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Recentemente tivemos a notícia de uma criança que, no jogo Famalicão — Benfica, foi obrigada a despir a camisola do clube que gosta, porque estava na bancada afecta à equipa da casa. Mais recentemente tivemos conhecimento de um adepto do FCP que, com a sua filha de 3 anos no colo, se viu obrigado a sair da bancada onde estava, também por se ter misturado com adeptos do Estoril.
Não sou das pessoas mais esclarecidas nem iluminadas deste Mundo, mas aquilo que me surge no pensamento é que, tanto o miúdo como o pai com a criança, que foram até chamados à atenção por uns quantos idiotas, que conseguem transformar o acto de assistir a uma partida de futebol na porcaria e no desconforto que hoje é, são quem está correcto e que tem no seu ideal aquilo que o futebol deveria ser. Um desporto colectivo, em que assistir, também em colectivo, deveria ser um prazer. Em que o assistir a uma partida de futebol seria um acto de festa e comemoração, podendo os adeptos dos diferentes clubes estar sentados lado a lado, podendo até ter discussões afáveis e salutares. Isto seria num Mundo ideal, e este ideal até nem é impossível de conseguir. Na Inglaterra, que sofria com casos graves de holiganismo, esta limpeza de maus adeptos foi feita. Basta haver vontade e transparência.
Não podemos menosprezar o trabalho das claques legalizadas, e até das ilegais. São de uma importância enorme. Não para o espectáculo do futebol, nem para o adepto comum que gosta de ver a bola, mas são importantíssimas para o comércio e tráfico de droga, importantíssimas como forma de camuflagem a bandidos da pior espécie, que vêem numa claque, e no próprio clube de futebol, a armadura necessária para não terem que responder perante a lei, e são, finalmente, também importantíssimas para alguns presidentes e dirigentes de clubes que têm nestas suas claques autênticos seguranças, capangas e até braços armados, que os protegem e que lhes fazem favores, quando é preciso ameaçar ou invadir negócios pessoais de árbitros, e até apedrejar carros de treinadores pouco eficientes.
Tudo o que atrás referi é parte daquilo que me afasta cada vez mais do futebol. Não gosto, nem nunca gostei de ir aos estádios. Infelizmente o meu filho não concorda com esta minha falta de gosto, e desde que ele nasceu já fui quase tantas vezes quantas as vezes que fui antes dele existir. Ainda por cima agora joga futebol, precisamente no Estoril, e é por isso que falo com conhecimento de causa. Os tipos que tiveram este tipo de atitude para com o adepto do FCP, são pessoas já com muita idade para terem juízo. É trampa em forma de gente, e que precisam daqueles 90 minutos, da partida do futebol, para poderem ter uma pálida sensação do que é ser gente, pensando, estupidamente, que ser gente é gritar, humilhar, fazer uma autêntica luta de território, num território que nem é seu, e ignorando que para se poder lutar por um território é necessário, mais do que ser macho, ser um líder, ser forte e acima de tudo saber respeitar o adversário.
Num remate final (fica sempre bem uma alusão ao desporto a que nos referimos) gostaria de dizer que a direcção do Estoril Praia já emitiu um comunicado com um pedido de desculpas ao pai e à menina, adeptos do FCP. Acho bem, uma vez que a casa é sua, e só lhes fica bem se responsabilizarem pelos macacos que permitem estar do lado de cá do gradeamento, junto dos adeptos a sério.
Ignoro se por parte do Famalicão já houve um pedido de desculpas à criança que teve que assistir ao jogo em tronco nu. Também não tinha ficado mal ao pai deste miúdo, ter aproveitado para lhe demonstrar o conceito de honra e de reclamação. Não assistiria ao jogo por uma questão de honra, já que o filho foi humilhado, e faria uma reclamação, a exigir o dinheiro dos bilhetes de volta. Mas isto é a minha opinião, que é a de alguém que entre um jogo de futebol e um filho, não hesitaria em qual escolher.