Badalhoquice, goela abaixo
Pacotinhos de Noção
Volto hoje aos temas que realmente interessam.
Esqueçam a política, quer a nacional ou internacional, os submarinos que implodem ou o calor que de faz sentir nesta altura esquisita, a que noutros tempos chamávamos de Verão.
Falarei do quão difícil é conseguirmos bebericar ou comer algo fora de casa sem sentirmos que damos uma valente lambidela num penico.
Usando o infalível recurso das percentagens, afirmo, sem qualquer ponta de dúvida, que cerca de 80% das vezes que vou a um estabelecimento da área da restauração, tenho que pedir para me trocarem um copo, um talher ou um prato porque está mais badalhoco que uma sarjeta do Bairro Alto, em noite de santos populares.
A última situação foi hoje, em que no copo que me foi trazido à mesa, vinha uma enorme marca de batom. A princípio senti-me lisonjeado ao pensar que aquele copo sentiu que podia "rolar um clima", no almoço que ia ter comigo, e decidiu passar uma corzinha nos lábios, na tentativa de seduzir-me. Depois vi que era O copo, não era A taça, A caneca, A malga, e bem sei que actualmente o género não é o suficiente para nos catalogar, mas se é O, então é porque é masculino, tendo batom nos lábios ou não, o que me leva a conclusão de que a maquilhagem não foi uma tentativa de sedução, mas sim apenas falta de higiene de quem trabalha naquele restaurante. E atenção, não foi falta de higiene de uma pessoa só, ou um mero acaso. Acaso era aquele badalhoco copo cair ao chão, escaqueirando-se todo. A loiça teve o contacto com quem o levantou da mesa e levou à copa, teve o contacto com a pessoa que agarrou nele e o passou por água, antes de o meter na máquina - se não o fizeram deviam ter feito, e talvez o copo tivesse ficado bem limpo - depois foi retirado da máquina, pelo que mais uma pessoa teve contacto com ele, foi arrumado, depois foi desarrumado para ser usado, colocaram pedras de gelo e uma rodela de lima, para me servirem, e por fim trouxeram-no para a minha mesa. Garanto-vos que o restaurante onde fui não pertence à ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal), porque só assim se justificaria ninguém ter visto que aquele copo estava todo borradinho de batom. A cor estava tão bem definida que até vos posso dizer que era o Powerful Love Stunning Creamy, da KIKO.
"Ah, e tal, pedias para trocar" - Primeiro não me falam nesse tom, que estou pior que estragado por existir tanta gente porca, e depois porque estou cheio de razão!
Bem sei que posso pedir para trocar. Aliás, nem podia ser de outra forma, mas o confrangedor que é ter que fazer ver a alguém que o serviço que estão a fazer é porco, já ninguém me o tira, e passa a ser mais confranger ainda quando o funcionário faz cara de pum, e se comporta como o errado ali fosse eu. Deve ser uma falha minha porque já me senti mal variadíssimas vezes em situações em que quem estava mal não era eu.
Uma das vezes foi quando vi uma carocha enorme a passear no chão do restaurante.
Levantei-me e com subtileza disse ao funcionário que estava ali o bicharoco, ao que ele responde sem fazer questão de falar baixo: "Pot@s dum c@brã0, já e a terceira que mato hoje", e começa num sapateado alucinante, numa tentativa de pisotear a barata. Se alguém não se tivesse apercebido do bicho, no final ia bater palmas e dar uma moeda ao Sr.Silva, imaginando que ele estava numa actuação, a imitar o Fred Astaire... Quem não souber quem é o Fred Astaire, aproveitem e usem o Google. É uma ferramenta nova que vos diz tudo de tudo.
Outra situação foi um cabelo num bolo. Felizmente fiz algo que nem é frequente, parti a guloseima com a mão.
Quando o separo em duas partes sinto uma resistência anormal, e que mais não era do que um dos cabelos que cortaram ao Sansão, que não deixava separar as duas partes. Tive a mesma atitude de calmamente pedir para trocar e a menina do balcão levanta o sobrolho e diz: "Um cabelo? Isso é muito esquisito", e era mesmo, porque normalmente peço os meus bolos sem cabelo, e este tinha brinde.
Agarrou no bolo e desapareceu por uma porta, que por momentos julguei que fosse dar a Narnia, porque a moça não voltava mais. Quando regressa vinha de faca na mão e eu pensei que a minha vida acabaria ali, apenas porque pedi para trocar um bolo. A rapariga chega ao balcão e pergunta se eu sei o que foi que aconteceu!!! Senti a cabeça a andar à roda, porque embora ela tenha ido a Narnia e voltado, não tinha ideia que a viagem roubava a memória. Estava nestes pensamentos e então percebi que a faca não era para mim, e que não havia Narnia nenhuma. Aquele tempo de espera foi o necessário para que fosse feita a autópsia do bolo, que depois me foi mostrado todo esventrado.
A conclusão a que a médica-legista de pastelaria chegou foi a de que o bolo tinha lá dentro um cabelo! Nunca tal me tinha passado pela cabeça, ou pelo menos aquele cabelo nunca passou.
Todos estes casos deixaram-me pouco à vontade e todos estes casos mostram como é cada vez mais porco o serviço que nos é prestado. Um serviço pelo qual pagamos e que é um serviço de conforto. Quando vou a um restaurante, ou a um café, vou porque não quero cozinhar, não quero lavar loiça, e se tiver sorte nem quero levar os talheres à boca, mas restaurantes em que me alimentem assim, ainda não encontrei. Mas quando pagas um serviço nestes sítios estás à espera que esteja tudo incluído, lavagem adequada da loiça, também. Se soubesse que isso era um extra, levava loiça de casa, que essa ao menos se estiver suja, sei que é porcaria minha.
É um facto que sou um tipo um bocado nojentinho. Comigo a higiene tem que ser um ponto forte, e prova disso é o meu banhinho que aos Sábados não pode falhar, mas após termos passado por uma altura em que tudo tinha que ser desinfecto e esterilizado, chegámos a uma altura em que se quiserem sentam um rabo suado no teu prato, e tu tens que comer e calar... Salvo seja.
Os anos 70 foram a época do amor livre, pois anteriormente houve uma grande repressão, e tudo parecia mal, agora, depois de tanto álcool e desinfectantes usados, chegámos à época do badalhoco livre... O amor livre deu em SIDA, este vai dar em hepatite.