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Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

26
Jul23

Qual é o melhor dia para rezar, e sofrer enorme desgosto?


Pacotinhos de Noção

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É 31 de Julho, porque depois entra Agosto, e começam as Jornadas Mundiais da Juventude.

Acho imensa piada recordar que, até há uns meses a comunicação social despejava quantidades industriais de notícias acerca dos crimes de pedofilia na Igreja portuguesa, os portugueses estavam muito indignados e queriam fazer uma nova Inquisição, mas agora aos antigos inquisidores. Ia haver cabeças cortadas e padres imolados pelo fogo.

Houve declarações vergonhosas, houve posições de altas figuras do Estado que quiseram proteger a Igreja, ainda que não o admitissem, mas regra geral alguém da Igreja teria que pagar.

Ora, houve aqui um qualquer engano porque entre o "alguém da Igreja tem que pagar" até ao "alguém tem que pagar à Igreja" vai uma grande distância, mas foi uma distância percorrida do dia para a noite.

Vamos todos pagar as Jornadas Mundiais da Juventude, sejamos crentes ou não. Vamos pagar e não é pouco, mas isso interessa pouco porque esqueçam os Coldplay, a Taylor Swift ou o Quim Barreiros, porque quem sabe fazer espectáculos é o Papa. E atenção que o homem está a cair de podre, se estivesse em plena forma, e dançasse a Macarena, havia de vir muito mais gente.

Está tudo eufórico. Lisboa vai parar, a função pública vai fazer ponte, há obras a decorrer para o Papa pensar que vem a um lugar onde tudo funciona bem, e até a cidade está a ser "desbaratizada" e os sem abrigos a ser varridos para os esgotos.

As televisões salivam e as notícias acerca das jornadas jorram com mais jactância que a fonte da água do Luso. Há peças sobre onde vai o Papa sentar o rabo, como veio o Papa Móvel, onde dorme o Papa, que roupa vai usar, o que vai comer, de onde é a porcelana da sanita que vai usar.

A comunicação social passou dos 8 aos 80 porque, entretanto, esqueceram os crimes cometidos. As vítimas continuam a ser vítimas, os agressores continuam a ser padres e catequistas, alguns até vão participar nas JMJ, mas aquilo que agora interessa é se vão vestir roupa feita com o burel da Serra da Estrela. Até neste caso a hipocrisia é elevada ao máximo, pois foram entrevistar um pastor serrano que utiliza o burel (um tipo de lá das ovelhas da Serra) para se aquecer enquanto trabalha. Um ser que, mesmo trabalhando, vive em condições próximas do miserável, mas a reportagem não falava sequer neste facto, perguntavam-lhe apenas se estava orgulhoso pelo facto de o tecido ser o escolhido para as roupas do Papa e de todo o clero, que vai estar no altar-palco. Ao homem pouco lhe importava, não ganhou nada com isso. Quem vai ganhar é uma empresa, criada para o efeito, que inventa um nome tipicamente lusitano tipo "Buriel Factory", que compra o tecido ao preço da chuva, e que depois vende a preço de milhão, apenas porque fez uma estampagem foleira e barata, mas há-de a empresa ter sido constituída pelo familiar de algum autarca, ou outro género de político 

Resumindo, estamos todos muito contentes que vem cá o Papa. Esquecemos os problemas que diariamente nos afectam, mas isto nem sequer me deixa espantado. Somos o país de Fátima, Fado e Futebol, mas Fátima não serviu para receber o Papa, e por causa disso o Fado vai-se fazer sentir quando a factura tiver que ser paga, mas está tudo bem, porque depois recomeça o Futebol e entramos em letargia outra vez.

06
Fev23

Notícia de última hora


Pacotinhos de Noção

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Marcelo mete o nariz em tudo, e sobre tudo opina. Principalmente se o caso não for nada que diga respeito ao Presidente da República, mas que o faça popular junto dos votantes.

A última foi ter ido visitar os imigrantes agredidos por uns idiotas em Olhão.

Aquilo que devia fazer era pressão sobre o Ministério da Administração Interna, para haver mais policiamento, com vista a prevenir estas situações.

31
Ago22

Duas formas de ver estrelas


Pacotinhos de Noção

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Quase a terminar as férias, hoje decidimos fazer uma visita ao Planetário. 

Só lá tinha ido em miúdo, ainda na escola primária, a minha mulher nunca foi, e o nosso filho iria gostar de certeza.

Em relação ao preço dos bilhetes não achei escandaloso. 15 € chegaram para dois adultos e uma criança de 5 anos.

Escolhemos a sessão que melhor se adequava à idade e ficámos agradavelmente surpreendidos por perceber que o Planetário não é uma atracção esquecida pelas pessoas. Estava uma sala bastante agradável e até o conferencista mencionou o facto.

A sessão foi óptima, o meu filho gostou imenso e foram 40 minutos que passaram num instantinho.

Esta foi a parte positiva, e agora falemos da outra, mas que em nada tem que ver com o Planetário, ou quem nele trabalhe.

Tenho duas crianças, uma de 5 anos e outra de 1 ano e 10 meses. Obviamente, e como qualquer ser minimamente pensante, não me passou pela cabeça imaginar levar a mais pequena a uma sessão numa sala escura, onde se requer silêncio e  alguma atenção, pois a primeira coisa que me enervou um bocadinho foi, na fila da bilheteira, um idiota que reclamava por não permitirem a entrada da sua pequena de ano e meio. Não conseguia perceber o porquê desta situação, e estava até a sentir que estaria a ser prejudicado na sua condição de pai...

Acho não haver muito o que dizer aqui. Se aquela besta não percebe o porquê, parece-me sensata a atitude do senhor da bilheteira que lhe respondeu um seco "Pois é, mas não pode." E pronto, é ignorar e seguir.

Não sei se estão familiarizados com o edifício do Planetário de Lisboa. As bilheteiras são no R/C, e a sala de projecção é no primeiro andar. Antes da sessão as pessoas aguardam num pequeno átrio onde estão expostos o antigo projector do planetário, e um antigo e enorme telescópio. Estive a explicar ao meu filho o que aquilo era, fingindo-me de sábio e entendido, pois é só por esta altura que conseguimos iludir os nossos filhos, e ele, talvez interessado, ou apenas de simpatia extrema, parecia ouvir aquilo que lhe dizia. Bem, para dizer a verdade não sei bem se ouvia porque, a determinado momento, deixamos de estar em Belém e fomos teletransportados para Sete Rios, mais propriamente para a Aldeia dos Macacos, no Jardim Zoológico. É que os pequenos seres retardados que ali se encontravam em espera, decidiram usar, tanto o telescópio, como o projector, como ferramentas de equilibrismo, e começaram a trepar por eles acima. Isto entre guinchos e gritinhos que nos furavam os tímpanos como se a Sharon Stone nos estivesse a cravejar o picador de gelo no cérebro.

Esta tortura parou porque, entretanto, começamos a entrar na sala.

Como disse sou pai de duas crianças. Não são anjinhos, longe disso. Tem dias que me moem tanto a cabeça que até dá pena não fumar, só para ter a velha desculpa de que "vou comprar tabaco e talvez volte", mas o tipo de comportamento que têm em público, principalmente o mais velho, em nada tem a ver com a maneira como se comporta em casa. Na rua até parece uma criança educada, evoluída e respeitadora. Quem o vê, quer ficar com ele, e de facto entrámos na sala, ele cumprimentou o conferencista, sentou-se e ficou a falar connosco, os pais, tirando dúvidas, perguntando o que iríamos ver. Já os macaquinhos que estavam lá fora, entraram também, e as cadeiras do Planetário, as quais são quase como marquesas para nos deitarmos, passaram a ser trampolins para os meninos saltarem. Eram muitas Carlotas, Matildes, Salvadores e Vicentes. Curiosamente os Fábios e os Rubéns, estavam sentadinhos com os seus pais, todos com os "caps" de pala para trás, e com as suas t-shirts de cava, mas caladinhos e com um comportamento bem civilizado. Parece que aqui para os lados de Cascais, as regras da boa educação são apenas algo que fica bem em livros de etiqueta, na revista Hola! e quando a Madalena Abecasis manda que assim seja.

Perguntarão vocês, "onde raio estão os pais destas crianças?"

a progenitora, que incomodavam quem ali foi para passar um bom bocado, e que eles não o estavam a permitir. Fiz esse meu "schiuu" e ainda bem que o fiz, porque resultou exactamente da mesma forma como se não o tivesse feito...

É isso mesmo. Nem ligaram. Ninguém quer saber se incomoda ou não, e a  grande vontade com que fiquei foi a de levantar-me e começar a distribuir chapadões, e desta forma as estrelas que iríamos ver não seriam só as projectadas no tecto do Planetário. Só não o fiz porque tive em consideração as regras da civilidade, da boa educação e porque poderia haver um pai, ou até uma mãe, maior ou mais forte do que eu, e também eu poderia ficar a ver estrelas.