O sincero significado do 25 de Abril
Pacotinhos de Noção
Hoje vão multiplicar-se os textos alusivos, e até comemorativos, do 25 de Abril. Estas minhas palavras, acredito, serão um pouco contracorrente, não como intuito de ser diferente, nem tentando menosprezar o feito conseguido em 1974, nada disso.
Sou nascido na década de 80, quase 10 anos passados da revolução, e quando me comecei a entender como gente, e a ter os chamados "2 dedos de testa", a esses 10 anos já se haviam juntado mais uns poucos, o que significa que liberdade foi apenas o que conheci. Não vou entrar no campo de que aquilo em que vivemos hoje não é bem uma liberdade. Isso é outro tema que não quero agora abordar.
Dado que vivi sempre em liberdade, o que significa GENUINAMENTE, para mim, o 25 de Abril?
Sem rodeios, sem "rodriguinhos" e sem falsos moralismos... É um feriado. Já abordei este assunto relativamente ao 5 de Outubro e o pensamento é exactamente o mesmo. Como tive a felicidade de não ser castrado nas minhas vivências e no bem-estar do meu dia-a-dia, o 25 de Abril é um feriado, comemorativo de algo importante, mas que só ganha maior importância quando calha numa Quinta, numa Sexta, numa Segunda ou numa Terça-feira, que assim há fins de semana prolongados ou até pontes.
Cada um sente as coisas de diferentes formas, e sei que no meu pouco caso pesa o facto de não ser minimamente nacionalista, mas também custa-me a perceber a inflamação quase revolucionária de gente da minha geração, e até muito mais novos, que sentem o 25 de Abril como se tivessem sido eles a lutar nas guerras do Ultramar ou a terem estado encarcerados no Tarrafal. Sim, sei serem pessoas com o coração perto da boca, que sentem tudo muito mais intensamente do que o comum dos mortais, e a isso se deve o facto de padecerem de uma característica cujo nome em inglês não tem uma tradução simpática, e é o de serem umas enormes "attention whores".
O meu filho de 4 anos, por dia, deve repetir a palavra mãe umas 85303253039 vezes. É uma criancinha em crescimento, e em fase de desenvolvimento, é natural que careça de uma atenção mais especial, mas estes marmanjos, embora não sejam de 74, 84, e se calhar até já nem são de 94, mas são adultos, são homenzinhos, só que a necessidade de atenção deles continua em níveis estratosféricos.
Não sei o que mudou em 74. Adoro ouvir podcasts de história, e até sugiro o "E o Resto é História", da Rádio Observador, com o João Miguel Tavares e o historiador Rui Ramos, e foi neste podcast que fiquei mais familiarizado com aquilo que a liberdade trouxe-nos, mas que também não se pode apagar o passado, pois o passado é o que faz a história, com que aprendemos e melhoramos, e que mesmo nos períodos maus houve coisas positivas que puderam ser retiradas.
A título de curiosidade, sabiam que o Estado Novo, que no final era opressor da liberdade, a início foi visto como o salvador de Portugal, visto que libertou o país de anos de instabilidade e insegurança, causados pela Primeira República?
Sabiam também que em 1940 se realizou a maior exposição em Portugal, até à realização da Expo98? Foi a Exposição do Mundo Português e para este evento foi reabilitada toda a zona de Belém que vai desde o Mosteiro dos Jerónimos, até ao Padrão dos Descobrimentos, e o Espelho de Água. Antes a zona era maioritariamente industrial, e o enorme jardim em frente aos Jerónimos e que passa pelos pastéis de Belém, chegando quase ao Palácio de Belém, nem sequer existiam.
Estas são as curiosidades positivas e depois temos as negativas. A mais negativa delas todas é que as guerras do Ultramar vitimizaram mais de 10 000 soldados portugueses. Muita morte por uma luta que nem percebiam o porquê de existir... Se não fosse por mais nada, só por isso o 25 de Abril já teria valido a pena.
Resumindo e concluindo. Sei que não dou o devido valor a este feriado. Não dou e não poderia dar, não sei na realidade o que representa e não fico patriótico por osmose, mas não é por isso que algo mudará, teremos sempre quem tenha nas veias a correr o hino de Portugal e a gritar 25 DE ABRIL SEMPRE.