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Começo por dizer que nunca fui dos deslumbrados por Ronaldo, mas a partir de determinada altura passei a admirá-lo. Sempre o preferi ao Messi. Não por ser português, mas por ter a coragem de demonstrar o seu valor em vários clubes, por conseguir deixar a sua marca em todos, por ser um exemplo de trabalho, de evolução e de conceito família. Tinha tudo para se deixar deslumbrar, encostar-se aos títulos e ao dinheiro ganho e aguardar pelo seu fim de carreira, sem se ter que incomodar, afinal de contas já tinha os bolsos cheios. Em vez disso, Ronaldo quis sempre melhorar, quis sempre crescer, bater recordes. Passou a ser um vício, uma necessidade de afirmação, e podemos criticar por isso? Numa sociedade, longe de perfeccionista, que desempenha as suas funções de maneira sofrível, não seria de admirar quem trabalha para ser o melhor?
A grandiosidade deu-lhe alguma falta de modéstia e até alguma gabarolice? Pois com certeza que deu, e se esse é o seu maior mal, então está de bom tamanho.
Cristiano Ronaldo não é o D.Sebastião desaparecido, não é o salvador da pátria, e importa-me muito pouco se nos quatro cantos do mundo sabem o que é Portugal apenas por causa dele. Aquilo que me importa é que Ronaldo já foi O MAIOR, O MELHOR, o arquétipo do perfeito jogador de futebol, e nós pudemos ser testemunhas desse feito. Tivemos outros bons jogadores na selecção, mas poucos com a entrega dele. Todos têm presente a imagem de Eusébio a chorar, em 1966, depois da selecção perder contra a selecção inglesa. É uma imagem que demonstra a entrega de um jogador à selecção. Temos disso em Cristiano Ronaldo, mas não tínhamos, por exemplo, noutro grande jogador português, que chegou a afirmar que se vinha à selecção para perder prestígio, então preferia não vir. Quer proferiu estas palavras foi Luís Figo.
Não era, enquanto CR7 estava no auge, que o mesmo precisava de respeito, de apoio, de amizade por parte dos adeptos. É agora, numa altura em que todos lhe viram as costas, em que ele ainda joga ao mais alto nível, mas em que a populaça, e os comentadores, não hesitam em tentar rebaixar e menosprezar.
Ainda presentemente Paulo Futre, que já não joga há uns anos valentes, é amado, acarinhado e respeitado pelos adeptos do Atlético de Madrid, Ronaldo, ainda no activo, perdeu a imprensa, os comentadores, os treinadores e alguns adeptos.
Relembro que Ronaldo não criou o futebol em Portugal, mas faz parte de um época em que, talvez, o mesmo tenha tido o seu ponto mais alto. Foi campeão europeu... Para mim, sinceramente, isso diz-me muito pouco. Não ligo assim tanto ao futebol que julgue que ser campeão europeu seja algo com tanta importância, mas é verdade que antes de Ronaldo estávamos habituados a um futebol português comparável ao tremoço, e agora temos um futebol comparável ao caviar.
Estão a ser injustos e mal-agradecidos para alguém que acima de tudo sempre trabalhou imenso.
Espero que no resto do Mundial Ronaldo ainda possa dar duas ou três chapadas de luva branca àqueles que sempre precisaram dele para fazer notícias e vender jornais, e que agora dizem cobras e lagartos.
No fim de carreira as pessoas devem ser acarinhadas, não espezinhadas. A imagem que ilustra este texto é demonstrativa de alguém que no fim, depois de tanta ribalta, vai dar graças a Deus por ter investido numa família que ama. São eles que lhe irão dar o colo que irá necessitar.
Temo que para muita gente, Cristiano Ronaldo só será novamente elevado a grandioso no dia em que morrer, e em que relembrarem o artista que foi com os pés.