Feios, Porcos e Maus
Pacotinhos de Noção
Nos últimos 2 meses andei mais vezes de autocarro do que tinha andado em toda a minha vida.
Usar este transporte fez-me ficar com uma percepção da sociedade ainda mais desanimadora do que a que tinha anteriormente.
A falta de educação, e de noção das pessoas, atinge hoje níveis que julguei não ser possível. Testemunhei conversas de "senhoras" que fariam corar até o Fernando Rocha, mesmo após contar a sua anedota mais porca de sempre. Um tipo linguagem que nos faz imaginar que aquela pessoa terá uma família, talvez filhos, ou até netos, e se depois de tanta vida passada, não tem a capacidade de conceber que existem maneiras de falar em público, que se devem evitar, então não quero imaginar de que forma se comportarão as gerações da família, posteriores à dela.
Assisti a agressões físicas, a tentativas de agressões, a agressões verbais, a ameaças de agressão da parte de outros automobilistas, a acidentes causados, apenas e só, devido à estupidez com que actualmente se conduz.
Assisti a passageiros que não respeitam o motorista, e o seu trabalho, fazendo sinal, na paragem, para que o autocarro parasse, apenas para depois perguntar a que horas passa determinada carreira, que não aquela.
Testemunhei que, mesmo sendo 7:30 da manhã, existe pessoal que opta por utilizar o perfume "Eau de Sovac", empestando a brisa matutina, que se respirava dentro do veículo.
As pessoas estão porcas, diria até que estão javardas, e assim dá para compreender o porquê da pandemia se ter espalhado tão rapidamente, como aconteceu.
Referi-me a situações a que assisti nas minhas viagens de autocarro, mas o quotidiano está pejado de exemplos que mostram a podridão a que a sociedade está a chegar, e, quanto a mim, não mais de lá sairá. E não vai sair porque se sente confortável, é-lhe muito mais prático, e natural, ter comportamentos de idiota, do que saber controlar-se minimamente, nem que seja apenas para fingir que se é um ser até capacitado para comer de talheres... Esperem lá, mas que parvoíce a minha. "Um ser capacitado para comer de talheres". De repente passei a ser um tipo positivo, e nem reparei.
Como posso eu afirmar que são capacitados para comer de talheres quando, sem grandes esforços - pois basta visitar a área de restauração de qualquer centro comercial - para assistirmos à bizarrice que é ver algumas pessoas a comerem, até mesmo com as mãos. Se assim é, imaginem então o que seria se tivessem de utilizar artefactos tão esquisitos como um garfo, uma faca e uma colher.
Peço a quem me lê que seja sincero, e que diga se vê o mesmo que eu, ou é apenas implicância da minha parte. Vejo gente a enfiar comida na boca, que mais parece que estão naquele passatempo em que se tem que enfiar dezenas de pessoas num Mini. Outras que abrem a boca de tal forma que fazem lembrar uma anaconda, com a sua capacidade de desencaixar os maxilares, para assim engolir uma presa maior, e ainda há aqueles que se sentem tão à vontade no sítio em que estão, que se descalçam enquanto comem, e ainda dão o maravilhoso arroto no fim. Aproveitam e escarafuncham, também, ali a dentição toda, com o palito, na esperança de recuperar aquele pedaço de bife que ficou entre o molar e o canino.
Cuspir para o chão, e dar o mesmo destino a beatas e pastilhas, já era um acto asqueroso, mas o português consegue sempre superar-se, e agora gosta também de cortar as unhas em público. Falo no português porque é a realidade que tenho, e aquela a que assisto. Aqui o transporte era outro que não o autocarro, que trepida muito, o que prejudica a empreitada do corte da queratina. Lá estava o senhor, com o seu porta-chaves, que era um corta-unhas, e que lhe serviu, maravilhosamente, o propósito. Pois se tinha uma viagem para fazer, pois se tinha a unhaca comprida e um alicate ali mesmo à mão, não haveria de aproveitar? Pois está claro que devia. As unhas cortadas, essas, no chão é que estão bem, e alguém há-de limpar.
Sai na minha estação, com as unhas por cortar, mas ainda assim satisfeito por aquele asseado senhor, não se ter lembrado de que também tinha por fazer a sua depilação íntima. Das duas, uma. Ou não se lembrou, ou não tinha o porta-chaves apropriado para essa tarefa.