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Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

25
Out23

Admito a minha cobardia


Pacotinhos de Noção

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Tomei a decisão de tentar evitar tudo o que esteja ligado a guerras. Notícias, debates, conversas.

A verdade é que mexe comigo mais do que podia pensar, principalmente porque não paro de pensar nas crianças usadas como escudos humanos, marketing mórbido, e jornalismo sensacionalista.

Incomoda-me as opiniões tão extremadas de quem está longe, de quem manda “postas de pescada” tão assertivas, desde o conforto do seu canto europeu.

Irrita-me que comparem o conflito entre Israel e a Palestina, a Rússia e a Ucrânia, quando no essencial a diferença é nenhuma, porque o essencial é que o que mais existe são inocentes pelo meio, e fico abismado por perceber que há quem defenda que em determinadas situações, não há inocentes.

Todos criticam a CMTV por ser um canal sensacionalista, porque mostra que o Álvaro das Couves esfaqueou um vizinho devido a uma árvore que lhe invadia parte do terreno, no entanto, não criticam os canais generalistas que perderam o pudor em mostrar imagens de corpos, e de poças de sangue, enquanto jantamos.

Alguém vai dizer que deve ser mostrado porque é a realidade, mas se fores um desses que defende que isto é a realidade, então tenho pena de ti, porque a realidade não é isto, caso contrário já nascíamos munidos com uma arma automática nos braços. A realidade é nascermos, crescermos, vivermos e tentarmos não chatear a cabeça a ninguém. Todos os conflitos que existem no Mundo têm uma razão, mas nenhuma das razões é natural. Não se estão a matar porque o extermínio do outro é necessário para a sua própria sobrevivência. Estão a matar-se por religião, por terra, por petróleo, por drogas, por tudo o que não é natural.

Quanto a mim, os conflitos não deveriam ser mostrado nas televisões. Não por uma questão de censura, mas por uma questão de que de nada adianta, serve apenas para tentar ganhar audiências. Desafio que alguém me diga, com certeza inequívoca, uma qualquer guerra que tenha acabado graças a manifestações, ou pressão da população. As guerras só acabam quando quem as começou tenha visto cumprido todos os seus interesses, e decida então que tem que acabar.

Outro dos motivos pelo qual as guerras não deviam ser noticiadas é porque os meios de comunicação perderam uma das poucas virtudes que tinham, e que era o de serem órgãos isentos, e nem sequer fazem questão de fingir que são.

Algo vai mudar se eu não vir notícias acerca da guerra?

No panorama mundial não, na guerra também não, mas para mim sim. Vou conseguir manter um pouco mais a minha sanidade mental.

Às vezes a ignorância é uma bênção.

29
Ago23

Um filme para entreter, que me pôs a pensar


Pacotinhos de Noção

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Ontem fui finalmente ver o "Indiana Jones e o Marcador do Destino".

Antes de falar do filme gostava dizer que este texto conterá "spoiler", e referir-me ao cinema NOS, do Almada Fórum.

Não sei se é falta de investimento, se é relaxamento, mas o facto das escadas rolantes não funcionarem, e a falta de higiene que senti no cinema, levam-me a ir percebendo, cada vez mais, que o afastamento das pessoas, no que às salas de cinema diz respeito, não tem só que ver com as plataformas “streaming”, que hoje temos como oferta. Acredito que quem despenda de algum do seu tempo, e do seu dinheiro, para se deslocar a um cinema, que se submeta à chatice de levar com os idiotas que atiram pipocas, e aos que teimam em verificar o telemóvel numa sala escura, o mínimo que exigem é que haja conforto e higiene, coisas que ontem me falharam.

Ah, gostava também de referir como me incomoda ter os funcionários do cinema a fazer pressão para que eu saia da sala, quando sabemos que grande parte dos filmes, agora têm cenas após os créditos. Ainda se fosse para procederem à limpeza do espaço, compreendia, mas tendo em consideração quão suja estava a sala, logo no início, claramente não é.

Mas vamos ao filme, propriamente dito.

Foi o melhor Indiana Jones que vi? Não foi.

Gostei da história, gostei das cenas iniciais onde rejuvenesceram, digitalmente, o Harrison Ford, transformando-o no Indiana Jones que estávamos habituados a ver nos anos 80, o que nos mostra como está bem feito, pois até temos um ponto de comparação para nos basearmos. Gostei da inclusão de personagens que fizeram parte de outros filmes da série, embora me tenha feito muita confusão ver um John Rhys-Davies tão envelhecido, fazendo esquecer a força que transmitia o anão Gimli, do "Senhor dos Anéis", ou até o próprio Salah, mais jovem, nos outros filmes da série... E é nesse ponto que para mim o filme foi mais forte. 

Esteve sempre presente, durante toda a película, que o forte da história não é o que está explícito, a busca pelo Marcador do Destino, e todas as peripécias inerentes. O filme marca mais por nos mostrar um Indiana Jones velho, cansado, não das aventuras, curiosamente, mas das tareias que a vida lhe foi aplicando.

Relembro que em "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal", Shia LaBeouf apareceu como filho do herói. A ideia com que muitos ficaram, e eu incluo-me nesses "muitos", foi a de que LaBeouf iria continuar a saga do Indiana Jones, mas as coisas não correram como se esperava. O filme não foi aclamado conforme se pretendia, a personagem do filho não foi querida pelo público, e Shia LaBeouf viu-se envolvido em demasiados escândalos, situações que a Disney não viu com bons olhos. Solução, matou-se o filho do Indiana, que foi mais uma cruz, para a personagem do arqueólogo carregar.

Outra das cruzes é a constatação de que foi passada toda uma vida, em que no final há o enorme risco de se terminar sozinho. Existem as memórias de tudo aquilo que já se foi, que já se teve, e no fim acaba por não haver nada... Nem sequer o respeito dos alunos, e isso fica também muito notório numa cena em que este Indiana, que vive agora nos anos 80, dá aulas a um conjunto de alunos, que pouco ou nada ligam àquilo que ele lhes está a transmitir, muito diferente da cena icónica do primeiro filme de todos, em que as alunas bebiam as palavras do professor, na altura jovem e viçoso, vestido com um fato bem engomado, no auge das suas peripécias, e com uma vida inteira pela frente. De tão enfeitiçada, havia até uma aluna que tinha escrito nas pálpebras "I love you".

A vida passa a correr por todos. Se eu, prestes a fazer 42, sinto que até aqui foi um pulinho, e receio o amanhã que já me parece tão próximo, o que dizer de alguém que está na casa dos 80, e que ainda por cima teve o Mundo a seus pés. Esta é a parte em que julgo que até Harrison Ford confundiu a ficção com a realidade, porque acho impossível que não o tenha feito. Eu, enquanto espectador, não me consegui dissociar deste pensamento, e devo admitir que num filme que é de aventuras, de puro entretenimento, dei por mim com lágrimas nos olhos variadas vezes, percebendo até as lágrimas que o actor deixou que lhe rolassem livremente, quando viu Ke Huy Quan ganhar a sua estatueta nos últimos Óscares. Era o menino, que com ele se deu a conhecer, no "Templo Perdido", que depois desapareceu da ribalta, e que renasceu, qual fénix, para brilhar ao mais alto nível, mas já não era aquele menino. É um senhor de 52 anos. Uma idade mais avançada do que aquela que Ford tinha quando fez o Indiana Jones, no qual contracenaram.

Mas esta percepção mais intimista poderá ser apenas a minha, que tenho paixão pela saga. Foi dos primeiros filmes que vi no cinema, o meu primeiro caderno escolar foi do Indiana Jones, e Harrison Ford e daqueles actores que me fazem ver qualquer coisa que faça, mesmo que à partida me pareça que não vá gostar.

Já senti este encerramento de ciclo na sua participação no "Star Wars - The Rise of Skywalker", no "Blade Runner 2049", e agora neste. 

Mas Harrison Ford está aí para as curvas, e tem mais filmes a serem gravados, o que é de aproveitar enquanto se pode.

Voltando mais concretamente ao filme, devo dizer que gostei da personagem de Phoebe Waller-Bridge. Não sendo uma actriz feia, não caíram no erro de escolher uma qualquer boneca que só existiria para tentar prender público masculino bronco ao ecrã, como foi feito, por exemplo, no "Transformers" com Megan Fox, que tem o talento de uma mola da roupa.

Phoebe foi um acrescento, deu piada e acção ao filme, e sempre tendo dado bordoada, quando foi necessário, os argumentistas não caíram no erro de tentar passar a mensagem da emancipação feminina, da luta contra o patriarcado, de como ela é forte e não precisa de homens, etc, etc.

Por falar nisso, outro filme que vi, e gostei, foi o "Três Mosqueteiros".

Não é dele que estamos a falar, mas queria só sublinhar como me parece ridículo colocarem Porthos como sendo bissexual. Na "Triologia dos Mosqueteiros" de Alexandre Dumas, não existe sequer menção a isso, o que mostra, precisamente, que é uma vénia dos autores do filme, a esta cultura woke, que quer obrigar a que todas as obras tenham que incluir todos os credos, todas as cores, todas as condições sexuais. Não interessa se algo for desvirtuado, desde que a cultura que eles defendem seja a vigente. Peço desculpa pelo aparte.

Concluindo.

Gostei do filme, deixou-me um tanto ou quanto melancólico. Não é uma obra para prémios, não é de perto nem de longe tão bom quanto os "Salteadores da Arca Perdida" ou o "Templo Perdido", está longe, mas mesmo muitíssimo longe disso, mas deu, não para matar saudades, mas antes para nos dar saudades daquilo que já passou e que não mais voltará. Quer a nós, que vimos aqueles filmes, e vivemos aquela época, quer aos actores, que os fizeram e que viveram épocas fenomenais, que agora, infelizmente, se estão a terminar. O tempo deles não acabou, mas claramente que mudou.

E é isto. Comecei este texto para falar acerca de um filme, acabei por falar em vários, abordei mais do que um assunto, e até vos falei acerca de lutas e medos interiores que tenho, que julgo que o Harrison Ford tem, e que muitos dos que me lêem certamente que também terão... Que caldeirada esquisita de assuntos que isto se tornou, mas espero que saiba tão bem ler, como me soube a escrever.

19
Mar23

Uma bica pelo comendador


Pacotinhos de Noção

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Morreu hoje, no Dia do Pai, aquele que foi o pai de muitos, no seu muito amado Campo Maior.

Com 91 anos esta sim, foi uma daquelas vidas que foi realmente vivida, que valeu por muitas e que ajudou muitas a viver.

Numa altura em que cada vez mais se olha para o próprio umbigo, julgo ser importante sublinhar que o fundador da Delta Cafés era um homem imensamente rico, e que os seus descendentes continuarão imensamente ricos. Pelos menos no que à questão monetária diz respeito, porque em questões de iniciativa, empregabilidade e filantropia, se fizerem metade do que fez o Comendador, já não estaremos nada mal.

Morreu hoje, o pai da Delta, café que eu nem aprecio, mas que no acto de o bebericar levamos aos lábios mais que uma bica, levamos história.

11
Fev23

Coço-me todo para não fazer spoiler


Pacotinhos de Noção

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Só hoje vi o terceiro episódio do "The Last of Us".

É incrível como, no meio de um ambiente de apocalipse, os criadores conseguiram, ainda assim, transmitir um ambiente acolhedor, romântico e simpático. Digo ainda mais, como foi possível num episódio de 75 minutos, conseguiram compilar, e fazer-nos sentir um leque tão variado de emoções?

Não sou dos fanáticos do jogo. Nunca joguei, não conhecia, nem sequer sabia do que tratava. Comecei a ver apenas porque era a série do momento, e julguei que, como me aconteceu no caso de tantas outras, não me iria cativar, mas enganei-me. Estou agarrado e, para já, não lhe encontro defeitos. Os cromos do jogo que me vierem dizer que o Joel e a Ellie não são parecidos com os do jogo, lamento, mas para mim a Ellie e o Joel são estes, os do jogo nunca os vi mais gordos.

Quero ver o quarto e o quinto episódio, mas com parcimónia, para não acabarem rápido, porque, para mim, "The Last of Us" está a ser como aquela caixa de bombons magnífica, que comemos devagar, para que o fim demore a chegar.

17
Dez22

Senhoras de Tires, façam a vossa parte


Pacotinhos de Noção

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A 24 de Junho, no texto que aqui escrevi, intitulado "Jéssica", deixei o meu pesar pelo sucedido e a minha opinião acerca de que os culpados não estavam todos presos, que a mãe - que nem deveria ser apelidada dessa forma - seria também culpada, e que por isso devia ser punida.

As minhas palavras justificavam-se pelo facto de a mãe abandonar a filha à sorte durante 5 dias, de não ter feito queixa à polícia, e de mesmo com a filha sequestrada ter frequentado festas.

Levantaram-se vozes criticando o que escrevi, que não podia carregar uma mãe com uma culpa que não era dela, que desejavam que eu nunca sentisse o mesmo que aquela mãe estaria a sentir, e uma coisa posso garantir, é que por muitos anos que viva, não irei sentir nunca pelos meus filhos aquilo que aquela "mãe" sentiu, e ainda sentirá pela filha, que é descaso, desprezo, desapego, falta de amor, de empatia, carinho ou qualquer outro sentimento pela menina.

O caso é ainda mais grave do que aquilo que se pensaria, e o Estado, e a Segurança Social, deveriam ser fortemente penalizados pela culpa que também carregam, no que à morte da Jéssica diz respeito.

Ficámos agora a saber que a tortura da menina não foram só durante aqueles 5 dias. Jéssica era usada como veículo para transporte de drogas, e a mãe sabia-o. Ao que parece antes de ser mãe, Inês Paula era toxicodependente... Perdão, chamemos a coisas pelos reais nomes, mesmo que, mais uma vez, vozes se levantem. Inês Tomás era, é e continuará a ser, uma drogadita desprezível, miserável, que não merece o chão que pisa, o ar que respira, a trampa que faz. Uma drogadita que permitia que a filha fosse usada como correio de droga para poder assim continuar a consumir o que realmente lhe importava, algo que lhe é mais valioso do que a vida da própria filha. E aí de quem ouse tentar defender esta assassina, alegando que a droga faz as pessoas cometerem actos que nem se imaginam. Para ranhosos como Inês Tomás, haverá sempre quem estenda a mão, à Jéssica ninguém estendeu, nem mesmo um Estado, que a sabia em perigo, dai a terem sinalizado, mas que nada fez.

A necropsia da menina revela ter o ânus ferido, pela repetida inserção de objectos, com o fim do transporte de drogas. Amigos leitores, desculpar-me-ão todo e qualquer comentário um pouco mais destemperado, mas sou pai de uma menina de 2 anos, a quem mudo as fraldinhas, a quem passo pomadinha no rabo quando tem assaduras, para não sofrer, e como é que esta grandessíssima pu7@, esta valente c@br@, permite que lhe façam com a filha o que fizeram. Por mais drogada que seja, não há nem sequer hipótese de imaginar uma justificação.

O filho da ama, que matou a Jéssica, tem que se apresentar periodicamente na esquadra. Digo-vos que me faria muito menos impressão se as televisões nacionais tivessem optado por transmitir um filme pornográfico em horário nobre, e em sinal aberto, ao invés de mostrarem a festa que este bandalho fez em frente ao tribunal, mais uma série de merdosos como ele, por não ter ficado preso, e por só se ter que se apresentar na esquadra. Diz que não teve nada que ver com o crime, que é um homem inocente, mas não é.

Era ele que vendia, e ainda venderá, certamente, a droga que Jéssica transportava. Sendo ele filho de quem introduzia a droga na menina, e sendo ele o vendedor, querem mesmo fazer-me acreditar que ele não sabia de nada?

Nestas alturas lamento vivermos num país que, ainda assim, é pacato. A falta que faz, nestes casos, um linchamento popular.

Sim, sei que são duras as palavras, mas são conscientes. Não incito à violência, porque essa já foi feita, contra uma menina de 3 anos. Incito e clamo por justiça, porque sei que aquela que temos não funciona.

Nos comentários do texto de 24 de Junho falou-se em pena de morte. Um dos meus leitores, que é mais certinho que outros, defendeu que não deve existir pena de morte, que o Estado não pode utilizar essa ferramenta, sob pena de estar a decidir quem vive e quem morre... Exacto, não vamos decidir se quem matou uma criança de 3 anos deve morrer. Vamos antes deixá-los entrar numa cadeia e cumprir apenas 1/3 da pena. Acho justo.

Para acabar, e mais uma vez não incitando à violência, justifico o título deste texto como sendo uma forma de recado às reclusas do Estabelecimento Prisional de Tires que têm telemóveis, que ainda deverão ser algumas.

Muitas de vocês estão presas, sem poder estar com os vossos filhos, e agora têm aí uma colega que podia estar com a filha, mas que em vez disso permitiu que a matassem, sendo que grande parte dessa morte pode-lhe ser imputada. Mais uma vez digo, não apelo à violência, mas aquilo que é verdade é que em algumas zonas do planeta, quando alguém assassina uma criança, acaba por não chegar sequer a cumprir 1/3 da pena que lhe foi dada, e curiosamente acaba também por nunca mais cometer crime nenhum, e não foi a reinserção social que funcionou...

Estou apenas a constatar.

23
Set22

Idosa vítima do "Não há"


Pacotinhos de Noção

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Todos terão conhecimento do caso da velhota filmada num lar, coberta de formigas. Aquilo de que ainda não se falou foi da verdadeira razão para isto acontecer e porque morreu a senhora.

Primeiro que tudo a senhora morreu devido à sua já provecta idade, e consequência também, de todos os problemas de saúde que a afectavam, e que poderão ter sido agravados pelas condições em que esta senhora se encontrava.

Segundo devo dizer que Florinda Queiroz foi vítima do "Não há".

Todos conhecem o "Não há", que tem sido longamente debatido nos programa de análise política, e até nos de economia.

Não há médicos, não há enfermeiros, não há varredores de rua, não há dinheiro. Não há vergonha na cara, não há oposição, não há professores e também não há água.

Estes são alguns dos "não há" que podemos imputar ao Governo, aos políticos e a todos que não o cidadão comum. Os "Não há" que foram servindo de pregos no caixão da D.Florinda não parecem tão graves, mas foram-lhe fatais.

Não há, por parte da Santa Casa da Misericórdia, vergonha por terem lares com esta falta de condições. Não há supervisores na instituição que façam vistorias para que a situação não chegue nem perto deste ponto. Na Segurança Social também não há técnicos/inspectores que visitem os lares da SCM ou mesmo os da própria Segurança Social. Relembro que há poucas semanas foi encerrado um lar, cheio de condições e com utentes satisfeitos, mas que burocraticamente, tinha uma série de papéis em falta. Não há noção.

Aquilo que também não há é a honra, a empatia, o cuidado para com o próximo e dignidade. Aqui refiro-me a quem fez estas gravações, e que mais tarde as divulgou.

A princípio teve um gesto correcto e sensato, mas se há coisa que aqui não há são estúpidos nem otários, e tal como em quase todos os vídeos de denúncia de lares, eles só são divulgados depois da colaboradora que os fez, já ter sido demitida, ou não ter visto o seu contrato renovado. Soa a vingança, a mesquinhez. Se tivesse continuado a lá trabalhar, já não divulgaria os vídeos?

Estas gravações foram feitas a 12 de Junho... Estamos no finalzinho de Setembro.

Como esta ex-funcionária conseguiu, dia após dia, encostar a cabeça no travesseiro e dormir, sabendo que no lar onde trabalha estava, pelo menos, uma idosa a ser calmamente devorada por formigas. Deixa-me também um pouco apreensivo em como é que não houve uma rápida necessidade de limpar e ajudar aquela senhora. Teve muito mais impacto a gravação das formigas, e do carreirinho que faziam. A verdade é que a 24 de Julho a D.Florinda morreu, e só a 8 de Setembro a Segurança Social, e a GNR, visitaram o lar, pouco tempo depois da denúncia.

Quem divulgou o vídeo que não julgue que teve um acto herói. Da maneira como fez as coisas prova que aqui não há heróis, há apenas cúmplices.

Para acabar queria falar no facto de que não há amor.

Então durante todo o tempo que a senhora esteve neste lar a sofrer, não houve um familiar que lhe fosse fazer uma visita, constatando as precárias condições em que a senhora se encontrava? Que raio de pessoas são estas que despejam os velhos em lares e não mais querem saber deles.

Em abono da verdade, o Cro-Magnon, filho da D.Florinda, já falou para a CMTV, muito indignado, dizendo que na visita que fez à sua mãe, a 12 de Junho, viu que ela tinha formigas no braço e nos ouvidos, que se dirigiu a "alguém" e que questionou:

"Atão a nha manhi tá chêa de framigas?"

— mas não lhe deram nenhuma resposta, o que foi pelos vistos suficiente para ele, pois não houve mais visitas nem tentativas de tirar a mãe deste lar. Não há amor e não há respeito por quem o pariu, por quem lhe deu de mamar e por quem tão erradamente o educou.

Para acabar posso dizer que no final deste texto também não há novidade, pois repito aquilo que já hão-de ter lido noutros textos meus. A sociedade está podre, tenho vergonha de poder ser confundido com algum destes seres, só porque ambos somos bípedes.

06
Ago22

E Viveu o Gordo


Pacotinhos de Noção

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Não tenho por hábito fazer elogios postumos, mas, conforme já escrevi noutras ocasiões, há algumas pessoas que pelo seu longo, e excelente, percurso profissional, me fazem ficar genuinamente triste pelo seu desaparecimento.

Falo de pessoas como Fialho Gouveia, Nicolau Breyner, Raúl Sonaldo e agora o magnífico Jô Soares, que é para mim um dos maiores, a par do Herman José.

Existem outros que também enalteço, como Júlio Isidro e Carlos Cruz, mas estes dois são para mim os ídolos que nunca consegui ter. E não consigo porque idolatrar alguém significa aceitar tudo aquilo que determinada pessoa faz, sem o mínimo sentido de crítica, e é algo que não consigo fazer.

De qualquer das formas, tanto Jô Soares como o Herman, são modelos daquilo que gostaria de ser. Homens que vivendo do humor, podendo até por vezes terem sido menosprezados por escolherem esta vertente artística, conseguem estar muitos furos acima das restantes pessoas, quer pelo talento, pela inteligência, pela cultura geral e pela eloquência com que conseguem fazer chegar a sua arte à grande generalidade da população.

Homens com uma inteligência acima da média, e que não tem pudor em demonstra-lo, e ainda bem, porque de falsas modestias está o mundo cheio.

Mas colocando o Herman de parte, porque o Rei está ai para as curvas, e continuará por cá muitos e bons anos, cingir-me-ei agora a um dos mais reconhecidos intelectuais do Brasil.

Não vou discorrer aqui o seu longo currículo, com o que fez, o que dirigiu, os livros que escreveu. Vou antes remar um pouco contra a maré e dizer que Jô Soares morreu, mas não é por isso que o Mundo ficou mais pobre. Se o Mundo ficou mais pobre é porque é um Mundo tolinho. Jô Soares morreu, mas tudo aquilo que fez, e que nos deu, continua cá. A sua riqueza ficou. 

Não tenho memórias da infância, mas os meus pais disseram-me várias vezes que era eu criança de 2, 3 anos, e imitava especificamente a personagem Reizinho, criada por Jô Soares.

Um rei de baixa estatura, que não permitia a ninguém que pudesse sequer imaginar que o rei seria outro que não ele. O seu nanismo era conseguida pelo facto do humorista interpretar esta personagem sempre de joelhos, o que transformava o simples acto de caminhar, bastante cómico.

Falo aqui de Jô Soares o actor, escritor, apresentador, director e homem da cultura em geral, da pessoa não tenho conhecimento. Sei que teve um filho autista e que sofreu por ver o filho morrer antes dele, o que transtorna qualquer um. Teve uma vida plena, fazia o que gostava, retirou-se quando já não se sentia capaz e foi casado várias vezes, mas isso interessa pouco. Aquilo que apenas me interessa e que mais um dos artistas que acompanharam o meu crescimento e que ajudaram na minha educação, deixou de existir. É uma pena, nada é eterno, a não ser a admiração.

BEIJO PARA O GORDO.

 

23
Jul22

Não existe título que emoldure isto


Pacotinhos de Noção

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Volto a tocar neste assunto, e quem não estiver interessado tem sempre a opção de não o ler.

Aqui não falo sobre a guerra, sobre a invasão de um país pelo vizinho, nem se há armas enviadas ou não enviadas. Agora estou apenas a colocar-me na pele deste homem e a sentir os pêlos da nuca arrepiados.

Sim, bem sei que esta é uma notícia que já não é fresca, mas se eu ler uma notícia, ou vir uma foto, de um pai a segurar a mão do filho morto, mesmo que essa notícia ou essa foto tenham 50 anos, a sensação que terei será exactamente a mesma, porque me coloco no lugar deste pai.

Esta imagem não vale por mil palavras, não vale nem por um milhão, porque por mais palavras que se digam, estas não chegarão para justificar a morte de um filho, nem para confortar o coração deste pai. Não consigo, nem quero imaginar a dor que ele estará a sentir. Coloco-me no seu lugar mas não o quero fazer. É injusto bem sei, assim até parece que o abandono na sua dor, mas só de me imaginar na mesma situação julgo que não viveria nem mais um segundo, pois o meu coração bate pelos meus filhos e sem eles não existiriam razões para bater. Mas não estamos aqui para falar de mim, nem sequer estamos para falar no pai do Dmytro. Reparo agora que nem percebo bem porque estamos aqui, eu a escrever e vocês a ler. Talvez por solidariedade com este pai, talvez para sublinhar mais uma vez a estupidez de uma guerra sem justificação e que vai ceifando cada vez mais vidas, em que doendo todas, as de crianças doem ainda mais forte.

Há mais guerras noutras partes do Mundo? Haverá certamente, e se houver imagens difundidas das mesmas, a tristeza que sentirei será a mesma. Não sou director de nenhum canal de informação e como tal não tenho a responsabilidade de falar de todos os conflitos que possam existir. Falo apenas daqueles sobre os quais me chegam informações e penso ser assim com todos nós. Claro que os meios de comunicação divulgam apenas aquilo que mais vende, mas eu não acredito que o principal objectivo seja o do lucro e da venda fácil. Dentro de uma qualquer redacção poderá existir um mentecapto cuja língua que fala é a dos cifrões, mas o grande núcleo de repórteres e jornalistas são pais como nós, e também terão sentido esta notícia como um murro no estômago.

Suporto cada vez menos as pessoas. De dia para dia demonstram que pouco valem e valores são coisas que não têm. Ainda assim não lhes quero mal, mas depois há uma franja de idiotas que ficam a dever muito ao ar que respiram. Falo obviamente de Putin, a quem a morte será o menor dos males, e em que a mesma será festejada um pouco por todo Mundo, e depois acrescento também pessoas que defendem Putin e a sua invasão, apenas porque se lembraram que o que lhes dá tempo de antena, é sempre contrariar o grosso da sociedade, quer seja na política, problemas sociais, gestões de pandemias, e neste caso concreto. Falo agora de pessoas como a execrável Maria Vieira, em que o papel que melhor desempenhou até hoje, é o de pessoa estúpida e idiota, que cada vez que abre a boca, o que de lá sai faz uma ETAR parecer um jardim com flores frescas, e de Alexandre Guerreiro, um suposto ex-espião que provavelmente o que mais lhe proveu espiolhar, foram as ceroulas com que Putin dorme, para poder copiar e usar iguais. A vontade que este homem demonstra em defender todos os passos dados pelo ditador russo, tornam isto até num caso claro de paixão cega, do Alex pelo Vladi. Desconfio que Guerreiro poderá até sonhar com o urso russo, cavalgando em tronco nu por entre bosques e vales, em direcção ao estuporado comentador português que, quando está mesmo prestes a levar um repenicado beijo do "czar wanna be", acorda sobressaltado lembrando-se que na Rússia não há cá dessas mariquices de homens com homens... É crime e dá direito a prisão.

Sei que todos têm o direito à sua opinião, é um direito que se lhes assiste, mas quando a opinião é abominável, penso que esse direito deixa de fazer sentido. Não se deve amordaçá-los porque de outra forma não ficaríamos a conhecer quem são, afinal, os malucos, mas já que estão tão do lado do Putin, deportava estes débeis para o centro do conflito na Ucrânia, pois assim poderiam melhor perceber o terror que passam aquelas populações. Mas isto se calhar era ser pior que eles, contudo sempre ouvi dizer que "Quem com ferro mata, com ferro morre."

15
Jun22

Um puxão de orelhas não chegará


Pacotinhos de Noção

Não sei se haverá alguém que não esteja ao corrente do assassinato de Igor Silva.

Ao que parece tudo aconteceu numa rixa entre gangues rivais em claques do Futebol Clube do Porto que, para festejar a conquista de mais um título, decidiram limpar o sebo a um coleguinha. Os assassinos, e não utilizo "alegados" propositadamente, são Marco "Orelhas", Paulo "Chanfras" (cunhado do Orelhas) e Diogo "Xió", amigo de Renato, que é filho de Marco "Orelhas" e que também está preso. Está então montado um círculo familiar, e de amigos, do mais fino recorte.

É verdade que falei no FCP, mas peço a todos os que lêem estas linhas, que esqueçam as clubites, os regionalismos, e todas as idiotices inerentes ao mundo da bola. Aquilo que se passou podia acontecer com qualquer outro clube, assim como já aconteceu com o assassinato daquele adepto italiano do Sporting, atropelado por benfiquistas, e é certinho que vai voltar a acontecer, enquanto não for tomada uma atitude para acabar com estes grupos de crime desorganizado.

Se em Inglaterra foi possível de fazer, em Portugal também será, basta haver vontade. Claques de futebol são esquemas montados para toda a pirâmide de negócios ilegais que vão desde tráfico de droga, assaltos, roubos, crimes de violência e ódio racial. Todas as claques deveriam ser banidas do futebol português, e se por acaso vier algum membro de uma dessas corjas comentar este texto, tenho a certeza que será para insultar ou ameaçar, porque realmente não dará para mais.

Não acrescentam nada de novo ou de especial ao futebol, a não ser medo, clima de insegurança e afastamento de outros adeptos que se recusam a ir ao estádio com receio de dar de caras com atrasados mentais como estes.

A grande generalidade dos elementos de uma claque têm registo criminais mais preenchidos que um boletim do Euromilhões numa Sexta-feira de Jackpot. São indivíduos desempregados, mas que normalmente se deslocam em carros, topo de gama, e eu gostaria de saber como.

Não sei se repararam, mas não houve uma única vírgula de lamento em relação à morte de Igor Silva, e isto acontece porque, na verdade, não lamento. Aqui não consigo ser hipócrita e dizer que qualquer morte é de lamentar, e "paz à sua alma". Relembro que também ele fazia parte da claque de futebol, e se isso, por si só, não é motivo para merecer morrer, a verdade é que é um dado quase adquirido de que pode acontecer, ainda para mais quando há uma luta de gangues no seio da própria claque, e se é um elemento activo de um desses gangues.

Vivemos tempos em que os tribunais querem dar o exemplo, aplicando algumas penas duras, às vezes em crimes onde judicialmente nem é costume uma rigidez assim tão grande, como no recente caso do Rendeiro, por exemplo. Pois, julgo que para um caso de assassinato em praça pública, com a violência de 18 facadas, mais espancamento, mais pedradas, deixando até o corpo irreconhecível, a pena máxima parece-me até pouco, e ainda assim duvido que exista um juiz com coragem para dar penas assim tão pesadas a elementos que pertencem a claques de futebol. Recordo que "pessoas" como este "Orelhas" e o "Macaco", por exemplo, não têm nenhum pudor em ameaçar directamente, ou em fazer visitas a casas, locais de trabalho, de quem lhes desagrada, ou até a familiares, causando o terror.

Em Itália existe a Camorra, no Japão os Yakuza, aqui temos um bando de marginais protegidos por equipas de futebol, o que nos mostra que até na Máfia somos uns bacocos.

16
Mar22

Ser cobarde salvaria mais vidas


Pacotinhos de Noção

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O conceito de herói é muito subjectivo e tem cada vez mais sido banalizado. 

A partir de determinada altura todos são heróis. Desde o tipo que salva uma família de um incêndio, até ao outro que conseguiu solucionar o caso de uma torneira que não parava de pingar.

Para mim a palavra herói não tem um sentido tão lato, e muito provavelmente nem vai ao encontro daquilo que a maior parte das pessoas usa como definição. Mas isto é porque sou um pouco cobarde, até caguinchas, e para pessoas como eu, o herói é aquele que consegue evitar o conflito.

Tomemos como exemplo o caso de Zelenskiy.

O presidente ucraniano está, neste momento, catalogado como herói. Concordo e nem tenho nada a apontar.

O homem surpreendeu tudo e todos, surpreendeu principalmente Putin, que pensava poder manietar o adversário com relativa facilidade, mas tal não aconteceu. Zelenskiy fez frente a alguém mais poderoso e até tem a sua vida colocada em risco para defender uma nação... Mas e o que é uma nação? É apenas um pedaço de terra, em determinado lugar, ou uma nação só o é graças às pessoas que a formam?

E a nação, que acaba por ser algo de abstracto, merece que se morra e se mate por ela?

Aquilo que aqui vou expor não é o certo ou o errado, é apenas aquilo que eu faria, tendo em consideração o meu pouco caso para qualquer categoria de conceito de nação, de orgulho nacional ou amor à pátria.

Gosto de Portugal? Gosto do território, do clima, e até de algumas comidas, mas cada vez gosto menos da praga que infesta o país, e que são as pessoas. Dado curioso é que pessoas há em todo o lado e não diferem muito de sítio para sítio. De qualquer maneira mesmo eu apreciando cada vez menos pessoas, não julgo que deveriam desaparecer. Talvez o certo seria eu transformar-me numa espécie de eremita, porque no final das contas quem está mal sou eu. Não posso ser o tipo que vai na autoestrada em sentido contrário, defendendo que sou o único que está correcto.

Como não penso que devam desaparecer, e caso estivesse no lugar de Zelenskiy, mal houvesse a pequena ameaça de uma invasão, que pudesse causar qualquer tipo de baixa, render-me-ia logo. Mas é que nem pensava duas vezes. Sei ser chocante isto que escrevo, mas recordo-vos que quem vos escreve é um tipo assumidamente sem valores patriotas, com pouca coragem pessoal, e que julga que uma vida, seja ela russa, ucraniana, portuguesa ou chinesa, não tem preço. Se for de uma criança então, a dívida que fica, de cada vez que uma é vítima desta guerra (ou de outra qualquer) é impossível de pagar.

As últimas notícias dão conta de pelo menos 100 crianças mortas. Não tenho palavras que consigam transmitir a tristeza que me percorre todos os poros, todas as veias, todos os milímetros do meu corpo, ao imaginar o medo que uma criança tem, neste cenário dantesco. O sofrimento dos pais que perderam quem mais amavam, e a constatação de que estas 100 crianças estão a horas e dias de se transformarem em 110, 120, 200.

É por isso que para mim o acto mais heroico que Zelenskiy, e o próprio povo ucraniano poderia fazer, era entrar em conversações, com o animal do Putin, e dizer-lhe que sim a tudo. Que não querem a NATO, que não querem a Europa, que não vão ter armas nucleares, que saltam ao pé-coxinho... Eu sei, eu sei que em teoria Putin ganharia esta guerra, mas não vejo as coisas por esse prisma. Quem verdadeiramente ganharia a guerra seria quem nela não morreu, nem iria morrer. Seria quem pudesse voltar para sua casa e para junto dos seus, seriam todas as crianças que poderiam voltar a sonhar em ir para a escola, crescerem e serem adultos.

O que realmente iria mudar no dia a dia do comum ucraniano? Julgam que muito? Não me parece. Esta, e todas as guerras de sempre, acabam por acontecer por motivos políticos, e é verdade que um político forte como o Zelenskiy dá outra moral, outro tipo de força, que nos faz ficar mais corajosos. Mas continua a valer mais um corajoso morto do que um cobarde vivo?

Posso garantir-vos que se fosse ucraniano a minha coragem estaria apenas apontada nos esforços para dali conseguir sair, com a minha mulher e os meus filhos. Seria um desertor? Seria, mas neste jogo que é a vida, já em pleno século XXI, devo dizer que não estava à espera de ter que decidir se deveria matar, ou não, inimigos, mas tendo que decidir, decido sempre que prefiro fugir.

Dos fracos não reza a história, aos fortes rezamos nós, no dia dos seus funerais.