente que quem tem uma urgência é lá que se irá dirigir, e foi isso mesmo que fizeram duas catatuas que, com todas as características que já mencionei atrás, decidiram que aquele era um dia bom para "alugar" o farmacêutico, fazendo com que a fila fosse engrossando cada vez mais, porque tinham que escolher um creme que fosse bom, pois elas "iam para a neve". Pergunto, caros leitores, sou eu que sou picuinhas, ou tendo em consideração os tantos casos de pessoas que ali estão, mesmo a precisar de aviar uma receita, o acto destas anormaloides não é do mais puro egoísmo, falta de noção e passível de umas valentes lambadas na cara? Será que exijo demasiado desta sociedade, que sendo composta por seres bípedes, não me consegue convencer de que a maioria são cavalgaduras? Não sei. Deixo ao vosso critério e avaliação, que já passam das duas da manhã e agora apeteceu-me muito ir procurar uma farmácia de serviço, para ir escolher um creme que disfarce rugas. Nem tenho rugas, mas nunca se sabe se de repente posso vir a precisar.

31
Ago22

Duas formas de ver estrelas


Pacotinhos de Noção

20220831_224447_0000.png

Quase a terminar as férias, hoje decidimos fazer uma visita ao Planetário. 

Só lá tinha ido em miúdo, ainda na escola primária, a minha mulher nunca foi, e o nosso filho iria gostar de certeza.

Em relação ao preço dos bilhetes não achei escandaloso. 15 € chegaram para dois adultos e uma criança de 5 anos.

Escolhemos a sessão que melhor se adequava à idade e ficámos agradavelmente surpreendidos por perceber que o Planetário não é uma atracção esquecida pelas pessoas. Estava uma sala bastante agradável e até o conferencista mencionou o facto.

A sessão foi óptima, o meu filho gostou imenso e foram 40 minutos que passaram num instantinho.

Esta foi a parte positiva, e agora falemos da outra, mas que em nada tem que ver com o Planetário, ou quem nele trabalhe.

Tenho duas crianças, uma de 5 anos e outra de 1 ano e 10 meses. Obviamente, e como qualquer ser minimamente pensante, não me passou pela cabeça imaginar levar a mais pequena a uma sessão numa sala escura, onde se requer silêncio e  alguma atenção, pois a primeira coisa que me enervou um bocadinho foi, na fila da bilheteira, um idiota que reclamava por não permitirem a entrada da sua pequena de ano e meio. Não conseguia perceber o porquê desta situação, e estava até a sentir que estaria a ser prejudicado na sua condição de pai...

Acho não haver muito o que dizer aqui. Se aquela besta não percebe o porquê, parece-me sensata a atitude do senhor da bilheteira que lhe respondeu um seco "Pois é, mas não pode." E pronto, é ignorar e seguir.

Não sei se estão familiarizados com o edifício do Planetário de Lisboa. As bilheteiras são no R/C, e a sala de projecção é no primeiro andar. Antes da sessão as pessoas aguardam num pequeno átrio onde estão expostos o antigo projector do planetário, e um antigo e enorme telescópio. Estive a explicar ao meu filho o que aquilo era, fingindo-me de sábio e entendido, pois é só por esta altura que conseguimos iludir os nossos filhos, e ele, talvez interessado, ou apenas de simpatia extrema, parecia ouvir aquilo que lhe dizia. Bem, para dizer a verdade não sei bem se ouvia porque, a determinado momento, deixamos de estar em Belém e fomos teletransportados para Sete Rios, mais propriamente para a Aldeia dos Macacos, no Jardim Zoológico. É que os pequenos seres retardados que ali se encontravam em espera, decidiram usar, tanto o telescópio, como o projector, como ferramentas de equilibrismo, e começaram a trepar por eles acima. Isto entre guinchos e gritinhos que nos furavam os tímpanos como se a Sharon Stone nos estivesse a cravejar o picador de gelo no cérebro.

Esta tortura parou porque, entretanto, começamos a entrar na sala.

Como disse sou pai de duas crianças. Não são anjinhos, longe disso. Tem dias que me moem tanto a cabeça que até dá pena não fumar, só para ter a velha desculpa de que "vou comprar tabaco e talvez volte", mas o tipo de comportamento que têm em público, principalmente o mais velho, em nada tem a ver com a maneira como se comporta em casa. Na rua até parece uma criança educada, evoluída e respeitadora. Quem o vê, quer ficar com ele, e de facto entrámos na sala, ele cumprimentou o conferencista, sentou-se e ficou a falar connosco, os pais, tirando dúvidas, perguntando o que iríamos ver. Já os macaquinhos que estavam lá fora, entraram também, e as cadeiras do Planetário, as quais são quase como marquesas para nos deitarmos, passaram a ser trampolins para os meninos saltarem. Eram muitas Carlotas, Matildes, Salvadores e Vicentes. Curiosamente os Fábios e os Rubéns, estavam sentadinhos com os seus pais, todos com os "caps" de pala para trás, e com as suas t-shirts de cava, mas caladinhos e com um comportamento bem civilizado. Parece que aqui para os lados de Cascais, as regras da boa educação são apenas algo que fica bem em livros de etiqueta, na revista Hola! e quando a Madalena Abecasis manda que assim seja.

Perguntarão vocês, "onde raio estão os pais destas crianças?"

a progenitora, que incomodavam quem ali foi para passar um bom bocado, e que eles não o estavam a permitir. Fiz esse meu "schiuu" e ainda bem que o fiz, porque resultou exactamente da mesma forma como se não o tivesse feito...

É isso mesmo. Nem ligaram. Ninguém quer saber se incomoda ou não, e a  grande vontade com que fiquei foi a de levantar-me e começar a distribuir chapadões, e desta forma as estrelas que iríamos ver não seriam só as projectadas no tecto do Planetário. Só não o fiz porque tive em consideração as regras da civilidade, da boa educação e porque poderia haver um pai, ou até uma mãe, maior ou mais forte do que eu, e também eu poderia ficar a ver estrelas.

12
Jul22

Mais um bebé abandonado à morte


Pacotinhos de Noção

png_20220712_014936_0000.png

Foi hoje encontrado em Cascais, um bebé abandonado no meio do mato, por trás do hotel Pestana em Cascais. Ainda tinha cordão umbilical e parecia ter nascido recentemente. Foi levado para o hospital de Cascais e, ao que parece, está estável e de boa saúde.

Esta situação reporta-nos ao caso recente do bebé encontrado, já sem vida, num caixote de lixo em Sintra, o que me leva a tirar várias conclusões.

A primeira é que de facto o aborto não é desejado, mas está a tornar-se uma necessidade.

Se me perguntam se sou a favor do aborto, terei que responder que não, mas acredito que deve existir. Se eu faria? Em princípio julgo que não, a não ser num caso de mal-formação ou de risco de vida da progenitora, mas isto porque sei do amor que tenho para dar. O meu primeiro filho foi uma inseminação, e o segundo foi planeado, portanto, ambos desejados, mas se existe quem sinta que não está apto para ser mãe ou pai, penso que faz muito bem em não ter filhos, e a primeira forma de não os ter é sendo consciente e responsável, para não ter assim que partir para métodos mais drásticos. De qualquer maneira, se assim tiver que ser, acho sempre preferível que façam uso dessa opção ao invés de darem à luz um pequeno, frágil e indefeso ser, matando-o depois, ou largando-o à sua sorte podendo proporcionar-lhe momentos de sofrimento e terror.

Mas de que forma podem ser evitados estes casos?

Gente miserável, execrável e que não merece o ar que respira, sempre houve e vai haver, e quem mata, ou abandona um bebé, não merece estar à face da terra, mas sim a 7 palmos debaixo da mesma.

Mas ignorando estes casos de demónios que, infelizmente, conseguem procriar, temos que ter consciência de que podem acontecer percalços e, na grande maioria das vezes, acontecem por ignorância, falta de conhecimento e preparação. É por isso que defendo - e digo isto numa altura em que está instalada a polémica devido à disciplina de cidadania - que a Educação Sexual deveria ser de ensino obrigatório nas escolas.

No meu entender as escolas são centros de apoio que nos ajudam a definir o nosso futuro, quer profissional mas também pessoal, e como tal, tendo também em vista que esse futuro não fique penhorado, julgo que a disciplina de E.Sexual é essencial. Haverá os reticentes e até renitentes, mas isto porque pensam com as cabeças porcas e javardas com que vivem. As aulas de Educação Sexual não têm o intuito de demonstrar como se fazem bebés, como se coloca um preservativo, qual a identidade de género com que mais te identificas. Não, nada disso. A disciplina tem que existir para fazer chegar aos alunos toda a informação necessária para conhecerem tudo aquilo que às vezes não têm quem lhes ensine e que, na mais completa ignorância, acabam por ir FC tentando aprender sozinhos, não alcançando no final os melhores resultados. Exemplos práticos:

Para as meninas:

O início da menstruação numa menina. O aprender a contar e conhecer os seus ciclos menstruais, o saber o que é ou não normal, o reconhecer um problema sem ter vergonha de procurar ajuda quando, por exemplo, se ficam longos tempos sem menstruação, mesmo quando não se iniciou ainda uma vida sexual activa.

Dar a conhecer os vários métodos de contracepção, principalmente a pílula, que em muitos casos é dada a toma inicialmente, não para evitar a gravidez, mas sim porque serve como forma de regulação hormonal, permitindo às meninas regular mais facilmente o seu ciclo menstrual e até, noutros casos, evitar as tão dolorosas cólicas com que tantas raparigas têm que lidar.

Nos rapazes:

As fimoses.

São mais comuns do que se imagina, e além de causarem desconforto poderão gerar infecções graves e dolorosas, e os rapazes nunca falarão neste assunto porque não sabem que o problema que têm é mesmo um problema. Com a falta de informação pensarão ser normal.

Os métodos contraceptivos também para os rapazes, e até a informação, para um dia mais tarde, caso queiram, de que intervenções como a vasectomia, são comparticipadas pelo Estado e são muito menos indolores do que ter um filho que não se queria ter.

São só alguns exemplos no meio de tantos outros, que ajudariam a combater tantas mães e pais adolescentes, tantos bebés deitados ao lixo, mandados sanita abaixo ou abandonados em descampados. Não estou com isto a desculpar estes actos, porque quem consegue fazer este tipo de coisa a um ser, com quem compartilhou os batimentos cardíacos durante 9 meses, boa pessoa não será. Até mesmo no acto de abandonar se poderá ver um acto de carinho. Uma coisa é abandonar um bebé num lugar onde sabem que poderá ser visto, salvo e até criado, outra coisa é abandoná-lo para poder rapidamente morrer, deixando assim o problema de existir".

É por isto que aprendi a respeitar aqueles casais que admitem que não querem ter filhos, porque ao admitirem que não querem, e ao evitarem tê-los, estão já neste acto, por si só, a demonstrar amor por aquele filho que nunca terão, pois não o vão trazer ao Mundo para o fazer sofrer.

Para terminar um pequeno recadinho para todas aquelas feministas encruadas que utilizam o argumento "se não tens útero não podes falar"... Se fosse assim não teria sido aprovado o casamento entre casais homossexuais e à posterior lei que permite casais homossexuais de adoptar. É que não somos todos homossexuais, mas todos opinámos. Vivemos em sociedade e se somos diferentes porque uns têm útero e outros têm testículos, o que mais devia contar é que somos iguais, porque todos temos cérebro e coração. Saber usá-lo, isso agora é que já é outra história.

27
Jun22

Caldeirão de polémicas


Pacotinhos de Noção

png_20220627_002628_0000.png

O último texto que escrevi, acerca do assassinato da Jéssica, levantou algumas questões na área de comentários do Instagram, que nos blogs da Sapo, infelizmente, a afluência é menor e são bem menos participativos.

Num comentário de resposta, defendi que o Estado deveria intervir quando, num caso como a mãe da Jéssica, que já teve 6 filhas, 5 institucionalizadas e uma morta, e em que há hipótese de gerar mais crianças, deveria ser obrigada a fazer uma laqueação de trompas, assim como o pai, que também teria que fazer uma vasectomia.

É uma violência? Um atentado à liberdade destas pessoas? Penso que não. São medidas necessárias para controlar alguém que não tem a mínima capacidade para ser mãe ou pai, tendo em consideração que ser pais não é só fazê-los e pari-los. Ser pais é amar, educar, proteger, e segundo consta nada disto foi feito pelos da Jéssica.

E como eles, há milhares de casos, e aposto que cada um que lê estas palavras conhece pelo menos um ou dois, porque é realmente muito comum crianças nascendo em famílias onde não têm amor e atenção, deixadas ao abandono numa criação quase autorregulada, ou feita pelas creches e infantários para onde vão, mesmo quando os pais ficam em casa, sem trabalhar.

Um traço comum de distanciamento é que estas crianças parecem nem ter nome. Até aos 3/4 anos os pais referem-se ao filho como "o bebé", e não é um bebé dito de forma carinhosa, é dito de uma forma sonolenta e arrastada, dando mesmo a ideia de que não se lembram do nome do bicho. Depois dos 4 até aos 6 anos, já passa a ser o "manino". Escrevi como dizem, porque menino não parece constar nos seus dicionários. Após entrarem para a escola primária já passa a ser o "puto ou a princesa". Os anos passam e nunca utilizam o nome dos filhos, revelando o tal distanciamento, bastante acentuado, que referi.

Reparem que para estas pessoas os filhos valem pela gravidez, pois há um subsídio e dá para passar à frente nas filas, e depois valem também pelo abono. Ainda no outro dia ouvi uma conversa telefónica de um destes pais amorosos, que dizia que "deste bebé que temos agora, para receber o subsídio, temos que pagar 60 paus que temos de dívida na Segurança Social". Para quem viu as notícias da Jéssica, o estilo do artista que falava assim ao telefone era igual ao pai da Jéssica, com boné de "runa" e tudo.

Os comentários são como as cerejas, um leva a outro, e um companheiro que me lê, mas que não concorda com esta minha opinião, afirma que o Estado não pode ter este poder sobre os cidadãos, assim como não será admissível haver pena de morte. E cá está outra polémica, a pena de morte.

Tanto a laqueação das trompas, como a pena de morte, não considero que sejam poderes do Estado, e sim ferramentas para o controlo de elementos que vivem à parte da sociedade, não respeitando o próximo, colocando-o em perigo, e até muitas vezes matando-o. Quando digo que defendo a pena de morte, defendo-a como uma pena de excepção, que só poderia ser aplicada em casos de violação e homicídio de menores, homicídios em série, em massa e por motivos fúteis, e isto tudo quando apanhado em flagrante, ou claramente comprovado.

Isto que defendo é bonito e consensual? Não, sei que não o é, mas no meio de tanta facilidade que hoje em dia existe em matar, custa-me imenso que seja cada vez mais difícil punir, e que as vítimas não tenham tido direito a defesa, mas que os homicidas, mesmo os confessos, tenham sempre direito à sua defesa por parte de alguém que defende que o direito à vida é o valor maior, ignorando que aquele que defende, não teve pudor em retirar esse direito a alguém.

Compreendo que as pessoas tenham os seus pontos de vista e que os queiram defender, mas não é tudo linear, nem a preto ou a branco. Defender que o Estado não pode legislar isto ou aquilo, alegando que não faz parte das suas funções, é estar a defender o indefensável. Diariamente temos regras a respeitar, sejam elas quais forem, e quase todas impostas pelo Estado. Não podemos ter fé na consciência de cada um, porque se não existissem regras é um facto que viveríamos no meio de uma bandalheira, porque há sempre quem aproveite para ir um pouco mais além daquilo que é permitido. Mal comparado é como se querer fazer uma marquise no topo de um condomínio de luxo. Não lembra a ninguém, mas pode sempre haver alguém que tente.

É também por isso que a questão do aborto não é apenas sim ou não, e escusam de vir com a questão do "meu corpo, a minha decisão". Quando há uma gravidez, foram preciso dois para que essa gravidez acontecesse, e raramente a voz do homem é tida em consideração, para saber se a gestação avança ou não. Sim, é verdade que, pelo menos durante 9 meses, será a mulher a carregar um fardo que pode nem querer, mas havendo um dos intervenientes a querer a criança, neste caso o pai, que remédio terá a mulher senão o de ter que levar a gravidez até ao fim, porque senão ai sim, estará a cometer o assassinato do filho daquele pai. Dito isto, e sob pena de parecer que me estou a contrariar, eu sou, não a favor do aborto, mas sim a favor de que seja uma ferramenta disponível a ser usada, caso haja necessidade disso, e com o consenso de ambos os possíveis futuros pais. É preferível um bebé que não nasceu, a um que nasceu e que será morto cá fora, ou que será abandonado, ou maltratado e poderá vir a ser um marginal. Falando friamente devo dizer ser assim que funcionam os países de 1.º mundo, e é assim que também se combatem os números da criminalidade.

Ainda assim um aborto não pode ser feito de ânimo leve, nem pode ser vangloriando como se fosse um ritual de passagem, como vimos defender a tonta da Mafalda Matos, no Big Brother Famosos, que só faltava dizer que uma mulher que se prezasse deveria fazer um.

Julgo que o aborto tem que ser regulamentado e, mais uma vez, quem os faz deverá ser responsabilizado, caso seja uma práctica comum. Não estamos no séc.XIX, e hoje temos vários meios que permitem evitar gravidezes indesejadas, parte apenas, mais uma vez, daquilo que eu disse que a população não tem, consciência, e é por isso que existe a necessidade de haver quem nos guie.

02
Mai22

Dia da Mãe


Pacotinhos de Noção

png_20220502_011146_0000.png

Ontem foi Dia da Mãe.

Não coloquei aqui nenhuma foto da minha, nem lhe mandei 1000 beijinhos. Primeiro porque a minha mãe não tem redes sociais e depois porque não tenho a melhor mãe do Mundo. Podia dizer que sim, mas estaria a mentir. É que, segundo vi, já muita gente tem aquela que é A MELHOR do Mundo, e se é essa a melhor, então a minha não deve ser, até porque está cheia de defeitos. De qualquer forma, mesmo com defeitos e no meio de tantas melhores mães do Mundo, a minha é a minha, e gosto dela assim. Se lhe mudaria algo? Sim, mudaria. Mudaria a conta bancária, e passava a ser um daqueles filhos de 40 anos que vivem à custa da mãe. Pedia-lhe para me abrir uma empresa toda na moda e dizia ser uma "start up". Bem pensado, não?

Ontem foi aquele dia magnífico, em que às 12:45 os filhos vão buscar as mães velhotas aos lares, para às 13:00 já estarem no restaurante a almoçar, e logo às 14:30 já poderem ir largam o entulho novamente na instituição, que o Dia da Mãe é ao Domingo e ainda pode ser que dê para aproveitar alguma coisinha do dia.

Podiam ter levado a velha à casa da família, mas sem o barulho dos restaurantes havia a hipótese de ter que conversar, e ai a velha mãe podia perceber que é já uma carta fora do baralho, não contando a sua opinião nem para escolher o papel de embrulho do Natal.

E levando a progenitora até à casa de família, o Piruças podia sentir-se incomodado, porque não está habituado à "belha", e como ele, embora de 4 patas, é um membro da família, não o vamos incomodar.

Não escarrapachei em qualquer rede social o quanto gosto da minha mãe, ou o quanto a minha mulher é uma mãe magnífica, porque não tenho nada a provar, e desenganem-se se pensam que fazem parte desta equação, porque a principal pessoa a quem não tenho nada a provar, e nem sequer preciso de o fazer, é a mim mesmo.

 

21
Mar22

Escapadinha ao 3º Mundo


Pacotinhos de Noção

20220321_221312_0000.png

Na 5.ª feira passada dirigimo-nos ao Hospital de Cascais com a nossa filha mais pequena, que estava com febres altas, na ordem dos 38, 39, 40 graus. 

Tínhamos plena consciência do que seria porque, infelizmente, durante os seus 17 meses, esta já seria a terceira vez a desenvolver uma infecção urinária. De qualquer das formas o diagnóstico tem sempre que ser feito por quem sabe, até para poder ser administrado o antibiótico à miúda.

O cenário com que nos deparámos era dantesco.

A sala de espera da pediatria estava apinhada de gente. Não havia uma cadeira vaga e imensos estavam em pé. Um A/C demasiado quente, pessoas para quem o uso de máscara já não é uma obrigatoriedade e que faziam questão de tossir para o ar. Uma criança que fez diarreia no chão e outra que fez xixi pernas abaixo. São crianças, é natural que estes desastres aconteçam. Aquilo que não será já tão natural é a enfermeira colocar apenas paninhos por cima das porcarias e afirmar que não vai dar para limpar porque as senhoras da limpeza não têm como caber ali, com o seu carrinho da esfregona.

Entrámos pelas 17:30 e só saímos perto das 2:00. A nossa senha era o 148, mas quando viemos embora chamavam pela 346...

Nunca tinha visto um hospital nestes preparos, senti estar num país de 3.º Mundo, e é mais escandaloso ainda quando temos em consideração que é o Hospital de Cascais. Um hospital que até há bem pouco tempo era utilizado como referência para outros hospitais.

O que mudou entretanto?

Será que foi aquele bicho peçonhento que nos andou a atormentar, e ainda atormenta? Só o facto de ainda andar por ai, justifica eu não escrever o nome, para não ter assim o texto, obrigatoriamente referenciado como "texto que aborda nesse assunto"... O assunto do "Quem nós sabemos", "Aquele cujo nome não deve ser pronunciado".

Ou será antes que a culpada é a guerra na Ucrânia? Sim, porque a vez do "outro" foi tomada, e se eu amanhã quiser ir ao barbeiro, e não tiver hora disponível, vão pedir imensa desculpa, "mas com isto agora da guerra, sabe como é..."

Mas não, amigos leitores, vou deixar-me de especulações e dizer, CONCRETAMENTE, o que mudou.

O que mudou foi que o Governo mentiroso, oportunista, explorador e pouco transparente que tínhamos, transformou-se agora num monstro de maioria absoluta, e que fará aquilo que lhe der na real gana.

O Hospital de Cascais, assim como o Hospital de Braga, por exemplo, eram dois exemplos de hospitais PPP (Parcerias Público Privadas) que davam muito certo. Hospitais dirigidos como empresas, não geravam prejuízos, muito pelo contrário, chegavam a gerar lucros, e que mesmo sendo geridos como empresas permitiam que uma pessoa sentisse ser isso mesmo, uma pessoa, quando se ia a um destes serviços hospitalares.

Acontece que "El António Costa — o Afanador" ou se quiserem, "António Costa — O Discípulo Socrático", decidiu que estas PPP deixariam de existir desta forma. Passariam de novo para as mãos do Estado, sem uma justificação plausível, que nos permita perceber o porquê?

Ao não haver explicações, cada um de nós é livre de pensar aquilo que quiser, e eu, mente retorcida como só eu sei ser, começo a imaginar se o término das PPP, que não geravam derrapagens orçamentais, não acontecerá precisamente devido às derrapagens que não aconteciam?

É que os desvios de dinheiro não se fazem em empresas de contas certas, que coloquem tudo preto no branco e sejam organizadas. Para Governos como este, quanto mais bandalheira melhor, porque assim no meio de tanta confusão, uns milhões que fogem para aqui, e outros que fogem para ali, acabam por fazer tal confusão, até na cabeça de quem rouba. Por isso é que depois, nas comissões de inquérito onde são chamados devido a negócios menos claros, nunca sabem bem sobre o que são inquiridos, ou nem sequer se lembram do que "passou-se", como diria o outro.

Voltando ao Hospital de Cascais, e à consequência do mau planeamento, da falta de higiene, em suma, de toda a falta de condições... Estou no segundo dia de internamento da minha filha. A somar à infecção urinária que tinha, agora ganhou uma forte gastroenterite, tendo deixado de comer, de beber. Desonesto não posso chamar ao médico que nos atendeu. Disse, desde logo, que a probabilidade da minha filha ter apanhado este vírus no hospital é de quase 100%. Mas de que me interessa saber de onde vem o vírus, quando eu queria era que ele se fosse embora?

A minha pequenina continua alimentada a soro, ainda não tem grandes apetites e passa a maior parte do tempo a dormir. A febre, felizmente, já parece ter dado tréguas.

Este é um hospital onde trabalha boa gente, caso as deixem trabalhar. É uma pena que o VOSSO Governo (sinta-se ofendido quem neles votou) tente mandar abaixo aquilo que outros construiram e que, pasmem-se, até funcionava.

Em campanha, António Costa e Marta Temido não tiveram pudores em dizer que o SNS estava perfeito. E estará, caso as siglas do SNS signifiquem "SUICÍDIO NATURAL DA SAÚDE"

29
Jan22

Passo-me com o passado


Pacotinhos de Noção

Nos últimos tempos passou a estar quase generalizada a ideia de que o que conta é o futuro, que quem vive do passado são os antiquários e ser-se saudosista não é visto com bons olhos. Pois, eu sou um enorme saudosista e ter saudades do passado é algo de agridoce, pois se por um lado me conforta o coração por outro entristece-mo, por saber que há coisas que não mais viverei. Tenho, ainda para mais, uma condição, não diagnosticada, mas que é um facto, de que perdi grande parte da memória de toda a minha infância. Não sei se foi de quando parti a cabeça em miúdo, mas o meu passado é quase todo um enorme vazio. Familiares contam-me coisas passadas que, para mim nunca existiram. Curiosamente algumas das memórias que a mente optou por guardar, prendem-se com programas de televisão ou sensações. Talvez seja por isso que do pouco que me lembro, recordo com carinho, mesmo que alguns sejam momentos que não são particularmente espectaculares.

Respeito e agrada-me também o passado porque é ele que nos faz evoluir. Afinal de contas a formação do nosso carácter acontece por tudo aquilo que passámos e não por aquilo que há-de vir a acontecer. Se nos estivermos a moldar, projectando aquilo que pode vir a acontecer podemos nunca chegar a ser nada, pois o futuro é incerto, pode nunca vir a acontecer. Já o passado está lá, firme e forte, com toda a sua história.

Como disse anteriormente o passado causa-me também um sentimento um pouco agridoce, uma certa angústia, porque sei haver coisas que não mais se repetirão, mesmo que eu as tente reproduzir fielmente, e são muitas.

As manhãs de Domingo, em que o meu pai ia para o quintal tratar da horta ou dos animais, em que me chamava para o ir ajudar, coisa que me aborrecia, pois eu queria era ficar a ver os desenhos animados, mas que acabavam por ser preteridos para eu ir varrer o quintal.D

Depois havia o cheiro da madeira a arder, na fogueira que o meu pai habilmente fazia entre dois tijolos para depois se pousar a grelha e assar o frango, frango esse cujo sabor fumado é até hoje inigualável e que sei que por muitos anos que viva nunca mais o vou sentir. O pai que assava o frango já cá não está, as manhãs de Domingo já não são para ver os bonecos, e mesmo que queira fazer um frango daqueles agora já tenho um grelhador e uso carvão... Ah, e não herdei a habilidade do meu pai a acender fogueiras.

Outra das memórias de fim-de-semana era quando a minha mãe pedia que eu e a minha irmã fossemos ao supermercado Polisuper, na Galiza, só para comprar o pão que lá faziam e que vinha quentinho, acabadinho de sair do forno. Íamos a correr para casa só para ainda conseguirmos ter a manteiga a derreter no pão, mas não sei bem o que acontecia que, invariavelmente, o pão já chegava a casa com duas ou três dentadas. Daqueles mistérios que ficarão por resolver. Depois do pão comprado via, quando era possível, ao Sábado as classificações dos pilotos da fórmula 1, e ao Domingo a própria corrida.

Ainda há fórmula 1, mas os carros são diferentes, a publicidade é diferente, os comentários são diferentes e por mais que estes pilotos sejam vedetas nunca irão atingir o patamar de mitos como Ayrton Senna, Alain Prost, Nélson Piquet ou até Mikka Hakkinen. Continuando no mundo das corridas, que curiosamente devo dizer que agora até nem me interessam, recordo-me também com bastante saudade dos Paris-Dakar, que aconteciam nos princípios do ano e que nos aqueciam o Inverno, por vermos os carros a atravessar os desertos escaldantes.

Outras memórias que me ficam são os dias passados na praia, em que nada tinhamos com que nos preocupar, tudo aparecia feito como que por magia dentro de uma arca azul e laranja que depois o meu pai carregava para a praia. Que bem que nos sabia, depois de corridas, mergulhos, buracos, castelos na areia e sermos enterrados até ao pescoço, aquelas sandes de alface com afiambrado, porque naquela altura o fiambre era a preços proibitivos, e as pequenas madalenas da DanCake, que pareciam pequenos barquinhos...

Por falar em comida, outra das memórias doces que tenho são os lanches que a minha mãe nos fazia. Simples, porém deliciosos. Leite com café de cevada e uma boa fatia de pão de Mafra com manteiga. Sabia pela vida e não havia Bollycao que tivesse comparação.

Mas estas são memórias mais infantis. Crescendo e evoluindo fui também guardando outras memórias que me alimentam a alma. Como esquecer o pôr-do-sol cor de laranja que banhava a sala de estar da casa onde morava a namorada, que viria a ser a minha mulher e mãe dos meus filhos.

Era um pôr-do-sol de Verão que nos banhava o rosto e do qual sentíamos aquele calorzinho agradável que só nos toca na face e em volta dos lábios. Almada, aquele deserto na margem Sul, passou para mim a significar o verdadeiro começo da vida, pois esse pôr-do-sol era ali que pertencia.

Da minha filha mais nova ainda não tenho memórias suficientemente distantes das quais possa sentir saudades, mas do meu filho de 4 anos posso dizer que já tenho várias. Uma das mais queridas é de umas férias que fomos fazer a Nerja, uma cidade no litoral de Málaga, onde foi gravada a série "Verão Azul". Foi aliás por causa disso que decidimos lá ir. A verdade é que o meu filho tinha quase 2 anos na altura, mas foi (e é) uma companhia tão prazerosa para os pais, que fez com que essas férias fossem de facto bestiais. Cheguei a andar com ele horas às cavalitas, em abafadas temperaturas de 39º e 40º, e suei as estopinhas, mas foi magnífico e tenho imensas saudades.

Depois há memórias que tenho com os irmãos mais novos, que em parte já ajudei a criar, e que não voltam mais. Olhar para pessoas de 30 anos a quem dei banho e mudei fraldas (sim, naquela altura os irmãos mais velhos cuidavam dos mais novos) faz-me gostar muito mais de tudo o que já vivi e de que me lembro, do que daquilo que por ai há-de vir e que não faço ideia do que seja. Vontades tenho muitas, desejos também, mas não sei se duro até amanhã e por isso só me quero preocupar o estritamente necessário, no que ao futuro diz respeito.

E vocês, são saudosistas, não ligam nenhuma ao passado e anseiam pelo futuro, ou gostam do abraço confortável que as memórias vos trazem?