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Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

06
Out22

Salvem o planeta... A parte rica, vá


Pacotinhos de Noção

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Nada é eterno, julgo que todos concordam que isto é um facto. Infelizmente também o nosso planeta não o é, e, uma vez que existe uma finitude, cabe ao ser humano responsabilizar-se pelas porcarias que faz, e tentar emendar, pelo menos parte dela.

A poluição é uma desgraça, o uso dos combustíveis fósseis não ajuda em nada, temos que diluir a nossa pegada ecológica, e deixar o consumo de animais, e tudo o que deles deriva, de lado.

Urge tornar o nosso planeta mais verde, mais saudável, mais puro, mais sustentável. Temos que o fazer a todo o custo, sem olhar a meios.

Será?! Será que as coisas são assim tão lineares, e preto no branco?

Vamos ver, ou pelo menos vamos ver por uma perspectiva práctica, sem populismos, sem "rodriguinhos", e com a consciência do que é a realidade. Digo isto porque quem defende estas mudanças repentinas vive num mundo que não é o real. É um mundo de conto de fadas, onde são príncipes e princesas, e em que quem com eles não concordar, é um ogre nojento e bossal.

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Em relação ao não consumo de animais, nem vou argumentar que somos omnívoros, e que o nosso organismo precisa de um pouco de tudo, até porque acho que cada um come aquilo que quiser. Se têm o livre arbítrio de se envenenarem com álcool, tabaco e drogas, acho que também o devem ter em relação aquilo com que se alimentam, sejam vegetais, carne, pedras da calçada ou até sal e açúcar em excesso, sem que surja um Governo paternalista, que proíbe o sal no pão e o açúcar no café, ou até que, em último caso, crie um imposto excepcional, hipoteticamente inibitório, sobre as bebidas açucaradas, tributando até as bebidas com zero percentagens de açúcar, facturando assim milhões que criam excedentes orçamentais, que desaparecem depois, não se sabe bem onde.

Mas voltando ao assunto principal.

Todas as medidas para melhorar o nosso planeta são medidas possíveis só para todos os que tenham dinheiro no bolso.

Em pequena escala, e por mais que todos os vegetarianos digam que não, ser-se⁹ "vegan" não é nada que saia barato, assim como não o é instalar painéis solares em casa, ter um carro eléctrico ou comprar um Iphone fabricado com trabalho infantil, e quase escravo, para depois se fotografar todas essas opções "fixes" e ambientais que se tomou. Em maior escala não podemos impor condições do fim do uso de energias fósseis, como o carvão e o petróleo, a todos os países, quando as alternativas são substancialmente mais dispendiosas?

Como vamos fazer com que países como a Somália, a Etiópia, a Índia, adiram a energias verdes se eles nem a mortalidade infantil conseguem combater convenientemente?

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Estes problemas que arranjamos para a nossa sociedade são, de facto, reais, mas são problemas de primeiro mundo, mesmo sendo nós um país terceiro mundista, não são os de problemas de toda uma população.

Entreguem um bife de seitan e um bife de vaca a uma família no Congo, ou no Burundi, e vão ver onde é que vos vão enfiar o seitan. As refeições destas populações, em épocas de abundância, que são quando recebem ajudas, são malgas de arroz. São vegetarianos por imposição, não por gosto.

"A água é um bem precioso e tem que ser racionado" - pois que muito bem, pois que se racione. Na Quinta da Marinha o pessoal já começou. Só enchem as piscinas a 3/4 e só mandam o Edison lavar os topos de gama semana sim, semana não.

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Os menos orientados financeiramente, aproveitam e tomam duche no ginásio. Vão-se encher de moscas, pá... De moscas enchem-se também aqueles miúdos que, como nem saneamentos básicos existem nos bairros de lata onde vivem, aproveitam e banham-se nas poluídas águas do Rio Ganges, que mesmo sendo um dos rios mais poluídos do mundo, é o que lhes fornece o precioso H₂O. É por estas e por outras que penso que sim senhor, há que caminhar no sentido de mudar a maneira como fazemos as coisas, mas não nos podemos armar em "mais papistas que o Papa", numa ansiedade louca de mudar tudo de uma vez, como até fez o vosso Primeiro-Ministro, encerrando minas de carvão e desactivando a refinaria de Sines, e muitos outros líderes mundiais fizeram coisas semelhantes, colocando-se assim nas mãos de um tresloucado como o Putin, que viu no deslumbramento desta gente, uma forma fácil de fazer o resto do Mundo ficar à sua mercê.

Concluindo, aquilo que se constata é que temos uma elite populacional, que até se mostra muito querida e solidária para com os pobrezinhos, dão sempre umas latinhas de atum para o Banco Alimentar e tudo, mas na sua génese, e desde que possam andar nas suas trotinetas eléctricas e nos seus Teslas, estão bem se "marimbando" para se o resto do Mundo tem capacidades para sobreviver, quanto mais ser verde ou amigo do ambiente.

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Ah, ia a esquecer o conselho que gosto sempre de dar, a quem se preocupa com a pegada ambiental... Quando se forem autodescobrir na Índia, ou fazer turismo para Londres, ou Amesterdão, montem-se numa bicicleta ou numa vassoura, tipo Harry Potter. É que os aviões são quem pisa mais forte, nessa famigerada pegada.

31
Ago22

Duas formas de ver estrelas


Pacotinhos de Noção

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Quase a terminar as férias, hoje decidimos fazer uma visita ao Planetário. 

Só lá tinha ido em miúdo, ainda na escola primária, a minha mulher nunca foi, e o nosso filho iria gostar de certeza.

Em relação ao preço dos bilhetes não achei escandaloso. 15 € chegaram para dois adultos e uma criança de 5 anos.

Escolhemos a sessão que melhor se adequava à idade e ficámos agradavelmente surpreendidos por perceber que o Planetário não é uma atracção esquecida pelas pessoas. Estava uma sala bastante agradável e até o conferencista mencionou o facto.

A sessão foi óptima, o meu filho gostou imenso e foram 40 minutos que passaram num instantinho.

Esta foi a parte positiva, e agora falemos da outra, mas que em nada tem que ver com o Planetário, ou quem nele trabalhe.

Tenho duas crianças, uma de 5 anos e outra de 1 ano e 10 meses. Obviamente, e como qualquer ser minimamente pensante, não me passou pela cabeça imaginar levar a mais pequena a uma sessão numa sala escura, onde se requer silêncio e  alguma atenção, pois a primeira coisa que me enervou um bocadinho foi, na fila da bilheteira, um idiota que reclamava por não permitirem a entrada da sua pequena de ano e meio. Não conseguia perceber o porquê desta situação, e estava até a sentir que estaria a ser prejudicado na sua condição de pai...

Acho não haver muito o que dizer aqui. Se aquela besta não percebe o porquê, parece-me sensata a atitude do senhor da bilheteira que lhe respondeu um seco "Pois é, mas não pode." E pronto, é ignorar e seguir.

Não sei se estão familiarizados com o edifício do Planetário de Lisboa. As bilheteiras são no R/C, e a sala de projecção é no primeiro andar. Antes da sessão as pessoas aguardam num pequeno átrio onde estão expostos o antigo projector do planetário, e um antigo e enorme telescópio. Estive a explicar ao meu filho o que aquilo era, fingindo-me de sábio e entendido, pois é só por esta altura que conseguimos iludir os nossos filhos, e ele, talvez interessado, ou apenas de simpatia extrema, parecia ouvir aquilo que lhe dizia. Bem, para dizer a verdade não sei bem se ouvia porque, a determinado momento, deixamos de estar em Belém e fomos teletransportados para Sete Rios, mais propriamente para a Aldeia dos Macacos, no Jardim Zoológico. É que os pequenos seres retardados que ali se encontravam em espera, decidiram usar, tanto o telescópio, como o projector, como ferramentas de equilibrismo, e começaram a trepar por eles acima. Isto entre guinchos e gritinhos que nos furavam os tímpanos como se a Sharon Stone nos estivesse a cravejar o picador de gelo no cérebro.

Esta tortura parou porque, entretanto, começamos a entrar na sala.

Como disse sou pai de duas crianças. Não são anjinhos, longe disso. Tem dias que me moem tanto a cabeça que até dá pena não fumar, só para ter a velha desculpa de que "vou comprar tabaco e talvez volte", mas o tipo de comportamento que têm em público, principalmente o mais velho, em nada tem a ver com a maneira como se comporta em casa. Na rua até parece uma criança educada, evoluída e respeitadora. Quem o vê, quer ficar com ele, e de facto entrámos na sala, ele cumprimentou o conferencista, sentou-se e ficou a falar connosco, os pais, tirando dúvidas, perguntando o que iríamos ver. Já os macaquinhos que estavam lá fora, entraram também, e as cadeiras do Planetário, as quais são quase como marquesas para nos deitarmos, passaram a ser trampolins para os meninos saltarem. Eram muitas Carlotas, Matildes, Salvadores e Vicentes. Curiosamente os Fábios e os Rubéns, estavam sentadinhos com os seus pais, todos com os "caps" de pala para trás, e com as suas t-shirts de cava, mas caladinhos e com um comportamento bem civilizado. Parece que aqui para os lados de Cascais, as regras da boa educação são apenas algo que fica bem em livros de etiqueta, na revista Hola! e quando a Madalena Abecasis manda que assim seja.

Perguntarão vocês, "onde raio estão os pais destas crianças?"

a progenitora, que incomodavam quem ali foi para passar um bom bocado, e que eles não o estavam a permitir. Fiz esse meu "schiuu" e ainda bem que o fiz, porque resultou exactamente da mesma forma como se não o tivesse feito...

É isso mesmo. Nem ligaram. Ninguém quer saber se incomoda ou não, e a  grande vontade com que fiquei foi a de levantar-me e começar a distribuir chapadões, e desta forma as estrelas que iríamos ver não seriam só as projectadas no tecto do Planetário. Só não o fiz porque tive em consideração as regras da civilidade, da boa educação e porque poderia haver um pai, ou até uma mãe, maior ou mais forte do que eu, e também eu poderia ficar a ver estrelas.

21
Set21

Não tenho causas por causa das causas


Pacotinhos de Noção

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Todos têm causas.

Seja a sororidade, a igualdade de género, a defesa dos animais, a sustentabilidade do planeta, a pegada ecológica ou a luta contra o uso de plástico, na verdade não interessa qual a causa que se diz que se defende, nem tão pouco se ou como se defende. É preciso é fazer muito barulho para que todos percebam que se é uma pessoa de causas.

Pois no meio de tantas causas e causinhas devo dizer que eu não sou uma pessoa de causas. Pelo menos dessas todas que estão na moda.

Motivos? Tenho vários, mas os principais são porque sou preguiçoso e se me propusesse a defender algo, certamente que teria que fazer mais do que apenas fazer partilhas em redes sociais. Defender uma causa não é feito apenas no mundo da internet.

A grande parte destes novos defensores só afirmam que o fazem porque têm de alguma forma preencher o enorme vazio que os rodeia. Um vazio que ainda por cima é moral. Não é por acaso que é na geração Z que moram a maior parte destes activistas de causas sem efeitos.

Nos anos 70 foi preciso lutar pela liberdade, nos anos 80 havia o flagelo da droga e a SIDA era uma sentença de morte, a partir dos 90 as coisas começaram a acalmar mas ainda assim os estudantes tiveram as suas lutas contra as propinas, e agora tem que se inventar alguma coisa para que não sintam que a sua existência se está a transformar num enorme nada.

 Mas depois são mais uma vez hipócritas, quando reclamam da pegada ecológica mas não abdicam das suas viagens de avião por mero lazer e capricho de poder dizer que estiveram aqui e ali. 

Quem morar perto de uma escola e de um supermercado, como comigo acontece, percebem o quão incongruente é esta geração Z, que defende como é criminoso usar plástico mas que depois o usam e até o deixam espalhado pelas ruas, quando até existem ecopontos nas imediações da escola.

Não me importo de ser apontado como alguém que não tem causas que queira defender, até porque não é verdade. As minhas causas são é minhas. Não tenho a pretensão de conseguir mudar o mundo de forma imediata. Vou, por exemplo, educando os meus filhos de forma a que sejam pessoas como devem ser e digo desde já que me parece que estou a fazer um bom trabalho. Isto aquece ou arrefece a sociedade? Para já poderá em nada alterá-la, mas se eu criar uma criança, que um dia mais tarde venha a ser um bom cidadão, julgo que a causa que escolhi para mim estará já ganha.

Ganha gostos e seguidores nas redes sociais?! Não. Mas dá-me enorme paz de espírito e satisfação pessoal.

Se me perguntarem se tenho algo contra a geração Z...

Sou um "Millenial", logo o meu estado normal é arreganhar o dente para os Z... Assim como a geração X ainda é aquela que vai patrocinando grande parte dos Millenials e dos Z's.