Por mim não passa
Pacotinhos de Noção
Estreou hoje a nova temporada dos Ídolos.
Admito que não sou apreciador deste tipo de programas, os chamados "talent show", principalmente porque, e peço desculpa aos mais susceptíveis, mas penso que Portugal tem muito pouco talento.
O talento é como a nossa dentição. Não nascemos com ela, vai aparecendo, mas se não a cuidarmos, rapidamente se estraga, e o que acontece é que temos a convicção de que o talento é algo com que se nasce e que não desaparece... Errado, acho eu.
Reparem no Cristiano Ronaldo. Tinha o talento, mas quando estava no Sporting não se adivinhava chegaria ao patamar onde chegou, e tal aconteceu porque trabalhou, e ainda trabalha, para conseguir manter o seu talento acima da média.
De qualquer das formas, e não apreciando o conceito, tive sempre o hábito de ver os episódios iniciais para poder testemunhar aquilo que tantos espectadores prende no Mundo todo, e que acabou por dar fama ao programa, os Cromos.
Acontece que, nesta nova temporada, parece que a aposta não vai tanto no sentido de mostrar os Cromos. Não sei se é a moda do politicamente correcto, se porque a sociedade agora é uma florzinha de estufa, que desata a fazer queixas à Entidade Reguladora da Comunicação (ERC) quando há uma piada que não se gosta, se alguém canta uma nota acima, se alguém é vesgo, se aparenta não ter tomado banho... enfim, não interessa o porquê, interessa é que se façam queixas e que se comportem todos como super-heróis, de vítimas que não pedem para ser salvas, e que por vezes até criam um boneco de forma a conseguir os seus 5 minutos de fama. Aconteceu com o rapaz que tinha "Star quality", com o do "Tá forte, tá, eles não gostam de mim..." e com tantos outros que eram o que dava grande parte da graça ao programa.
Algo que também perdeu a graça foram os comentários dos júris e a apresentação.
Sinto falta do enfado de Pedro Boucherie Mendes. Joana Marques parece-me um tanto ou quanto pouco à vontade. Também acontece comigo, que nem os parabéns consigo cantar de forma aceitável, ficar confrangido quando estou num ambiente onde outros cantam. Percebo que a ideia seria a de que fosse extremamente desagradável, mas uma coisa é sê-lo para aqueles que estão mesmo a pedi-las, outra coisa é sê-lo para pessoas que, por mais inconscientes e sem noção que sejam, têm um sonho, que poderá ali ser destruído.
A apresentação só teve a perder com o não retorno de João Manzarra, que nos seus diálogos com os participantes dava bastante ritmo ao programa, coisa que agora não acontece, sendo mesmo até aborrecido. A culpa não é de Sara Matos, que provavelmente será uma figura mais acolhedora para os participantes, mas são estilos muito diferentes e este, a mim, não me agrada.
Mas posso até afirmar que a escolha de Sara Matos terá feito todo o sentido se tivermos em consideração que a génese do programa mudou radicalmente.
Dantes era um "talent show" que tinha uns Cromos engraçados que nos divertiam, agora parece mais um "reality show", com todas as historietas de superações, de avós que morreram, de problemas psicológicos como depressões e bipolaridades. Parece mais que a fila é para uma sala de terapia e não para uma audição. Não faz sentido o ecrã com a aparição de amigos e familiares com mensagens de apoio. Parece tudo demasiado forçado para ficar mais sentimental, mas apenas fica mais aborrecido e insosso.
Em relação às vozes que apareceram hoje, como já afirmei, para mim, é um pouco secundário, mas também posso dizer que não ouvi nenhuma claramente agradável e ouvi uma que nada valia, mas que até levou um cartão dourado. O pragmatismo leva-me a entender que apenas tal aconteceu porque na próxima fase também há alguns que têm que ficar pelo caminho.
Visto que a parte que me interessa no programa deixou de existir, por mim está feito, não vejo mais, e se quiserem fazer a final já para a semana, por mim tudo bem.