Um adeus fácil de dizer
Pacotinhos de Noção
Enquanto escrevo este texto sai a notícia de que António Costa aceitou a demissão de Marta Temido. Não temos Urgências, não temos Obstetrícia e agora também não temos Ministra da Saúde. Destas três ausências aquela que menos se sentirá será, sem a menor sombra de dúvida, a de Marta Temido, e precisamente porque a senhora foi sempre uma sombra. Daqui a semanas já ninguém se lembrará dela, e durante a vigência de todo o seu mandato só a ficámos a conhecer, graças ao maldito vírus, que ainda por aí anda, que matou bastante, mas que, curiosamente, deu vida a defuntos que de outra forma nunca veriam a luz do dia.
Quem por momentos pensar em contrariar-me, devo pedir que coloque a mão na consciência e que, além das aparições diárias em conjunto com a sua comadre Graça Freitas, em que outras situações viram a ex-ministra da saúde a dizer, ou fazer algo, a que se possa dar valor.
Não houve uma única reforma na saúde. As únicas coisas em que se mexeu foi apenas para estragar. Acabaram-se com as PPP, "esmifram-se" profissionais de saúde até mais não, e ainda se sacudiu a "água do capote", afirmando que se hoje não há profissionais de saúde, é porque não estudaram, nos anos 80 e 90. Afirmação feita, tentando ignorar a enorme quantidade de enfermeiros portugueses, a trabalhar no estrangeiro, por exemplo.
O balão de oxigénio que suportava Marta Temido acabou-se. Caíram hoje mais algumas máscaras, devido ao menor número de casos de COVID, e com elas caiu Marta Temido. Mas não deveria ser a única a cair. É que se o sucesso de um Ministro é partilhado pelo Primeiro, o insucesso também tem que o ser. E chamo a atenção para um facto que alguns se esquecem. Quando um Ministro pede demissão do cargo que ocupa, não o faz admitindo a sua incompetência. Fá-lo porque não tem o apoio necessário por parte de todo um Governo, encabeçado por António Costa, para proceder a alterações que visem o melhoramento da área que o seu Ministério representa. E isto é um facto, hoje a saúde está infinitamente pior do que quando António Costa tomou posse, e todos nós sentimos essa quebra de qualidade, quer nos Centros de Saúde, Hospitais, e até no Serviço Saúde 24.
O que também não deixa de ser curioso é que exista um grande desinvestimento em áreas tão fulcrais, como aquela que serve de balança entre a vida e a morte, quando quase todas as semanas aparecem notícias afirmando que o Governo teve um excedente orçamental de uns bons milhões de euros, excedente esse que depois não é canalizado para onde mais faria falta.
Poderia dizer que este foi um duro revés para António Costa. Afinal de contas Marta Temido era a Ministra Coqueluche do nosso (vosso) Primeiro-ministro. Foi até apontada como possível futura candidata a líder do PS.
Regozijo-me por ver mais uma pessoa incompetente a largar um cargo de competência. Entristece-me saber que a probabilidade de ir para lá outro igual é tão grande quanto a de nos próximos dias morrer mais uma grávida, ou um bebé, por não conseguirem ter os cuidados necessários numas quaisquer urgências ou obstetrícia. Caso isto continue a acontecer, deverá rolar uma cabeça bem mais pesada do que a que rolou agora. O carrasco disto tudo deverá ser o Presidente da República, mas não me parece que o senhor tenha essa coragem política. Já vi governos serem destituídos e não estavam tão estraçalhados como este.
À Marta Temido, agora desempregada, resta-me desejar-lhe que tenha daquela resiliência boa, que receitou aos enfermeiros e médicos, para agora procurar um trabalhinho... Bem sei que provavelmente já haverá uma farmacêutica onde Marta Temido terá um lugar cativo, mas enquanto tal não é anunciado, é deixar a senhora emocionar-se e chorar, como tão bem já nos mostrou que sabe fazer.