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Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

05
Jun23

Lugar dos Eficientes


Pacotinhos de Noção

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Sou um tipo, que na hora de estacionar, é dos mais cumpridores que pode existir. Estacionei uma vez em cima do passeio, fui multado → aprendi. Estacionei uma vez num lugar de estacionamento reservado só a utentes de uma farmácia, fui multado → aprendi. Com se pode ver, para aprender a respeitar os estacionamentos, não foi preciso muito, ainda assim não posso dizer que considere justo aquilo que se tem passado.

Lugares de deficientes perto de entradas de serviços, da entrada dos centros comerciais, em lugares que são, de certa forma, privilegiados, faz todo o sentido.

Lugares mais amplos para carros de famílias, em que têm miúdos, miúdos que não têm cuidado na abertura das portas, lugares que facilitam a quem tira e põe bebés na cadeirinha, que tiram e arrumam carrinhos de bebé... Esta é outra situação, com lógica.

O que me parece que já não tem tanta lógica, e tenho constatado que é algo comum em quase todos os centros comerciais, em hipermercados, em estacionamentos pagos, é a escolha para o lugar de estacionamento de carros eléctricos.

Que pacto com o demónio fizeram os donos destes carros, para conseguirem que ficasse definido que eles passariam a ter os melhores lugares de estacionamento? 

Não consigo perceber qual é o critério, e posso até estar a cair num enorme pré-conceito, mas pessoal que compra carros eléctricos, normalmente, é gente saudável, que vai imenso a ginásios, come saudável... Sendo assim têm mais é que deixar os carros longe dos locais de acesso, para poderem fazer os seus exercícios de caminhada.

Mas como disse atrás, isto não acontece só nesses parques, é algo que é comum a todos. A justificação de que é devido aos pontos de acesso não colhe, porque os pontos de acesso de electricidade foram colocados à “posteriori”, pelo que poderiam ter sido colocados noutro local qualquer.

Estamos numa época de aceitação, de inclusão, e com esta situação sinto-me excluído, e prejudicado duplamente. Primeiro porque não tenho um carro eléctrico, depois porque não tenho um lugar de estacionamento tão bom quanto os dos carros eléctricos... Tenho um lugar escuro e bafiento, lá no Cu de Judas dos parques de estacionamento.

21
Mai23

Esta semana, nada de novo


Pacotinhos de Noção

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E de facto assim é. Esta semana, que agora termina, não trouxe nada de novo, mesmo tendo ido João Galamba, e a sua chefe de gabinete, à CPI da TAP. 

O mais triste disto tudo é que não se pode considerar que tenha acontecido nada de novo, não por marasmo, ou falta de assunto, mas porque o que aconteceu foi mais do mesmo, que já não nos admira em nada. Mentiras, conluios, combinações que de tão mal engendradas, nos parecem serem apenas parte de uma muito fraca, e mal ensaiada, peça de teatro. Os actores são maus, o texto é péssimo, mas já pagámos o bilhete e agora, se quisermos sair da sala, teremos que pagar mais ainda.

Não sou ninguém famoso nem um órgão de comunicação social, por isso não tenho que utilizar nenhum “alegadamente”, e mesmo não sendo mentalista fiquei com uma enorme percentagem de certeza de que esta história do computador vai fazer levantar um “tsunami” de porcaria.  Galamba, e todos os que o rodeiam, formam uma 2 verdadeira máfia, que controla o país, e usa-o como se fosse o seu baú dos brinquedos.

Não faz sentido que se tenha levado esta situação a este ponto tão extremado, se a única coisa que estivesse no aparelho fossem apenas umas notas acerca de algumas reuniões, ou até mesmo o plano de reestruturação da TAP.

Frederico Pinheiro pode dar-se por satisfeito pelo português daqui não ser o português com sotaque que António Costa tanto gostaria que falássemos, pois se assim fosse, Frederico poderia estar certo de que teria os dias contados. É que lá, tipos que tentam ser correctos, e contar a verdade, se a verdade não for a que os políticos querem, quase de certeza que será vítima de um assalto que termina em morte, ou os travões do carro vão deixar de funcionar. Mas como Frederico Pinheiro se desloca de bicicleta, podia ser que até tivesse sorte.

Por falar em António Costa…

Só não digo que o Primeiro-ministro tem estado caladinho que nem um rato porque, na verdade, há-de até é de estar rouco, por ter cantado em plenos pulmões a “Paradise”, dos Coldplay, ficando mesmo de lágrimas nos olhos, segundo consta. Costa associou a música a este nosso país, que não é paradise por estarmos próximos da divindade, mas sim porque está cheio de almas penadas. As que penam nas filas dos serviços, as que penam horas nas urgências dos hospitais, as que penam por não terem dinheiro suficiente para pagar todas as contas, e as que penam para apanhar um avião da TAP, seja para onde for, mas sabendo sempre à partida, que o voo atrasará.

 

TAP → Voo → Voo → Avião → Avião → Aeroporto → Aeroporto → SEF

Esta semana ficámos a saber também que a esposa do senhor ucraniano, morto pelo SEF no aeroporto de Lisboa, pediu nova indemnização ao Estado português.

Podemos dizer que a sorte grande desta pessoa foi a morte do marido.

De uma vez já recebeu mais de 800 mil euros, e agora, segundo foi noticiado, pede nova maquia, num valor que rondará os 700 mil euros. Não sabia tão caro o valor do assassinato ucraniano. Putin já deve ter partido o seu porquinho mealheiro.

Sugiro ao SEF, que caso tenha mesmo muita necessidade de matar alguém, que opte pela vítima nacional, que está ao preço da uva-mijona. Não me recordo de uma morte de um português, seja por que motivo for, ter sido tão rentável quanto está a ser a deste cidadão ucraniano. Sexta-feira, por exemplo, morreu um bebé, no hospital de Portimão, porque aguardava já há 6 horas, por transferência para um hospital de Lisboa.

E, porque teria ele que vir para Lisboa, perguntarão vocês.

Será porque os equipamentos daqui o ajudariam a recuperar mais depressa, ou seria porque a equipa de Lisboa tinha histórico positivo na resolução de assuntos como o dele? Nem uma coisa, nem outra. Ia ser transferido porque no Hospital de Portimão não havia pediatra. No Hospital de Faro, bem mais perto, também não havia pediatra, e a transferência demorou porque a ambulância do INEM, que o iria trazer, também não tinha médico pediatra.

Este bebé tinha 11 meses. Sofreu uma morte, talvez dolorosa, não sei, mas acredito que um derrame cardíaco não seja indolor, por um motivo quase anedótico, que é o de não haver médicos pediatras nos hospitais do Algarve.

Ah, em relação ao PSD há novidades...

Estava a brincar, nada mudou. Olhando para a cara de desconforto que Luís Montenegro evidencia, eu estou em crer que nem as cuecas ele muda, quanto mais a atitude.

É como disse logo no início deste texto. Mais do mesmo, infelizmente, e o que é muito mais infeliz é existirem ainda pessoas que defendem Costa e o seu Governo. Parecem o Ventura, que a determinada altura da sua vida, infligia dor a si, recorrendo a cilícios, como forma de se punir.

Palavras dele, ALEGADAMENTE.

04
Mai23

E eis como se borra a pintura


Pacotinhos de Noção

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Nos últimos tempos a Iniciativa Liberal tornou-se mais visível por bons motivos.

Na comissão de inquérito da TAP Bernardo Blanco tem sido quem mais se tem destacado, quer pelas perguntas cirurgicamente colocadas, quer pela demonstração de que o trabalho de casa tem sido bastante bem-feito.

Esta visibilidade só lhes poderia granjear pontos positivos, mas quando cogitamos ser popularuchos para agradar a uma faixa etária, que tem demonstrado ter uma margem bastante alargada de indivíduos idiotas, a hipótese de se borrar a pintura toda é enorme, e foi o que aconteceu.

Que outra razão poderá existir, que não a de tentar captar a atenção de uma faixa etária mais nova que, infelizmente, tem o discernimento político de uma rolha de cortiça, para convidar aqueles tipos para o Parlamento.

Pior, foram recebidos pelo Bernardo Blanco e pelo Cotrim de Figueiredo, duas das principais caras do partido que em vez se resguardarem se colocaram nas mãos de dois imberbes cujo uso de talheres é, para eles, já considerado um enorme avanço civilizacional.

Nisto tudo o que também me irrita são as desculpas esfarrapadas que, de alguma forma, tentam colar ao incapaz do Tiago Paiva.

A principal é a de que é um jovem e que, como jovem, é natural mandar um Primeiro-ministro para o c@r@lh0, em plena Assembleia da República. Vazia, é certo, mas é um lugar que merece algum respeito, e até mesmo o Primeiro-ministro, por mais que eu não goste dele, não pode ser ofendido desta maneira… Aliás, ninguém pode. Mandar alguém para o c@r@lh0 diz muito mais de quem emite o impropério do que quem o recebe. Diz de si e dos seus paizinhos, que não lhe souberam dar educação. Mas curioso, também caí na esparrela de tentar justificar este idiota por ser um jovem, ao referir-me aos progenitores do mesmo. 

Tiago Paiva tem, nada mais nada menos do que 34 anos, meus caros. Trinta e quatro anos é puto? É criança? É jovem? Ainda mama nos peitos da sua mãe? Andará ao colo do seu pai? Tenham juízo, por favor. Este tipo na Idade Média só não estaria em fim de vida porque com tanta anormalidade que diz, já alguém lhe teria limpado o sarampo.

Com 34 anos eu já estava casado há 10, a minha mãe já tinha 4 filhos e D.Afonso Henriques fundava o Reino de Portugal (tudo feitos muito semelhantes).

Ao continuar a infantilizar estes tipos, e justificando toda e qualquer idiotice que façam ou digam, perpetuaremos a estupidificação desta sociedade que, de tão amorfa mental que fica, depois contém partidos que julgam boa ideia manchar a reputação que construíam, apenas por mais uns quantos seguidores nas redes sociais.

A este acto podemos dar a importância que lhe quisermos dar. Colocando no prato da balança este estúpido convite e a prestação da IL na comissão da TAP, eu tenho discernimento para perceber que pesa muito mais a comissão de inquérito, mas isto sou eu que sou um tipo esclarecido, com uma inteligência acima da média, bonito e cheiroso, mas e a quantidade de burros que para aí andam? Conseguiram fazer essa distinção? Se calhar não. É por isso que o melhor é evitar este tipo de situações.

08
Abr23

Está tudo controlado!


Pacotinhos de Noção

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Há quem tente diminuir aquilo que se passa com a TAP.

Se porventura nem souberem do que falo, então lamento. Lamento porque, em parte, o estado em que este país se encontra, é também a vocês que se deve, que preferem as polémicas das revistas cor de rosa, dos reality shows, e que hoje estão deprimidos porque o Benfica perdeu. Todos esses são temas de uma importância tão relativa, que nem sequer deviam ser mencionados. Coisas como a vergonha do que se passa com a TAP, interfere directamente convosco. Foram injectados 3 mil milhões de euros, numa empresa onde a grande generalidade dos portugueses nem põe os pés, porque a condição económica que lhes assiste, apenas lhes permite voar em companhias de baixo custo.

O dinheiro colocado na empresa, por si só, é já um escândalo de proporções enormes, mas o que se vai descobrindo aos poucos, dá-nos a clara sensação de que se levantarmos o véu, vamos ter uma ainda maior desagradável surpresa.

Aquilo com que nos deparamos é que este governo é um polvo de enormes tentáculos, é uma teia que tudo engloba e tudo controla. Os ministros, secretários de Estado, assistentes de ministros, todos eles participam num conluio de tal forma engendrado que há depois

indemnizações, pré-reformas, transferências entre empregos, que são tudo menos claras e que soam só a troca de favores, e pancadinhas nas costas.

Que não se iluda, ou se tente enganar a si mesmo, aquele que dá como desculpa que "comem todos do mesmo tacho", ou que são tudo cabalas engendradas para denegrir a imagem de governantes, e por consequência, do PS. Peço que façam um pequeno exercício de memória e que se recordem que esses eram também os principais argumentos utilizados por José Sócrates. Sim, esse mesmo Sócrates que depois se descobriu que com Manuel Pinho, Ricardo Salgado, Henrique Granadeiro, Carlos Santos Silva, tinham montado uma rede de influências com uma tal grandeza que parecia que nada nem ninguém estava livre de sair prejudicado, dos desfalques destes senhores. O José Sócrates que tinha num dos seus pupilos o agora mentor desta nova corja, que tem no seu ninho a sede do PS, no Largo do Rato.

Curiosamente António Costa tem-se conseguido manter, mais ou menos, na sombra de estas polémicas.

Admito que não consigo perceber como, uma vez que é sabido que dentro do partido o homem é o suprassumo e nada ali se passa sem o seu aval e consentimento, mas o vosso Primeiro-ministro sempre foi um homem que teve uma óptima relação com os meios de comunicação, conseguindo assim sempre passar por entre os pingos da chuva. E em política, como todos nós sabemos, ter os órgãos de comunicação do nosso lado, é meio caminho andado para o sucesso. Reparem que nem sequer sugiro que António Costa é privilegiado por ter como o seu irmão o director geral de informação da SIC, Ricardo Costa, que, quanto a mim, sempre se mostrou sério e isento, colocando até o seu cargo à disposição, quando António Costa ocupou o lugar que ainda hoje detém.

Mas o secretário-geral do PS nem precisa de tentar jogar essa cartada do irmão, porque com tantos anos de poder, o Partido Socialista já criou uma rede tão extensa de influências que se o Costa político quiser, consegue pôr o Costa jornalista na rua, apenas com um estalar de dedos.

João Galamba, Pedro Nuno Santos, Fernando Medina, são seguidores daquilo que Costa ensina, e que tem já longa escola de doutrina, iniciada em tempos por José Sócrates. Por um lado é até compreensível que assim seja, afinal das contas foi António Costa que os ensinou a movimentarem-se bem neste lodo pestilento e malcheiroso que é a política portuguesa. Aquilo que me custa um bocadinho mais a perceber, é como o Sr.Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sendo tão popular entre os portugueses, tendo uma taxa de aceitação tão alta como aquela que já teve, se deixou também envolver neste vórtex de tramas, esquemas, combinações, que em nada dignificam a nossa república, e a própria democracia. Custa ainda mais a perceber, quando sabemos de antemão, que as cores partidárias de Marcelo são opostas à força do Governo, o que nos levará a pensar então que realmente, os tentáculos de Costa, e do PS, são muito mais fortes e abrangentes do que aquilo que nos é possível imaginar, tendo até arranjado forma de ter o presidente refém das suas vontades.

Tal como tinha dito, não expliquei nada do que se passou na comissão de inquérito da TAP. Se não sabem, é porque, certamente, têm ignorado as notícias que diariamente nos têm chegado e, meus amigos, posso apenas dizer o seguinte, se o povo teima em ser ignorante, o governante obviamente que não vai perder tempo instruindo-o, quando pode perfeitamente aproveitar esse tempo para o roubar. 

07
Dez22

A dureza da ingratidão


Pacotinhos de Noção

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Começo por dizer que nunca fui dos deslumbrados por Ronaldo, mas a partir de determinada altura passei a admirá-lo. Sempre o preferi ao Messi. Não por ser português, mas por ter a coragem de demonstrar o seu valor em vários clubes, por conseguir deixar a sua marca em todos, por ser um exemplo de trabalho, de evolução e de conceito família. Tinha tudo para se deixar deslumbrar, encostar-se aos títulos e ao dinheiro ganho e aguardar pelo seu fim de carreira, sem se ter que incomodar, afinal de contas já tinha os bolsos cheios. Em vez disso, Ronaldo quis sempre melhorar, quis sempre crescer, bater recordes. Passou a ser um vício, uma necessidade de afirmação, e podemos criticar por isso? Numa sociedade, longe de perfeccionista, que desempenha as suas funções de maneira sofrível, não seria de admirar quem trabalha para ser o melhor?

A grandiosidade deu-lhe alguma falta de modéstia e até alguma gabarolice? Pois com certeza que deu, e se esse é o seu maior mal, então está de bom tamanho.

Cristiano Ronaldo não é o D.Sebastião desaparecido, não é o salvador da pátria, e importa-me muito pouco se nos quatro cantos do mundo sabem o que é Portugal apenas por causa dele. Aquilo que me importa é que Ronaldo já foi O MAIOR, O MELHOR, o arquétipo do perfeito jogador de futebol, e nós pudemos ser testemunhas desse feito. Tivemos outros bons jogadores na selecção, mas poucos com a entrega dele. Todos têm presente a imagem de Eusébio a chorar, em 1966, depois da selecção perder contra a selecção inglesa. É uma imagem que demonstra a entrega de um jogador à selecção. Temos disso em Cristiano Ronaldo, mas não tínhamos, por exemplo, noutro grande jogador português, que chegou a afirmar que se vinha à selecção para perder prestígio, então preferia não vir. Quer proferiu estas palavras foi Luís Figo.

Não era, enquanto CR7 estava no auge, que o mesmo precisava de respeito, de apoio, de amizade por parte dos adeptos. É agora, numa altura em que todos lhe viram as costas, em que ele ainda joga ao mais alto nível, mas em que a populaça, e os comentadores, não hesitam em tentar rebaixar e menosprezar.

Ainda presentemente Paulo Futre, que já não joga há uns anos valentes, é amado, acarinhado e respeitado pelos adeptos do Atlético de Madrid, Ronaldo, ainda no activo, perdeu a imprensa, os comentadores, os treinadores e alguns adeptos.

Relembro que Ronaldo não criou o futebol em Portugal, mas faz parte de um época em que, talvez, o mesmo tenha tido o seu ponto mais alto. Foi campeão europeu... Para mim, sinceramente, isso diz-me muito pouco. Não ligo assim tanto ao futebol que julgue que ser campeão europeu seja algo com tanta importância, mas é verdade que antes de Ronaldo estávamos habituados a um futebol português comparável ao tremoço, e agora temos um futebol comparável ao caviar.

Estão a ser injustos e mal-agradecidos para alguém que acima de tudo sempre trabalhou imenso.

Espero que no resto do Mundial Ronaldo ainda possa dar duas ou três chapadas de luva branca àqueles que sempre precisaram dele para fazer notícias e vender jornais, e que agora dizem cobras e lagartos.

No fim de carreira as pessoas devem ser acarinhadas, não espezinhadas. A imagem que ilustra este texto é demonstrativa de alguém que no fim, depois de tanta ribalta, vai dar graças a Deus por ter investido numa família que ama. São eles que lhe irão dar o colo que irá necessitar.

Temo que para muita gente, Cristiano Ronaldo só será novamente elevado a grandioso no dia em que morrer, e em que relembrarem o artista que foi com os pés.

25
Abr22

O sincero significado do 25 de Abril


Pacotinhos de Noção

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Hoje vão multiplicar-se os textos alusivos, e até comemorativos, do 25 de Abril. Estas minhas palavras, acredito, serão um pouco contracorrente, não como intuito de ser diferente, nem tentando menosprezar o feito conseguido em 1974, nada disso.

Sou nascido na década de 80, quase 10 anos passados da revolução, e quando me comecei a entender como gente, e a ter os chamados "2 dedos de testa", a esses 10 anos já se haviam juntado mais uns poucos, o que significa que liberdade foi apenas o que conheci. Não vou entrar no campo de que aquilo em que vivemos hoje não é bem uma liberdade. Isso é outro tema que não quero agora abordar.

Dado que vivi sempre  em liberdade, o que significa GENUINAMENTE, para mim, o 25 de Abril?

Sem rodeios, sem "rodriguinhos" e sem falsos moralismos... É um feriado. Já abordei este assunto relativamente ao 5 de Outubro e o pensamento é exactamente o mesmo. Como tive a felicidade de não ser castrado nas minhas vivências e no bem-estar do meu dia-a-dia, o 25 de Abril é um feriado, comemorativo de algo importante, mas que só ganha maior importância quando calha numa Quinta, numa Sexta, numa Segunda ou numa Terça-feira, que assim há fins de semana prolongados ou até pontes.

Cada um sente as coisas de diferentes formas, e sei que no meu pouco caso pesa o facto de não ser minimamente nacionalista, mas também custa-me a perceber a inflamação quase revolucionária de gente da minha geração, e até muito mais novos, que sentem o 25 de Abril como se tivessem sido eles a lutar nas guerras do Ultramar ou a terem estado encarcerados no Tarrafal. Sim, sei serem pessoas com o coração perto da boca, que sentem tudo muito mais intensamente do que o comum dos mortais, e a isso se deve o facto de padecerem de uma característica cujo nome em inglês não tem uma tradução simpática, e é o de serem umas enormes "attention whores".

O meu filho de 4 anos, por dia, deve repetir a palavra mãe umas 85303253039 vezes. É uma criancinha em crescimento, e em fase de desenvolvimento, é natural que careça de uma atenção mais especial, mas estes marmanjos, embora não sejam de 74, 84, e se calhar até já nem são de 94, mas são adultos, são homenzinhos, só que a necessidade de atenção deles continua em níveis estratosféricos.

Não sei o que mudou em 74. Adoro ouvir podcasts de história, e até sugiro o "E o Resto é História", da Rádio Observador, com o João Miguel Tavares e o historiador Rui Ramos, e foi neste podcast que fiquei mais familiarizado com aquilo que a liberdade trouxe-nos, mas que também não se pode apagar o passado, pois o passado é o que faz a história, com que aprendemos e melhoramos, e que mesmo nos períodos maus houve coisas positivas que puderam ser retiradas.

A título de curiosidade, sabiam que o Estado Novo, que no final era opressor da liberdade, a início foi visto como o salvador de Portugal, visto que libertou o país de anos de instabilidade e insegurança, causados pela Primeira República?

Sabiam também que em 1940 se realizou a maior exposição em Portugal, até à realização da Expo98? Foi a Exposição do Mundo Português e para este evento foi reabilitada toda a zona de Belém que vai desde o Mosteiro dos Jerónimos, até ao Padrão dos Descobrimentos, e o Espelho de Água. Antes a zona era maioritariamente industrial, e o enorme jardim em frente aos Jerónimos e que passa pelos pastéis de Belém, chegando quase ao Palácio de Belém, nem sequer existiam.

Estas são as curiosidades positivas e depois temos as negativas. A mais negativa delas todas é que as guerras do Ultramar vitimizaram mais de 10 000 soldados portugueses. Muita morte por uma luta que nem percebiam o porquê de existir... Se não fosse por mais nada, só por isso o 25 de Abril já teria valido a pena.

Resumindo e concluindo. Sei que não dou o devido valor a este feriado. Não dou e não poderia dar, não sei na realidade o que representa e não fico patriótico por osmose, mas não é por isso que algo mudará, teremos sempre quem tenha nas veias a correr o hino de Portugal e a gritar 25 DE ABRIL SEMPRE.

22
Nov21

Hoje sinto-me um imbecil


Pacotinhos de Noção

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Quem me lê há-de ter reparado que super e hipermercados são microcosmos que frequentemente utilizo para mostrar exemplos da quão ranhosa é esta nossa sociedade. Isto acontece por estas superfícies serem frequentadas por toda a categoria de gente. Mesmo o mais eremita precisa de mantimentos e é lá que se abastecerá.

Hoje desloquei-me a uma loja Minipreço e a cena com que lá me deparei abalou as minhas convicções. Agora, algumas horas passadas, tenho o discernimento para perceber que a unidade não é um todo, mas no imediato da situação não é com essa a sensação com que se fica.

Defendo que Portugal não é um país racista. Tem, como todos os países terão, elementos medíocres que por serem tão barulhentos até podem parecer que são muitos, mas a verdade é que não são. Mas quando atacam, ao atacado dói tanto como se fossem mais, e o que realmente interessa é isso. Vamos então ao relato da situação.

Entrando no supermercado que referi, ouço uma senhora a falar alto com a menina da caixa, que por acaso é brasileira. Não sei qual seria o motivo nem quem ali tinha a razão, mas sei quem rapidamente a perdeu.

O primeiro argumento que me acertou como um murro no estômago foi o bom e velho — "mas você não sabe que o cliente tem sempre razão?" — a resposta foi um educado -"talvez na sua perspectiva, mas na minha não". Como as pessoas que gostam de falar alto não lidam bem com quem lhes responde baixo e com educação, aproveitam logo para mostrar o jogo todo pondo as cartas na mesa, e o trunfo jogado foi lançado todinho de uma vez. Parecia uma avalanche de idiotice, estupidez e trampa que a tal senhora vomitou, e esta porcaria toda, para mim que nem tinha nada que ver com o assunto, em vez de voltar-me a acertar no estômago, acertou-me com toda a força nas trombas deixando-me até sem reacção. Esta senhora, a quem agora faço questão de apelidar de vaca, virou-se para a rapariga e metralhou-a com -"mas quem julga você que é? Vem para o país dos outros a dar ares de quem manda? Vá, mas é para a sua terra"...

O "vá, mas é para a sua terra" tem em mim o mesmo efeito que ver um animal atropelado na estrada. Sabemos que acontece, ocasionalmente vemos um, mas sempre que por ele passo, até sinto um arrepio na espinha.

Agora sei que deveria ter intervindo. Deveria ter chamado à atenção aquele saco de estrume e disponibilizar-me para servir de testemunha à funcionária ofendida. Não o fiz e sinto-me um imbecil por isso. 

Nesta situação não deveria ter tido pudores de ter sido até deselegante com tão desprezível pessoa, mas de facto não tive reacção. Reacção teve a ofendida que se retirou e foi-se fechar no W.C. a chorar. Estou certo que o fez não só pela ofensa mas também por não ter tido quem a defendesse e até por se ter sentido traída por colegas que não tomaram as suas dores, apenas porque ficaram com receio da cliente. Percebo que o nervoso tenha-lhes toldado o discernimento. Se me aconteceu e não era nada comigo, imagino como terá sido difícil para eles engolir esta ofensa. Até porque também eles são brasileiros.

Aquilo que posso apenas dizer é que me sinto envergonhado.

Sinto-me envergonhado por assistir a isto e não ter reagido. Não vou aqui afirmar que "sou isto e aquilo" e "que faço e aconteço", mas hoje podia ter sido só um bocadinho "daquilo" para fazer "acontecer" e o acontecer aqui até podia ter trazido o bónus de ter feito uma "tuguinha" ranhosa sentir-se humilhada por ser chamada à atenção por outro "tuguinha", que foi ranhoso por não intervir. E ser "tuguinha" é isto... É muito provavelmente ter familiares a trabalhar no estrangeiro, é afirmar que já se sofreu de preconceito por um ou outro motivo, é sublinhar que quanto mais conhece as pessoas mais gosta de animais, mas que mal tem a sua oportunidadezinha de espezinhar alguém não hesita e fá-lo com os dois pés, e até com botas da tropa, para saber que calcou bem e sentir orgulho numa nação que trata assim quem nela mora. Mas mais uma vez afirmo, e não me deixo ir ao engano, por assistir a este triste espectáculo não mudo a minha opinião. Não somos um povo racista, mas temos por cá muita porcaria, que curiosamente até por cá nasceu.

17
Nov21

Em Portugal faz-se mais "cock" se pensa


Pacotinhos de Noção

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Trevor Noah, apresentador do "The Daily Show", ousou fazer uma piada com Portugal. Nem sabe bem com quem se veio meter.

Vou citar o jornal "O Público" que escreveu:

"O apresentador do The Daily Show brincou com uma lei laboral portuguesa e insinuou que uma quebra na produção nacional em nada influenciaria o resto do mundo. Mas os utilizadores do Twitter não se ficaram: pastéis de nata, cortiça, vinho e “caralhos” das Caldas foram apenas alguns exemplos."

Neste excerto vemos que o português produz algumas coisas mas aquela que mais produz está explícita mas não referenciada e que é a grande capacidade de produzirem ondas de indignação.

Gerou-se uma grande onda de indignação para com Trevor Noah por ter afirmado que Portugal não produzia nada que fosse de relevo, mas isto mostra a ignorância e falta de informação do apresentador e é por isso que o título tem lá um "cock", que em inglês não é, nada mais, nada menos, do que pila, pila essa que a alguém há-de chamar a atenção e que poderá gerar também uma onda de indignação... Vá, uma onda não vai gerar porque não tenho tanta expansão, mas pode gerar uns tremeliques neste mar de indignados. E é isto mesmo que o nosso país lusitano se habituou a produzir. Chatos, indignados, pessoas que para mais nada servem do que "chagar" a cabeça a coitados como o Trevor Noah, que ignorava esta nossa faceta, e temendo a indignação dos portugueses, para se redimir já veio a público dizer... Nada. Rigorosamente nada, porque por mais que o povo português viva na ilusão de que apita alguma coisa, e goste de fazer barulho, este é um barulho tão pequenininho que do outro lado do oceano ninguém vai ligar.

A força dos portugueses de cancelarem alguém resume-se a alguém que esteja dentro dos limites do nosso quintal e que não tenha as "balls" no sítio para mandar o pessoal mandar uma volta ao bilhar grande.

Acabo quase sempre por voltar ao mesmo, mas estamos transformados num país que é um pãozinho sem sal, ou uma água de salsicha, como dizem os brasileiros (que nestas definições são bem melhores que nós), e que define bem pois a água de salsicha não tempera, não serve de alimento e não é para aproveitar. Está lá apenas para manter a salsicha e para encher a lata.

Este fenómeno não é só nosso. Esta mariquice do pensar 50 vezes antes de falar, não com medo de dizer algo que não deva, mas antes com medo de dizer algo assertivo que possa raspar, mesmo que minimamente, a falsa dignidade de alguém, está a acontecer um pouco pelo Mundo todo, mas quando ao resto do Mundo pouco me ralo, porque é aqui que eu vivo.

Tenho que ser sincero, acho uma certa piada quando alguém lá de fora nos aponta a nossa pequenez. Não porque goste da nossa mediocridade, mas porque acho piada a tantas notícias, quer na televisão, quer nos jornais, com o melhor bolo de chocolate do Mundo, as melhores empresas Unicórnios e aposto até que todos vós já viram coisas como "Estas são as melhores praias do Mundo e Portugal tem duas na lista", mas depois, na prática somos aqueles pequeninos de sempre que nos queremos montar nas cavalitas do Cristiano Ronaldo para mostrar o quão magnífico são os descendentes do Afonso, que no meio de tantas conquistas só nos orgulhamos que tenha batido na mãe, quando aquela característica diferenciadora do CR7, que todos os treinadores lhe apontam, é uma que falta à grande generalidade dos portugueses. O empenho e o foco do jogador na parte chata que é o treino, sendo o primeiro a chegar e o último a sair porque quer treinar sempre mais e mais, não porque goste, mas porque é o seu trabalho e quer continuar a tentar ser o melhor... Ora se aqui na velha Portugália, uma Maria Mijona que tire fotocópias não despeja um caixote de lixo porque não faz parte das suas funções, como é que podemos dizer que Portugal produz Cristianos Ronaldos?

Produz mas é o caraças.

Produzimos a indignação que mostramos quando nos criticam, produzimos barulho quando nos queixamos e produzimos calo no rabo, como os babuínos, por estarmos sempre alapados à espera que as coisas se produzam sozinhas e com qualidade.

15
Mar21

Coitadinhos dos coitadinhos


Pacotinhos de Noção

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Erradamente quase a generalidade dos portugueses têm por hábito dizer que "saudade" é uma palavra que existe apenas no nosso idioma. É um erro compreensível se imaginarmos que quem tenha dito isto da primeira vez o tenha dito figurativamente, no sentido de que o português é um povo tão melancólico e saudosista que nas outras partes do Mundo a saudade não é igual à nossa e, como tal, esta saudade só existe em português. E é isto que me leva ao que quero escrever hoje. Porque o facto de acharmos que sofremos como ninguém reporta-me à palavra "coitadinho", e essa existirá certamente em quase todas as línguas do Mundo, mas aposto que em nenhum deles é tão utilizada como em Portugal. E é usada com tal mestria que o português tornou até possível usá-la em coisas consideradas positivas, senão reparem no cenário. Uma mãe com o seu filhote no parque. O garoto cheio de energia e com cores saudáveis, brinca alegremente. Alguém se aproxima da mãe e tece elogios ao petiz e no fim acaba com um "coitadinho que é tão querido, ou fofinho, ou bonitinho". E se quiserem em vez de uma criança podem colocar um animalzinho de estimação... Dá para tudo.

Depois há o "coitadinho" que é dito de forma ameaçadora. Aquele "coitadinho, tu nem sabes o que te espera" ou o outro "coitadinho" que se refere ao desprezo por algo ou por alguém. "Aquele malandro? Aquilo é um coitado que ali anda..."

O "coitadinho" é muito versátil e isto só é possível num povo que sente tanta pena de si próprio, e é por isso que o coitadinho preferido é mesmo aquele mais simplista, aquele que mostra que quem é coitadinho é mais desgraçado que qualquer um, e este "coitadinho" é quase sempre de uso próprio.

"Coitado do Almiro que foi despedido... Não, não, coitado é de mim, que ele agora vai ficar a receber subsídio e eu vou continuar a trabalhar e é dos meus descontos que sai o subsídio dele."

"Coitada da D.Eugénia, ainda ontem estava viva e agora já se foi... Não senhor, coitado é de mim, que ela já lá vai e não sofre mais e eu ando aqui que não me aguento das costas."

Se bem se lembram no primeiro Big Brother quem saiu vitorioso foi um coitadinho, no futebol os grandes são os bandidos tubarões, mas quando se descobre um clube mais pequeno com coisas menos lícitas, é porque "coitadinhos, são pequeninos, têm que se safar de alguma forma."

O "coitadinho" serve de álibi e de desculpa para um número infindável de coisas. Coisas essas que não vou escrever porque coitadinhos de vocês, que estão a ler, mas mais coitadinho sou eu que já tenho aqui os dedos que não aguento, de tanto escrever.