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Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

14
Set23

Regresso às aulas - P'ra esse peditório já dei


Pacotinhos de Noção

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Para mim é realmente um regresso.

Mais de 20 anos depois a rotina escolar voltará a fazer parte do meu dia a dia. Agora, sendo a personagem central o meu filho, que é quem vai iniciar-se no "incrível mundo da aprendizagem".

Quando era miúdo não gostava dos inícios dos anos lectivos. Não por nervosismo, mas porque havia uma série de professores novos, podia calhar algum que fosse uma besta, e porque no início do ano acho que é quando tudo se decide. Ou entramos muito bem, e o resto do ano flui naturalmente, ou começamos aos soluços e no final acabamos a soluçar. Mas ao que parece isso agora não acontece. Poucos são os alunos que soluçam no final do ano, e as mudanças não se ficam por aqui.

Bem sei que ser professor, e trabalhar para o Ministério da Educação, é quase tão recompensador como martelar pregos com a testa. Os professores ganham mal, são colocados a 134932 quilómetros de distância de casa, as casas para alugar estão pela hora da morte, e ainda assim tem que se morrer duas vezes. São impedidos de ensinar, pois têm um programa, imaginado por uns carolas, sentados nas suas secretárias, e não podem fugir daquilo que lhes é imposto.

Aquilo que eu desconhecia, na totalidade, era que o Ministério da Educação vive pelas ruas da amargura, e os professores, aqueles que ainda existem, têm agora que fazer o papel de pedintes.

Posso estar a incorrer numa grande injustiça, e a prática que vos vou contar ser apenas usada na escola do meu filho, mas estou em crer que não, porque a falta de vergonha na cara, que os sucessivos governos PS demonstram, parece que está sempre em modo "crescendo".

Na listinha de material que dão aos pais, no início do ano, tem o material habitual, como lápis, borrachas, canetas de feltro, alguns cadernos. Têm também alguns itens que me parece descaramento, porque, claramente, é material pedido para abastecer a escola.

DUAS RESMAS DE PAPEL - cada resma tem 500 folhas. Mesmo que todos os dias, o meu filho usasse duas na escola, para limpar o rabo, não iria conseguir dar vazão a tantas folhas. Dir-me-ão vocês que são para fichas, desenhos, e testes do meu filho. Para as fichas mandaram comprar cadernos de actividades e para os desenhos um bloco de folhas lisas. Poderia ser para os testes, se os mesmos não tivessem sido abolidos.

CANETAS PARA QUADRO BRANCO - As canetas de quadro branco são o nosso antigo giz. Não me recordo nunca de as minhas professoras pedirem para levarmos giz de casa. Aliás, não rara era a vez em que nós é que surripiávamos meio pau, para desenhar a macaca, o caracol, ou o labirinto.

Até aqui os meus amigos podem dizer que este é material para uso diário, para envio de recados aos pais, e coisas desse género, mas não deveria este material fazer parte do orçamento de cada escola? O Ministério não disponibiliza uma verba para a compra de material? Que moda é esta de pedirem aos pais dos alunos para abastecerem a escola? O passo seguinte será solicitarem o envio de rolos de papel higiénico, ou mandarem a factura da luz e da água, pela caderneta do aluno?

O último pedido é então mais ridículo pelo simples facto de ser pedido como se fosse um material qualquer, ou uma obrigação dos pais. Pedem 1 ou 2 livro para rechearem a biblioteca da escola, mas não podem ser uns livros quaisquer. Têm que ser livros abrangidos pelo plano nacional de leitura, e eles próprios admitem que é mesmo para aumentar a biblioteca da escola. As perguntas que fiz acerca do material volto a fazê-las. Não cabe ao Ministério prover para que cada escola tenha a sua própria biblioteca, o mais completa possível?

Se esta situação dos livros fosse feita em forma de pedido, e não tivessem ainda o descaramento de SÓ quererem livros do plano nacional de leitura, doaria com todo o gosto alguns livros, mas feito desta forma, como se fosse obrigação, e camuflado como material escolar, que não mais voltará, só me faz torcer o nariz.

Mas já vou ficando habituado. É o país que temos, graças aos políticos que temos, em que para mandar vir o papa rezar umas novenas, gastou-se milhões de euros, mas para resmas de papel, para a escola, não há dinheiro, e por isso que se peça aos pais.

26
Mai22

O trabalho do Milhazes


Pacotinhos de Noção

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Esta informação poderá ser toda recolhida e confirmada na internet, mais especificamente na Wikipédia.

José Milhazes rumou à União Soviética em 1977. A ideia inicial seria a de estudar e voltar ao seu país de origem, mas logo após se formar, em 1983, acabou por casar e ficou pelas terras dos czars. Voltou em definitivo a Portugal em 2015, o que significa que passou 38 anos pelas terras de Tolstoi, autor, aliás que Milhazes traduziu para português, por entre outros tantos, em que também fez o mesmo trabalho.

Ao longo das décadas passadas na Rússia, Milhazes tornou-se jornalista e, consequentemente, colaborador, e correspondente para rádios e jornais como a TSF, o Público, Agência Lusa, RDP e mais tarde a SIC.

Lançou mais de uma dúzia de livros, variados artigos científicos e tem também já uma extensa carreira como historiador.

Ultimamente era visto semanalmente, como comentador, no programa da SIC Notícias, Invasões bárbaras, apresentado por Iryna Shev, e em que partilhava mesa com Olivier Bonamici e Giuliana Miranda.

Como podem agora observar, o título "O trabalho do Milhazes" não tinha o intuito de ser um trocadilho para brincar com a tradução feita pelo jornalista no Jornal da Noite, deixando Clara de Sousa escandalizada, Nuno Rogeiro divertido, e todo um país que reclama para si um intelecto superior, ao afirmar que não vê programas como o Big Brother, por exemplo, por não gostar do que representa e daquilo que por lá se diz, mas que vai aos píncaros da emoção por haver uma constatação do Milhazes ao afirmar que os jovens russos num concerto, em plena Rússia, repetem que "A guerra que vá para o c@r@Ih0", ignorando que José Milhazes o fez para sublinhar a coragem daqueles jovens, perante as forças policiais comandadas por um ditador que, até agora, não tem tido qualquer pudor em bater, invadir, prender, matar.

Esta mensagem de Milhazes foi remetida para segundo plano, e aquilo que gerou memes e transformou o jornalista no novo herói português foi a reprodução de um palavrão no horário nobre na SIC.

Para alguém com uma carreira tão rica e tão extensa como a de José Milhazes, ser reconhecido e vangloriado apenas devido a um palavrão, haverá de ser muitas coisas, sendo que a principal será a frustração. 

Força Milhazes, és bem mais que aquilo que agora te querem imputar, e se por acaso continuarem a chatear-te com essa treta, manda, mas é toda a gente para o...

30
Abr21

Snobismo Intelectual


Pacotinhos de Noção

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Atentando ao título deste post quem lê poderá rapidamente pensar que vou falar deste e doutro indivíduo que sendo capacitado de intelecto superior menosprezará os infelizes que não são intelectualmente tão desenvolvidos. Mas não. Este mesmo título sofre também de algum snobismo e soberba porque poderia facilmente, posso até afirmar, ser traduzido para "Os Chicos-Espertos que acham que sabem mais que os outros mas são uns verbos de encher que até faz arrepiar os pêlos da nuca". Escolhi o outro apenas por uma questão de métrica.

Quem é que conhece aquela pessoa que da noite para o dia começou a ser um profundo conhecedor de vinhos, que não distingue um Dão do carrascão mas que faz toda uma dança contemporânea com o copo... Perdão, com o balão (quem bebe vinho em copo são os bêbedos de taberna) e que avalia a qualidade do vinho consoante o preço da garrafa. Pode até estar a beber mijo de burra, mas se custa 30€ a garrafa, então é bom. Pratica o snobismo intelectual quando convive com alguém que não aprecia o néctar e o tenta converter porque "se não gostas é porque não provaste os adequados, que só te deram vinhos baratos, que beber um bom vinho não é beber vinho, é uma experiência."

A apetência para os vinhos assim como rapidamente aparece, também rapidamente desaparece. É substituída pelo sushi, pela carne maturada, pelos charutos, por pastelaria fina, por chás, cafés do sul da Cochinchina torrados nas costas dum hipopótamo albino...

Mas não se resume a bebericagem e gastronomia.

Temos aqueles para quem viajar é tão essencial como respirar. Aqueles que nos fizeram o favor de continuar a viajar quando já existia uma pandemia, ajudando a uma propagação mais rápida.

Defendem que quem não viaja não vive. Não interessa muito se ficaste a conhecer bem o sítio para onde foste, até porque és turista de pé descalço e convém não visitar muita coisa porque nalguns lugares é a pagar. O que conta é acumular horas de voo e meter as fotos no Instagram. Os outros vão ver e com certeza vão-se sentir burros porque não conseguiram fingir que entortaram a Torre de Pisa. A história e a cultura do país interessa pouco, mas a "Coca-Cola lá sabe ao mesmo" e "inglês não é com eles", "Mas se um dia lá conseguires ir, depois vês como é."

Livros... Se gosto de livros? Gosto. São filmes realizados por mim no cinema mais exclusivo que existe, a minha cabeça, e ajudam tanta e tanta gente a relaxar. Há-de ser por esse motivo que tantos lêem na casa de banho e este é um dos motivos porque raramente empresto ou peço livros emprestados. Gosto de livros agora MORRER SE NÃO LER UM LIVRO. Só se for o livro de instruções de um colete salva-vidas e estiver em pleno naufrágio.

Desconfio logo quando me dizem que "neste momento estou a ler dois livros".

Dois livros? Sempre ouvi dizer que quem muito burros toca, algum fica para trás, e regra geral é isso que acontece A não ser que tenham realmente uma grande capacidade de separar as histórias ou estão a ler enviesado, apenas para fazer número. Na escola li ao mesmo tempo "Os Maias" e o "Viagens na minha Terra". Um escrito pelo Almeida de Queiroz e o outro pelo Eça Garrett. Já não sei quem é que se envolve com a Joaninha, se é o Carlos, o Carlos da Maia ou a Eduarda e se o Ramalhete fica em Lisboa, Santarém ou no Alandroal... Estou confuso. Mas isto sou eu que sou burro. Há quem leia vários livros ao mesmo tempo e que saiba tudo sobre tudo.

A piada destes snobes intelectuais é que não enganam ninguém. Como são tão desenvolvidos intelectualmente depois não lhes sobra espaço para o senso comum e conseguem dizer alarvidades em catadupa.

Nas redes sociais, e em canais televisivos, temos alguns exemplos que personificam perfeitamente o tipo de pessoas de que falo.

Diogo Faro, Margarida Rebelo Pinto, Raquel Varela, Joana Latino são pessoas que até se enquadram bem naquilo que quero dizer. Sei que há quem concorde e quem discorde, aquilo que aqui deixo é apenas a minha opinião e só o faço porque merecem ser castigados por me fazer sentir tão mal comigo mesmo. Sinto-me intelectualmente inferior e quem ler isto com atenção vai percebê-lo facilmente. Afinal de contas faço pelo menos três vezes, referências a burros... Deve ser o meu subconsciente a mandar-me meter no meu lugar.