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Pacotinhos de Noção

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

A noção devia ser como o açúcar e vir em pacotinhos, para todos tomarmos um pouco...

Pacotinhos de Noção

15
Mar22

John Cid ou José Lennon?


Pacotinhos de Noção

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Só hoje tive conhecimento da confusão que o jornalista da CNN, Pedro Bello Moraes fez entre José Cid, Elton John e John Lennon.

Estou em crer que foi realmente uma brincadeira. Se correu bem? Não correu. O jornalista não pareceu engraçadinho, pareceu apenas confuso ou desinformado.

Confuso parece estar também o autor de Adieu, adieu, Auf Widersehen, Goodbye, John Lennon... Porra que me enganei! É o outro, o português falso, o José Cid.

Atenção, com a adjectivação de falso não me refiro à personalidade do senhor, que é do mais justo e correcto. Digo que é falso porque um tipo que tem um gato morto a fazer de cabelo, e um "guelas" a fazer de olho, 100% genuíno não é.

O cantor afirma que vai processar a CNN por esta confusão, e que se sentiu ofendido, desrespeitado e que até está traumatizado. Diz que os jornalistas da CNN enganaram-se e ao emendarem o erro riram-se.

Eu percebo o pequeno Cid. Está com 80 anos e diz-se que a velhice é uma segunda meninice. Quem nunca assistiu a um menino reclamar por ver que o outro se ria dele? No fim de contas nem estava nada, mas o menino mimado empancou com o outro...

José Cid está traumatizado, agredido e desde já avisa que desculpas não bastarão.

Se estivéssemos num país como os E.U.A, eu teria receio de deixá-lo sozinho, num qualquer quarto de hotel, todo depressivo. Provavelmente iríamos dar com ele morto, depois de uma overdose letal, mas como é o José Cid, e estamos em Portugal, se formos dar com ele nalgum lado, será numa qualquer tasca miserável, a mandar abaixo copos de 3.

No meu entender José Cid perdeu o norte. Quer montar um cavalinho de aproveitamento, sabe que a sociedade é cada vez mais "sensivelzinha" e cooperante para quem usa da vitimização e faz beicinho por "dá cá aquela palha".

Mas coloquemo-nos do lado do artista do capachinho, que de tão ofendido defende haver coisas com o qual não se devem brincar, sendo elas, e passo a citar, a sua criatividade, a sua autoria e a sua voz.

Curioso, este caso de se brincar com um assunto, e correr mal, e que me reporta a algo que se passou há uns anos, em que Nuno Markl convidou um artista bem conhecido, para um programa que tinha no Canal Q, sendo que esse mesmo artista afirmou que o pessoal de Trás-os-Montes vem em excursões a Lisboa, para ver o mar, e que seriam pessoas medonhas, feias e desdentadas.

Depois da asneira dita, este artista veio defender que tudo não passava de uma brincadeira, e que os transmontanos deveriam levar a vida com mais leveza e sentido de humor. Conselho sábio para se dar a José Cid, por alguém que foi vítima da ira, que ele agora aponta à CNN.

Queria lembrar-me do nome do artista que brincou com os transmontanos, mas não me consigo recordar. Era um tipo cheio de sentido de humor, e que como caracterização usa um gato morto na cabeça e um "guelas" a fazer de olho. 

11
Set21

Polémica do momento


Pacotinhos de Noção

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A nova polémica do momento é daquelas que causam nojo por ser apenas um aproveitamento do trabalho de alguém, para que assim se possam sobressair. Pegaram num pequeno trecho de um, e vou colocar em maiúsculas para que se perceba, PROGRAMA DE HUMOR do Canal Q, no caso são "As receitas do Chef Bernas", criação de, e com Miguel Lambertini. Quem conhece o programa sabe que a personagem do Chef Bernas é uma sátira ao de piorzinho que a sociedade tem. Racistas, homofóbicos, pedófilos... Aquilo que nunca chegou a satirizar foi a malta ridícula que gosta de fazer de tudo uma luta, apenas porque precisam sempre de arreganhar o dente a alguém, ou apenas porque não têm inteligência para perceber em que contexto é usada a comédia. Ao que parece o primeiro a divulgar o vídeo foi o MC Cabinda. Não sei quem é e desde já posso dizer que fiquei sem interesse nenhum em saber, porque um tipo que vive do seu trabalho de artista e mesmo assim não tem pudor em tentar queimar, ou cancelar, o trabalho de outro artista, mostra só que como pessoa vale muito próximo de zero. Quase que aposto que o MC não viu todo o programa, ou viu só o que lhe interessou. Se viu e mesmo assim conseguiu criar a fraca opinião que vomitou cá para fora então das duas uma, ou não sabe o que é comédia (boa ou má, não vem ao caso) ou então sabe mas preferiu ser de uma desonestidade intelectual desconcertante. Outro dos artistas que levantou a voz contra o programa foi C4 Pedro. A ver vamos se um dia mais tarde não faz um qualquer vídeoclip com mulheres de corpo descoberto e depois vêm centenas criticar a objectificação do corpo feminino. Às vezes acontece o crítico ser criticado e deixo até aqui um exemplo bem fresco. A situação que aconteceu depois do Rui Unas fazer a piada do zoom na Patrícia Mamona, enquadra-se na mesma estupidez que esta, tendo também como protagonista antagónica, outra artista que tentou queimar o colega, Rita Ferro Rodrigues. Este pessoal gosta de atirar a primeira pedra porque sabem que a geração que hoje domina as redes sociais é a Geração Z que não sendo a totalidade, tem uma grande percentagem de elementos que também gostam de fazer o seu tiro ao alvo, sem antes se informarem, contextualizarem ou darem o benefício da dúvida. Quase que garanto que se a geração dominante em Jerusalém, há 1988 anos, fosse a Z, Jesus não teria chegado sequer a ser crucificado, seria completamente apedrejado no caminho. Mas continuando nos artistas que usam outros para se promover. Se conseguirem fazer burburinho e ganhar seguidores junto desta malta, para eles é sempre óptimo. Lembrem-se que para gente famosa os ganhos vão sendo maiores consoante é também maior o seu número de seguidores, e para conseguirem ter um patrocínio da Prozis, vale tudo. Aquilo que gostaria de fazer ver a alguns artistas é que o feitiço também se pode virar contra o feiticeiro, e foi disso que me lembrei quando o Unas foi atacado. É que o antigo apresentador do Cabaret da Coxa, também percebeu que se for na onda desta geração, para quem tudo está mal se não for segundo os seus padrões, e começou então, também ele a ser crítico de situações que noutra altura não seria, ainda que de forma mais branda. Não quero mentir, mas julgo que ter sido numa visita do César Mourão ao Maluco Beleza, em que se abordou o tema do "black face". O Unas criticou e afirmou que, no seu modo de ver, sempre que exista uma personagem negra, deveria ser um artista negro a desempenha-la. O Mourão inseriu o contexto da comicidade e deu até o exemplo de que não havia ninguém que fizesse tão bem um Yannick Djaló engraçado quanto o Manuel Marques, e ainda que concordando o Unas afirmou de novo que para ele não deveria ser usado o "black face". Ao alavancar estas atitudes de tentar amordaçar tudo e todos, não imaginou que mais cedo ou mais tarde a fava lhe fosse calhar, mas calhou e outras mais lhe hão-de calhar, porque esta nova PIDE não está a cada esquina, mas está atrás de cada um dos computadores. Escusado será dizer que no Instagram do Miguel Lambertini os comentários tiveram que ser desactivados, e no das Receitas do Chef Bernas as ofensas correm soltas. E ainda por cima a maior parte delas proferidas por pessoas que se nota claramente que para serem gente a sério lhes falta ainda algum percurso, e não me refiro à idade.

22
Jun21

Sempre fui discriminado


Pacotinhos de Noção

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Desde bebé se percebeu que eu era diferente das outras crianças.

Os meus pais não fizeram caso, ou fingiram que não perceberam, se bem que me recordo de existirem alturas em que o meu pai me tentou mudar. Tentou-me fazer ir contra a minha natureza e como quem não quer a coisa, deixava escapar que ao ser assim diferente os outros meninos na escola podiam achar estranho e gozar comigo.

Noutros tempos sei que seria visto com muitos maus olhos e poderiam até bater-me, só para me "emendar". Felizmente nasci numa altura um pouco mais avançada mas em que ainda havia resquícios deste tipo de preconceitos.

Na 1a classe não tinha mais ninguém como eu. É verdade que os outros meninos quase não ligavam, mas havia sempre um ou outro que comentava e às vezes havia quem não se quisesse sentar ao meu lado porque quando os nossos braços chocavam, sentiam-se incomodados. Eu lamentava, mas a culpa não era minha. Eu sou assim.

As professoras tentaram fazer-me mudar mas a minha essência foi mais forte.

Na preparatória encontrei um coleguinha como eu. Ficámos amigos mas quase nem nos dávamos conta de que éramos diferentes dos outros e para nós até nem éramos, porque a nossa realidade era aquela e tínhamo-nos adaptado e aprendido a viver com ela.

Hoje sou adulto e embora a sociedade se tenha adaptado um pouco melhor a pessoas como eu, a realidade é que continuamos a ser colocados um pouco de parte.

A minha condição não me permite fazer tudo da mesma forma que os outros fazem mas não é por isso que deixo de o fazer. Algumas faço até de melhor maneira dos que os considerados "normais".

Penso que eu, e outros como eu, não são defendidos da mesma forma que outros nichos da sociedade e sinto-me até ofendido quando afirmam que sou assim porque o meu cérebro trabalha de forma diferente.

Depois há aquela descriminação positiva em que dizem que por ser como sou tenho um lado mais artístico ou criativo.

No final das contas servem estas palavras apenas para vos demonstrar que, dependendo da maneira como se escreve e consoante o grau de vitimização que se pratica, algo como se ser apenas canhoto pode ser encarado com uma gravidade que não existe.

Há coisas graves, com certeza, mas nos dias de hoje aquilo que mais conta é conseguirmos fazer-nos de coitadinhos e oprimidos pela sociedade.

Um aperto de mão a todos os canhotos, dextros e ambidextros.

 

27
Mai21

Em alto e bom som, para toda gente ouvir


Pacotinhos de Noção

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Situação passada hoje, no comboio.

Uma senhora fala ao telemóvel em alta-voz. Uma outra senhora, mais velha, pergunta-lhe se pode antes falar em modo normal, porque a incomoda ter que ouvir conversas pessoais.

A senhora pede desculpa, desliga o alta-voz e segue conversa.

Duas paragens mais à frente entram uma senhora africana, com a filha e curiosamente também a falar em alta-voz. Vai sentar-se precisamente junto da senhora mais velha.

Depois de alguns minutos, e vendo que a conversa não ia terminar tão depressa, a senhora mais velha faz o pedido que também tinha feito à outra. A senhora, que está com a filha, dando-lhe assim o exemplo correcto de como agir nestas situações, responde: "Quem está mal muda-se. Não estou a incomodar ninguém e a senhora nem ouve a minha conversa."

A senhora mais velha respondeu que já estava naquele lugar, que se sente incomodada por ter que estar a ouvir conversas privadas, que mesmo sem querer está a ouvir a conversa, tal como toda a carruagem, e que até sabe que a chamada é para a neta poder falar com a avó, e que tem que se ter consciência de não usar desta forma o alta-voz, pois se naquela carruagem todos o fizessem, ninguém conseguiria falar.

A resposta da mãe foi a mais simples de todas. Disse: "Só me está a dizer isso porque sou preta. É racista."

Eu ficaria desarmado com este murro no estômago, mas a senhora mais velha, com todo o seu sangue frio e espírito acutilante, respondeu: "Antes da senhora entrar fiz o mesmo pedido a outra menina, sem lhe ter olhado à cor da pele. E deixe-me que lhe diga que a educação não tem cor, e era isso que devia transmitir à sua filha".

O que é verdade é que a mãe há-de ter tido alguma vergonha, porque acabou por desligar o alta-voz.

Em relação ao esgrimir do argumento do racismo nem me vou pronunciar.

A senhora foi só parva e já aqui tinha referido que vai chegar a altura em que tudo acabará por ser como a história do Pedro e do Lobo. Com tanta vitimização despropositada, vai chegar uma altura em que as pessoas vão deixar de acreditar. E não estou a falar só de questões raciais. Quando há uma denúncia há que se investigar e punir o agressor quando é verdade, mas julgo que também se deve punir o denunciante quando se descobre que é mentira.

Esta questão da alta-voz, das colunas de som, do não se querer saber se estamos ou não a incomodar o próximo é mais um reflexo da falta de educação, noção e senso comum? Será que estamos todos a ficar parvos e já não conseguimos perceber que supostamente é bom "pensar fora da caixa" mas também é bom que cada um se mantenha "dentro do seu quadrado" e que tente não invadir o espaço dos outros. Mesmo em restaurantes é incómodo querer fazer uma refeição e nas mesas do lado ter grupos de pessoas que não se sabem comportar em público, proferindo asneiras em alto e bom som e rindo ou gritando, apenas porque estão muito contentes ou são muito sociais.

Parece-me uma batalha perdida porque na verdade tudo é uma questão de educação e a educação não aparece por osmose. Tem que haver um trabalho de pais, família, sistema de ensino e até da sociedade para que se evitem estas situações e até outras como a da Jéssica do Seixal, cujas agressões fizeram um rapaz correr para a frente de um carro, sendo atropelado e não morrendo por um triz.

A senhora do comboio de hoje, aquela que tinha mais idade, fez a parte dela e eu invejei não ter a capacidade que ela demonstrou de exigir que quem partilha um espaço público comigo me saiba respeitar como eu os respeito a eles.

15
Mar21

Coitadinhos dos coitadinhos


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Erradamente quase a generalidade dos portugueses têm por hábito dizer que "saudade" é uma palavra que existe apenas no nosso idioma. É um erro compreensível se imaginarmos que quem tenha dito isto da primeira vez o tenha dito figurativamente, no sentido de que o português é um povo tão melancólico e saudosista que nas outras partes do Mundo a saudade não é igual à nossa e, como tal, esta saudade só existe em português. E é isto que me leva ao que quero escrever hoje. Porque o facto de acharmos que sofremos como ninguém reporta-me à palavra "coitadinho", e essa existirá certamente em quase todas as línguas do Mundo, mas aposto que em nenhum deles é tão utilizada como em Portugal. E é usada com tal mestria que o português tornou até possível usá-la em coisas consideradas positivas, senão reparem no cenário. Uma mãe com o seu filhote no parque. O garoto cheio de energia e com cores saudáveis, brinca alegremente. Alguém se aproxima da mãe e tece elogios ao petiz e no fim acaba com um "coitadinho que é tão querido, ou fofinho, ou bonitinho". E se quiserem em vez de uma criança podem colocar um animalzinho de estimação... Dá para tudo.

Depois há o "coitadinho" que é dito de forma ameaçadora. Aquele "coitadinho, tu nem sabes o que te espera" ou o outro "coitadinho" que se refere ao desprezo por algo ou por alguém. "Aquele malandro? Aquilo é um coitado que ali anda..."

O "coitadinho" é muito versátil e isto só é possível num povo que sente tanta pena de si próprio, e é por isso que o coitadinho preferido é mesmo aquele mais simplista, aquele que mostra que quem é coitadinho é mais desgraçado que qualquer um, e este "coitadinho" é quase sempre de uso próprio.

"Coitado do Almiro que foi despedido... Não, não, coitado é de mim, que ele agora vai ficar a receber subsídio e eu vou continuar a trabalhar e é dos meus descontos que sai o subsídio dele."

"Coitada da D.Eugénia, ainda ontem estava viva e agora já se foi... Não senhor, coitado é de mim, que ela já lá vai e não sofre mais e eu ando aqui que não me aguento das costas."

Se bem se lembram no primeiro Big Brother quem saiu vitorioso foi um coitadinho, no futebol os grandes são os bandidos tubarões, mas quando se descobre um clube mais pequeno com coisas menos lícitas, é porque "coitadinhos, são pequeninos, têm que se safar de alguma forma."

O "coitadinho" serve de álibi e de desculpa para um número infindável de coisas. Coisas essas que não vou escrever porque coitadinhos de vocês, que estão a ler, mas mais coitadinho sou eu que já tenho aqui os dedos que não aguento, de tanto escrever.