E foi assim que se contou
Pacotinhos de Noção
Foi em 2007 que tudo começou.
Eu e a minha mulher, juntos há apenas dois anos, moradores num pequeno quarto onde toda a nossa via cabia, acompanhávamos as peripécias da família Lopes. Identificávamos na personagem do Miguel Guilherme, o António Lopes, traços do meu sogro, que sempre foi também um chefe de família sonhador, que sempre pensou em como fazer a família ter um futuro melhor. E existiam também traços na fisionomia, e expressões da personagem que, mesmo nesta última série, a faziam representar muito bem o meu sogro.
Nas personagens do Carlitos (Luis Ganito), da Margarida (Rita Blanco), da Isabel (Rita Brütt) e do Toni (Fernando Pires) não identificávamos ninguém em especial, mas habituámo-nos a viver a vida daquela família, quase como se fosse a nossa, e eram uma enorme companhia. A avó Hermínia (Catarina Avelar) guarda um lugar especial, porque não sendo nenhuma das avós que tivemos, representava perfeitamente os milhares de avós que este país teve, e tem, que são o exemplo perfeito de que uma avó é uma segunda mãe, quer para os netos, quer por vezes para o genro ou para a nora. Da voz a uma daquelas avós, que são um pilar fundamental numa família.
No meio de tantas épocas que a série teve houve muitas personagens marcantes e exemplarmente interpretadas. Não podemos esquecer o Engenheiro Ramires, do José Raposo, a Clara, da falecida Maria João Abreu, Filipe Vargas, que era o amigo Dino, do António, o dono do café, o Fanan interpretado por João Maria Pinto, e o Camões, do actor Luís Alberto.
Nesta última série a Luz, de Madalena Almeida, e a Susana, de Beatriz Frazão, foram fundamentais para fazer crescer ainda mais a empatia que já tínhamos ganho com a família Lopes, mas que precisava de ser renovada com a entrada nos anos 80.
Senti hoje, com este último episódio, a nostalgia, a tristeza e a saudade que sentia quando era miúdo e em que acabava uma série de desenhos animados, ou como quando morreu o Chanquete, no Verão Azul. Senti que terminava hoje a companhia que eu, e a minha mulher, fomos tendo ao longo destes 16 anos, em que também nós evoluímos. Em que deixamos de estar num quartinho, e temos a nossa casinha, em que deixámos de ser dois recém-casados e em que somos pais de uma família de 4, em que iniciámos também o nosso negócio, e em que no desenrolar da vida fomos tendo ganhos e perdas, nascimentos e, felizmente só um falecimento, mas que também aconteceu, e que de alguma forma nos fez crescer como pessoas.
A família Lopes, em princípio, não mais voltará, a não ser em repetições, porque estender a série para os anos 90 talvez seja algo que não se justifique, mas nós cá continuaremos, e sempre que olharmos para estes actores que nos acompanharam, mesmo noutros trabalhos que possam até ser alvo de sucesso maior, e até mais premiados, não deixarão nunca de ser aquela família com quem quisemos sempre estar.
O Miguel Guilherme é o António Lopes, mas também é o Quim Fintas, a Rita Blanco é a Margarida, mas também é a Ivete Carina, do Casino Royale, o Luis Ganito é que durante uns tempos será sempre o Carlitos, e nem estou a falar deste engatatão escritor, que tão bem emoldurou esta última série. Falo daquele puto traquinas, que tinha um aspecto tão querido e fofo e que foi o mais custou não ter em toda esta série dos anos 80. Vendo mais coisas do Ganito, a coisa vai-se alterando, mas para já o Carlitos será sempre o Carlitos.
Para terminar, fazer também uma menção honrosa a alguém que participou em todos os episódios, mas que nunca chegou a aparecer, e que foi parte fundamental.
Luís Lucas, que com a sua voz inconfundível narrou todos os inícios dos episódios, interpretando um Carlos, contador de histórias, mais maduro e vivido. A voz de Luís Lucas é uma marca tão profunda na série como os genéricos "Vinte Anos", do José Cid, ou mais recentemente o "Dunas", dos GNR.
Obrigado a todos que fizeram esta jóia, foi bom acompanhar-vos, e é triste deixar de saber dos Lopes. Mas todos seguiremos caminho.