Amo peixinhos da horta
Pacotinhos de Noção
Vamos falar de amor? "Vamo" lá então.
O que é o amor? Esta é a questão a que todos, mais cedo ou mais tarde, hão-de ter a resposta, mas é também aquela a que ninguém sabe responder. Isto porque todos sentimos o amor de maneira diferente e assumimos que a forma como amamos é a correcta, o que não está de todo certo.
Para alguns o amor é querer estar junto de quem se ama. Absorver todos os momentos e sentir que basta esticar o braço e ter ao alcance o alvo do nosso sentimento. Para outros o amor é partilhar vivências, carinhos, mas ainda assim manter a sua individualidade.
Nem uma nem outra forma estão erradas, são apenas diferentes entre si. O que está errado, isso sim, é a banalização da palavra amor.
Amor é apenas uma palavra, mas é uma palavra que legenda especificamente um sentimento que nutrimos por alguém e aquilo que cada vez mais se vai verificando é que se está a deixar de saber aplicar convenientemente.
Quando uma garota ama de morte uma máscara para os olhos, ou amou aquela viagem à Índia. Quando o burgesso ama acima de tudo o seu clube e a claque da qual faz parte, aquilo que verdadeiramente queriam dizer é que gostam, apreciam, adoram, que foram experiências inesquecíveis...
"Qual é o teu prato favorito?"
"Amo peixinhos da horta."
PORRA, mas como é possível amar feijão verde envolto numa polme!
A falta de capacidade de saber utilizar a palavra amor, no meu entender, é fruto de duas características. Iliteracia e falta de empatia afectiva.
A iliteracia é um mal comum nos dias actuais. O pessoal acha que é a última bolacha do pacote porque fala uma espécie de inglês. Até conseguem ver Netflix sem legendas, mas quando se pergunta um sinónimo ou um antónimo de uma palavra a pergunta mais comum é - "Antónimo sei que é o contrário, mas e sinónimo!?"
E quando se pergunta qual foi o último livro que leram, geralmente o último foi "O Diário de um Banana" (na melhor das hipóteses) e muitos até se orgulham da sua ignorância, afirmando que nunca leram um livro, até porque lhes dá sono. Isto mais que justifica a falta de conhecimentos linguísticos.
A falta de empatia afectiva.
Este já é um problema que poderá ser geracional. Os avós não souberam demonstrar o seu amor aos pais e os pais não o conseguiram passar aos filhos. Cria-se assim um vácuo de sentimento e depois temos famílias frustradas, porque nunca souberam o que é o verdadeiro amor. Muitas vezes não porque não o sentissem mas sim porque nunca o souberam identificar quando lhes apareceu à frente.
O amor não é raro. Existe a rodos, é gratuito mas não é para desbaratar.
Amor é quando um pai se levanta para aconchegar a roupa dos filhos à noite. Amor é sentirmos a necessidade de um beijo ou de um abraço só porque sim. É o nervosismo de não estarmos perto de quem amamos. É querermos o bem estar de alguém, só pelo simples facto de saber que essa pessoa se vai sentir bem. Amor, muitas vezes é sentir algo por alguém mesmo não tendo esse sentimento de volta.
Para mim o amor que eu sinto, e que sei que sentem por mim, é melhor que todo o amor que vocês possam sentir. Mas isto é assim mesmo. É melhor porque é o meu e o vosso é o melhor porque é o vosso.
Ah, e já agora... Não gosto assim tanto de peixinhos da horta.